Escolha

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- Eu já disse que odeio sua casa? - A garota perguntou, voltando os olhos para Logan, fazendo ele se virar para mim.
- Não - Negou - Primeira vez, me sinto emocionado - Respondeu, em sarcasmo, fazendo cara de tédio.
Suspirou, olhando pela janela, que dava diretamente a visão da casa de Alyce. Todos pareciam dormir, ou talvez, não tivesse ninguém ali.
Balançou a cabeça, se virando para a cama dele, indo até a mesma, se sentando na beirada, sendo seguida pelos olhos dele.
- Você vai fazer o que? - Perguntou. Sam ergueu um ombro, fitando o chão.
- Era isso que eu estava me perguntando. - Sussurrou em resposta, abaixando a cabeça, apoiando a mesma na mão. Logan deu um pequeno sorriso, indo para seu lado, se sentando ali.
- Eu sempre me perguntei como você conseguia ser assim. - Falou, vagamente, olhando para o chão, atraindo a atenção da garota sobre ele.
- Assim... Como? - Devolveu, franzindo o cenho. Ele sorriu de leve, balançando a cabeça.
- Você perdeu seus pais, Sam. E nem por isso... Fica tentando se esconder de tudo. - Disse, brincando a mão no próprio joelho.
- Logan... É exatamente o que eu faço - Balbuciou, soltando um breve sorriso.
Se voltou para ela.
- Não parece - Negou, a olhando - Você apenas parece uma menina assustada, que só quer que as coisas sejam normais. Mas você não é normal, o que te torna ainda mais confusa. - Ela parou durante alguns segundos, pensando.
- ... Também - Cruzou os braços, pensativa. - Se eu... Fosse dizer o que eu seguro dentro de mim... Não... Conseguiria terminar isso com o mesmo sorriso fingido que mostro todos os dias. - Engoliu em seco, desviando os  olhos dos dele.
O mesmo a fitou, tentando entender.
- Eu tenho apenas uma mãe doente. - Falou, a olhando - E já me considero a pessoa mais azarada que existe. - Juntou as mãos - Você é órfã, e não reclama nada.
- Para vocês, não - Sussurrou de volta, encolhida em si mesma.
Ele achou melhor parar de precionar. Na verdade, não sabia por que fazia aquilo. Mas estava curioso, desde que a conheceu. Como ela conseguia parecer tão... Calma com tudo que aguentou?
- Eu... Tenho uma briga constante comigo mesma - Deu um sorriso triste, sem o rapaz insistir, deixando ela falar. - Quando perdi meus pais... Eu não sabia que iria ser tão... Cruel a ponto de... Não me fazer sentir nada por fora. Mas eu sabia que parte minha, tinha seguido eles. Eu estava morta por dentro, e não tinha nada para mostrar para os outros à não ser a mesma cara morta de sempre. - Olhou para os pés - Na época, eu tinha brigado com meu pai, porque ele não tinha conseguido me levar na casa de uma amiga que eu não via a muito tempo. Bobagem, hoje eu vejo, idiotice brigar por aquilo. - Seus olhos já marejavam - Ele tinha feito de tudo para conseguir, mas no fim, não pode sair do trabalho para me levar. Passou o horário, e minha amiga gói embora. Eu briguei com ele, falei coisas que não devia, e ele não disse nada. Ficou apenas ouvindo. E no fim... Me olhou, pediu desculpas, e disse que da próxima vez, tentaria sair mais rápido do trabalho dele. - As lágrimas já deslizavam sobre a bochecha da mesma - Bem... Sua calma me irritou mais ainda. Minha mãe, como sempre, não falou nada. Ela sabia que iriamos nos resolver rápido. Isso foi um dia antes do acidente acontecer. - Suspirou, tentando parar as lágrimas - Quando eu voltei da escola, e vi cinzas no lugar da minha casa... Eu... Pedi, pedi com a pouca sanidade que eu tinha na hora, para que meu pai tivesse se atrasado de novo - Soluçou alto - Mas ele tinha feito o que eu pedi - Escondeu o rosto nas mãos - Ele tinha voltado mais cedo, para me encontrar quando eu chegasse. E ai, seria um jantar em família, onde nós iriamos contar como foi nosso dia, e iriamos fazer as pazes totalmente. - Fechou os olhos - Mas não deu tempo. Na época, eu não demonstrei nada sobre isso. Foi um golpe tão duro, que de primeira, não doeu. Só depois que eu pareci me concientizar. - Logan ouvia do seu lado, olhando para o chão, de cabeça baixa, em respeito ao que ela contava.
- Eu já não ligava para amigas ou para as coisas que eu tinha antes. - Vacilou em um sorriso fraco - Eu simplesmente deixei tudo acontecer, enquanto eu ficava olhando para o nada. E então... Eu perdi tudo que nem cheguei a ganhar. - Balançou a cabeça.
E a garota nem sabia que tinha um irmão.
Suspirou, acabando com as lágrimas, como se sentisse horrível por deixar as mesmas saírem.
Ele finalmente ergueu a cabeça, franzindo os lábios, passando um braço pelo ombro dela e a puxando fracamente para si.
- Vamos, tudo bem - A abraçou aos poucos, embalando a garota nos braços.
Se deixou ficar, olhando para o nada, com a expressão vazia, mas correspondendo o abraço dele com os segundos, escondendo o rosto em seu peito vagarosamente.
- Eu sei que isso não vai mudar o que aconteceu - Logan se referiu ao abraço - Mas é que eu quero fazer isso desde muito tempo - Sorriu um pouco, fazendo ela abrir um meio sorriso, balançando a cabeça, fechando os olhos de leve.
Ele queria poder dizer, que ia melhorar. Mas a verdade é que ele nem sabia se ia terminar. Não tinha nada para a reconfortar, por mais que quisesse. Estava preso a uma garota, Carol. E não podia a deixar, por coisas do passado. Mas ele gostava da Sam, embora nunca tivesse falado. Se pelo menos... Ele a tivesse à conhecido antes...
**
Lucy olhava para Taylor do lado do menino Pianista. Havia três fantasmas naquele sótão.
- Você sente falta da Agatha? - Ele perguntou, empoleirado em cima de uma caixa cheia de pó, olhando Taylor, vestida com um vestido azul escuro, mas que deixava a parede transparecer de leve.
- Sinto - Falou, olhando para o teto. - Mas não pude fazer nada, minha hora já tinha chegado. - Murmurou.
Pianista ergueu os olhos para Lucy, depois brincou com as próprias mãos.
- É engraçado, todos nós morremos e deixamos alguém querido para trás. Algo que já acabou, mas que não... Nos deixa seguir em frente - Taylor continuou.

 A muda bateu os pés no chão, com um suspiro sendo arrancado. Júnior nunca entendeu o por que de ela ter morrido enforcada, não por falar, mas continua a respirar. 

 - Eu acho engraçado as coisas que acontecem aqui - O menino murmurou de jeito monótono. O fato de ter estado nas mãos de uma assassina antes de morrer, não parecia o incomodar. A verdade é que ele talvez tenha tido a morte mais brutal para uma criança. 

 Franziu os lábios, se pondo de pé, e indo até a pequena e escura janela do sótão. Estava embaçada pela sujeira, mas mesmo assim, se era possível ver o parque escuro lá em baixo. A balança velha e enferrujada, ia pra frente e para trás, mesmo que não fosse uma noite de muito vento. 

 Não era apenas o vento. Nunca era apenas imaginação. O terror sempre dança na sua cara, você que quer ser adulto de mais para perceber isso. 

 Brincou os dedos no parapeito sujo de pó da janela, como se estivesse testando as teclas de um piano. 

 - Você sabe onde sua irmã está agora - A voz de Taylor se fez ouvir - E sabe o que tem nessa escola, lá fora. Também sabe muito bem o que vai acontecer hoje, nesse baile - Deu um pequeno sorriso - Você pode escolher ficar ou ir embora, Pianista. O que prefere? 

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora