Saber de tudo

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 Um menino com um jaleco preto, os cabelos negros como a pura madrugada, os olhos do céu em tempestade, a cor da pele ácida e branca, que constatava com o preto do jaleco. Jaleco. De Pianista. Uma das mãos brancas, apontavam para cima, onde havia aquele quadro. 

 Senti um calafrio ao pensar naquilo, e sai para encontrar Arya, tentando esquecer do que eu havia visto. 

 Mas... Era praticamente impossível! Aquele menino... Eu não consegui ver bem sua feição, mas parecia tão familiar. 

 Dei de ombros, encontrando Arya na porta da escola.

 ***

 O mal de dormir em frente a um relógio, é que você, a cada minuto que abre os olhos, percebe que não consegue dormir de jeito nenhum. Arya ressonava baixinho no colchão. Eu, não cerrava os olhos. Algo me incomodava. Uma sensação de... desconforto, uma sensação de ter alguém na espreita, entre as barras da escada, me observando.

 Senti um calafrio na espinha, e, procurando não olhar para a escada, me virei para o teto. Tentei fechar os olhos. Até que eu pensei ter ficado um bom tempo de olhos fechados, mas quando os abri, e olhei para o relógio, eram uma e nove da manhã. Bufei, e me virei de bruços no sofá, roçando a mão no livro que Arya lia, e que deixava ali largado no chão toda a noite. Me forcei a cerrar os olhos, e fiquei com a respiração batendo no braço do sofá. Ouvi a garota no colchão se agitar. Talvez estava tendo um pesadelo.

 Abri um olho, e sem me segurar, os ergui para o maldito relógio. Uma e dez.

 Frustrada, me virei para o outro lado, com vontade de bater em alguém. Trinquei os olhos, sem sentir um pingo de sono, e permaneci algum momento assim.

 Reabri os olhos, e fiz uma careta. Não, era impossível dormir. Automaticamente, me virei para o lado, sem olhar o relógio. Mas, sem querer, pousei o olhar no vidro da portinha da estante, que refletia os números laranjas em neon das horas. Uma e onze.

 Quando soltando um grito de irritação, me virei bruscamente para o fio do objeto, o arrancando da tomada, fazendo ele parar seu trabalho e apagar. Mais tranquila, me espremi no sofá, cobrindo minha cabeça com a coberta quente e felpuda.

 ¨Narrador¨

 A garota, em suas divagações com o passar das horas lentamente, não percebeu um sorriso irônico e maldoso do outro lado da sala. Tirando um objeto do chão, que mais parecia um machado, a figura negra se voltou para a porta do banheiro, entrando e causando um rangido estalado na mesma, fazendo a menina se remexer no sofá, inquieta. Não, aquela não seria uma boa noite de sono.

 ¨Sam¨

 Quando eu consegui dormir, faltava três minutos para as oito da manhã, segundo o relógio da parede, que, apesar de fazer seu irritante "tec, tec"não era visível no escuro.

 Arya acordou pulando do colchão. Sua pele pálida, denunciava que havia tido um pesadelo. Desisti de tentar fechar os olhos, e perguntei em uma voz áspera:

 - O que foi? - Ela respirou fundo, e passou a mão pela testa, depois nos cabelos cinzas.

 - Nada eu... - Engoliu sem seco, e puxou a coberta jogada no outro lado do colchão - Tive apenas um pesadelo - Respondeu vagamente - Sonhei com números e demônios - Ela fez uma careta. Eu tentei segurar o riso. Poxa, pensei que fosse alguma coisa séria.

 - Prova de matemática, é isso? - Perguntei entre um sorriso, que se desmanchou assim que olhei para a cara séria dela, que dizia que ela não estava brincando.

 - Não, não é brincadeira, Sam. 7734. Sonhei que um rapaz me mostrava esses números. E ele não era um cara normal. Ele... Era alto, parecia um adolescente. Tinha um corte na cabeça. Sério, você não está entendendo, era um corte, muito, muito fundo! E ele carregava um... um machado, e mostrava esses números, dizendo: "Consegue decifrar"? - Sam, por favor, não brinque com isso, foi horrível.

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora