Tentei não ligar para minhas mãos que tremiam quase que violentamente, fazendo alguns Cd's cairem no chão, com um baque metálico no chão. Praguejei um pouco, olhando cegamente para os lados, tateando com o pé para tentar achar onde caiu.
Me agachei no breu, livrando uma mão e a levando para o chão de terra batida. Meus dedos tocaram em pó, sujeira, papel e algo frio, muito frio para ser os bjetos que cairam. Desviei a mão rapidamente, mas a coisa gelada e fria pareceu agarrar meus dedos novamente, e me puxar mais para baixo. Arregalei os olhos, berrando, e balancei freneticamente a mão, deixando cair os outros Cd's, me debatendo no ar, tentando me livrar do que me segurava, esbarrando em coisas que não sabia que tinha ali, derrubando algo que pareceu ser uma vassoura e enfiando meu pé em algo que pareceu ser um balde. Gritei mais uma vez, até conseguir me levantar, ralando meus braços na parede de terra rigída. A coisa me largou.
Parei, perplexa, olhando para o nada. A respiração acelerada, tentava ficar parada no canto onde eu estava para talvez, quem sabe, enganar a praga que tentava me matar ali. Não era possivel que aquele lar de rato não tinha uma lâmpada. Por favor.
Tateei a mão pela parede levemente. Nada. Bufei baixinho, tentando fazer meus olhos se acostumarem com o escuro. Droga, os Cd's estavam todos largados no chão, talvez algum quebrado. Com a minha sorte, todos poderiam estar quebrados. Revirei os olhos, frustrada, e arrastei os pés pelo chão, andando levemente para frente, sentindo minha cabeça bater em algo fino, como se tivesse uma bolinha de gude presa por uma corda no meio do local. Raciocinei rapidamente, erguendo a mão e puxando a bolinha. Não aconteceu nada de imediato, mas depois um som elétrico e ao mesmo tempo pesado se fez ouvir, e por um momento assustador, pensei que algo fosse explodir. Trinquei os dentes, e cerrei os olhos. Mas nada aconteceu. Abri um dos olhos, olhando ao redor. Uma luz amarela e fraca, piscando um pouco, deu as caras. Minha mão estava fechada sobre uma pequena bola preta, e um fio marrom e sujo se estendia. Segui o objeto, vendo que estava preso no teto. Suspirei, mais alíviada. Bem, tinha achado como ligar a luz. Podia não ser tão forte ou podia não adiantar muita coisa, mas dava uma meia-luz no local apagado.
Girei os olhos, vendo os Cd's espalhados, duas vassouras jogadas no chão, e um balde azul escuro enfiado no meu pé. Um pano de chão cinzento estava pendurado do lado das três escadas sujas e fracas que levavam para o... Sótão. Ah... Por um momento, tinha esquecido que eu estava prestes a morrer, se não ali, lá em cima.
Recolhi os Cd's. Um rachado. Maravilha.
Examinei meus braços com arranhões, algumas goticolas de sangue saindo. Dei de ombros e caçei a chavinha de madeira, a enfiando no bolso e tirando um pouco de pó da minha calça, depois de livrar meu pé do balde. Reclamei baixinho, me virando para a porta. A lâmpada falhando de segundo em segundo, me dava a impressão de estar piscando freneticamente.
Olhei para o chão, em uma decisão, como se me perguntasse se entrava ou não ali.
Assenti vagamente, pisando na escada, que reclamou um pouco, mas aceitou meu peso. Seguro com umas das mãos na parede, logo a levando para a maçaneta, experimentando a abrir. Ela cedeu com um rangido alto e longo, como se a muitos anos ninguém entrasse ali.
Fui novamente pega por uma onda abafada de pó e mofo, automaticamente me fazendo soltar um pequeno espirro. Bufei levemente, olhando para os lados. Uma meia luz entrava da janela do sótão, iluminando o chão, e a poeira que corria pelo lugar. Havia caixas amontoadas em tudo quanto era jeito. Eu nunca tinha visto um lugar tão estranho na minha vida.
Entrei completamente, balançando a mão em frente ao rosto, espantando a poeira. As paredes escuras e descascadas, uma vidraça quebrada, o telhado de madeira um tanto furado, de modo que o chão ali ficasse úmido pela chuva que entrava pelo telhado.
Trinquei os dentes levemente, vendo um corvo pousado no alto do lugar, olhando para o nada. Não parecia surpreso em ver alguém ali.
Dei de ombros, deixando os Cd's em cima das caixas, olhando para os lados, um tanto desconfortável. Ali era frio... E quente ao mesmo tempo. Era assustador e convidativo, bonito e feio, tudo misturado.
Como se uma pessoa de dupla personalidade morasse ali.
Apoiei nas caixas, examinando o lugar. Bem, não era exatamente um local de terror. Uma meia luz fraca entrava pela pequena janela, os quatro cantos da sala tinham teia de aranha, enroscados em pó e objetos velhos. Algumas cadeiras de sala se aula que estavam quebradas, foram levadas para aquele lugar, igualmente mesas. Mas dava para ver que eram antigas. Alguns desenhos de alunos passados eram postos nas paredes, tanto do pré, quanto das outras séries e do ensino médio.
Dei de ombros, e ia me voltar para o Cd, quando me deparei com um quadro.
Franzi o cenho. Mas... Naquele quadro era eu!
Abri a boca minimamente, dando alguns passos na sua direção. Era eu. Uma foto recente, meu rosto com um sorriso fraco, mas os olhos tristes.
Olhei pelo lugar. O que uma foto minha estava fazendo ali?!
Ia me virar novamente para a fotografia, mas ouvi os barulhos dos Cd's caindo. Me virei instantâneamente para os objetos, no chão, e um vulto sumindo rapidamente. Engoli um grito de susto e surpresa, me encolhendo e olhando ao redor.
Voltei com a atenção para o chão, ainda encolhida.
Minha vontade era de deixar os Cd's jogados ali e me picar daquele lugar, mas optei por ouvir meu cérebro e pensar de um jeito cético.
Não havia ninguém ali. Fantasmas não existem.
Ok, mas era impossível acreditar nisso, eu tinha a prova viva que fantasmas existiam.
Andei pé ante pé até os Cd's, os pegando com as mãos trêmulas e os juntando em cima da caixa de novo.
"No meu tempo isso não existia."
Eu ouvi claramente. Gelei, quase caindo caindo para trás. Era a voz de um... Garotinho? Sim, um garotinho. Calmo e inocente. Me lembrava paz e felicidade.
Me tranquilizou um pouco, mas ainda assim, a ideia de estar novamente com um fantasma, me assustava.
Me virei para trás, mais tranqüila. A visão que tive foi de um menininho sentado em cima de uma das caixas sujas de pó. Ele se vestia com um tipo se smoking para bebês, mas que caia perfeitamente nele, o deixando com um ar fofinho.
Abri um meio sorriso na hora. Era impossível ver aquela criancinha, sem sentir vontade de sorrir.
Pianista.
Eu não sabia realmente. Mas só podia ser ele. O único que me dava medo e confiança ao mesmo tempo. O único que dava felicidade e tristeza, amor e ódio, como uma pessoa de... Dupla personalidade.
- Você - Consegui dizer, olhando para ele. Seus cabelos eram extremante negros, a pele quase se misturava com a parede, e estava só com uma meia cinza, como se estivesse vestido para dormir, se não fosse o smoking.
"Não vinha ninguém aqui." - Ele disse na minha cabeça.
- Eu sei - Falei, relutante - Mas... Eu vim - Sorri nervosamente - Você... Você me conhece? - Perguntei. O garotinho assentiu lentamente com a cabeça, os olhos de mármore me fixando atentamente. Pareciam saber o que eu pensava, saber o que ia dentro de mim, o que me fez retrair meu corpo suavemente para o lado.
"Conheço. Conheço você muito antes de muita gente conhecer" - Sua voz saiu como uma melodia de piano, misturava com a fraqueza da voz de uma criança.
- Como?
"Se eu dissesse agora, seus problemas estariam resolvidos em um piscar de olhos para você. Mas não para os outros. Então vou fingir que não sei. Ainda porque o demônio vigia os meus passos, e seria pior para você se soubesse". - Ele falava com tanta maturidade... Mas ainda com a alma de um menininho. Percebi o que queriam dizer. Ele podia ter a forma de uma criança, mas evoluiu junto com os anos. Hoje em dia, ele deveria ter uns vinte anos.
- Porque você fica aqui? Porque não sai? - As perguntas vinham desembaralhadas na minha cabeça e eu esquecia de perguntar o que eu realmente queria.
O fantasma saiu de cima da caixa, levantando um pouco de pó, e andou até a janela, onde ele quase sumia pela claridade que entrava.
Estendeu o braço para a janela, mas não conseguia tocar o ar livre. Visivelmente, alguma coisa o puxava para trás, com um irritante barulho metálico. O menino parecia resistir até o último segundo, mas era lançado para trás com violência.
Bufou, abaixando a cabeça. E disse agora com uma voz mais... Grossa. Mais raivosa, que não cabia de forma alguma naquela criança:
"Eu. Não posso sair". - Com os dentes truncados, se levantou ainda de ombros caídos, a cabeça baixa para o chão, voltando para cima da caixa empoleirada.
Sua feição agora não era de um menininho fofo. Era de um fantasma com ódio absoluto.
- Quem fez isso? - Perguntei. Ele demorou um pouco para responder. Depois de um breve segundo ergueu os olhos injetados em cinza escuro. Ele parecia diferente. Parecia um... Adulto, com raiva.
- Você sabe quem fez isso. - Respondeu, a voz agora bem mais próxima - A mesma que fez isso com você - Apontou para os lados, visivelmente querendo dizer o motivo com o qual eu estava ali, naquele lugar. Na Califórnia.
- Alyce - Disse. Ele pareceu relaxar e olhou para os pés, os balançando levemente. Ótimo, isso era um bom sinal. Era uma ação infantil, afinal.
"Sim, ela" - Disse, com um sorriso fraco.
- Não se preocupe. Vamos sair daqui - Sorri levemente, agora mais confiante. Não era verdade o que diziam. Ele não era o pior fantasma da escola. Bom... Parecia não ser. Agora.
"Quando eu sair daqui, todos saem". - Disse, erguendo os olhos.
- Você tem uma foto minha aqui. Porque? - Perguntei, juntando os Cd's vagarosamente.
"Tenho muitas coisas suas além do que só uma foto, Samantha". - Respondeu, apoiando a cabeça na mão e olhando para mim, balançando os pezinhos.
- Porque?
"Essa é uma pergunta complicada para uma resposta complicada de responder" - Sorriu levemente. Aquele sorriso era... Especial. Era mais... Familiar? Talvez.
- Então... - Passei os olhos pelo sótão, querendo mudar de assunto - Porque aqui tem um espaço enorme no centro? - Perguntei, mesmo achando a pergunta ridícula.
"Porque no centro tem meu piano" - Respondeu como se fosse óbvio. Abri a boca, e fixei os olhos no centro do local. Oras, não tinha nada.
- Mas eu não... - Não deixou eu terminar. Em um piscar de olhos, o fantasma estava na minha frente. Franzi a testa, olhando para ele, que ergueu a mão e a passou na frente de meus olhos. Quando a sombra de sua mão sumiu da frente, pude ver um piano de madeira polida. Era madeira brilhante, nova. Firme.
Abri um sorriso sem saber porque. Ele se virou para o instrumento, sentando no banco de couro que havia ali.
Ele parecia tocar, mas eu não ouvia nada.
- Seu nome de verdade é Júnior. Não é? - Perguntei. Ele assentiu lentamente, erguendo os olhos de forma relutante, como se tivesse medo do que eu fosse perguntar a seguir.
- Júnior do que? - Perguntei levemente. Ele relaxou os ombros.
- Wernick. Júnior Wernick. - Sorriu levemente, abaixando os olhos e voltando a tocar.
Dessa vez eu ouvia.
E eu podia jurar.
É a mesma música que eu ouvia dez anos atrás, aos dois anos.
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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...