E se...?

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  Quando eu finalmente fugi da escola, estava escurecendo com o fim da tarde chegando cada vez mais rápido.

 Sem falar muito bem com as pessoas, sai sem me despedir, e sem acompanhar ninguém. Deixei as garotas irem sozinhas, Logan aparenas se despediu delas e seguiu para a casa. A casa maldita do lado da de Alyce e Jack, que eu nunca ousarei pisar mais na minha vida.

 Eu não aguentava mais tantas coisas acontecendo tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Quando uma coisa acabava, logo começava outra, parecia que tudo lutava para não me deixar em paz.

 "É, fica difícil você ter paz, quando o mal simplesmente luta contra a paz"

 Uma voz grossa e grave irrompeu meus pensamentos. Parei, estarrecida diante da calçada cinzenta e suja em que me encontrava, e olhei para os lados. Não havia nada. Simplesmente ninguém havia dito aquilo. Então... Então porque eu ouvi, se ninguém disse?

 Franzi a testa, bufando. De novo. Outra coisa maluca que acontecia, pela segunda vez, em um mesmo dia. E mil vezes pela semana.

 Recomecei a andar, a alça da bolsa escapando de meu ombro, chegando ao meu cotovelo. Com uma careta, a levantei de novo. Ergui os olhos para onde eu estava. As vezes, andar por ai, no fim da tarde, adianta muita coisa. Sentir o que a natureza ainda tem de doce, como seu vento e o cheiro das flores e folhas que soltavam com o passar da brisa quente.

 Mas parei de notar essas coisas, ao perceber que eu estava em frente aquele presidio que a Kate disse que eu não deveria entrar. Engoli em seco e olhei para os lados, sabendo que a nuvenzinha rabugenta, poderia estar me vigiando.

 Afastei os pensamentos de querer entrar ali e dei meia volta, dando de cara com a igreja velha e descascada, no outro lado da rua. Sua parede rachada e pendida um pouco para frente, desbotava em um claro cor de pele, que tinha como intensão, deixar a paz. Mas... Infelizmente, não era isso que conseguia transmitir.

 Ok, havia a igreja, e, sentados na frente dela, um gupo de homens zoeiros e também um tanto conhecidos...

 Gelei. Eram os capangas antigos de Logan. Com certeza, aquele imbecil de olho azul, falou de mim para eles, e não foi coisa boa... Bem, não era realmente ele ali, mas...

 Ergui uma sobrancelha, relutante, quando vi um dos caras apontando para mim, e dizendo algo que eu não entendi, talvez por ser em inglês, ou por eu estar longe deles. Ou talvez pelos dois motivos. Afastei um passo, sentindo a parede preta do presidio prensar meu calcanhar para frente, e recuei de novo. ótimo, eu estava entre uma igreja que um padre se suicídou, um presídio, e caras que gostavam de brincar com quem estava assustado.

 Lindo. Nessas horas, eu lembrava de Arya, que naquelas circunstâncias, apenas iria mandar o mundo se foder e sentar do lado daqueles caras, desajeitadamente, e começando a zoar mais que eles mesmo.

 Um cara levantou, seguido de outro. Praguejei. Agora todos caminhavam em minha direção. Ok, o que eu faço? O que eu faço, saio correndo?! Vão correr atrás de mim... Entro no presidio? Quando a gente precisa de um fantasma em sua cola, ele não aparece, quando a gente está prestes a contratar um caça fantasmas, ele te enche o saco até não querer mais.

 Pensando nisso, não percebi que eu apenas esperava aqueles malucos chegarem mais perto e mais perto, sem fazer absolutamente nada. Umedeci os lábios, vendo o mais alto e careca, chegar rindo e me olhando de cima a baixo. Começaram a falar em inglês. Um apontava para mim, e dizia, rindo, palavras que eu conseguia captar de relance, como "baixinha", e "tonta". Legal para quem eu acabo de ver.

 Ouvi também o nome do Logan. Controlei meu impulso de sair de lá correndo. Que ódio, sempre acontecia essas pragas comigo!

 Senti a mão do cara menor puxar meu pulso e fazer eu me aproximar dele, mas recuei automaticamente, assustada, e outro começou a resmungar, vindo para minha direção, chegando a milímetros de mim. Com os olhos arregalados, vi um dos caras agarrar a chave que eu trazia prendida pelo chaveiro, na borda da minha calça jeans, no lugar onde o cinto teria que passar. O rapaz que pegou a chave, a examinou. Por mim, poderia até comer a chave, mas pelo amor de Deus, que me desse a minúscula foto de meus pais abraçados e sorridentes. A única que eu tinha deles, e que me matei para conseguir encaixar ali.

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora