Truques

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Era impossível desviar os olhos daquele monstro que se levantava do chão. Alyce apenas sorria, vitoriosa. Não tinha saída. Nada estava aberto. Eu iria morrer, era óbvio.
Logan engoliu em seco do meu lado, se voltando para mim vagamente, como se perguntasse...
"E agora?"
Pois é, e agora? Eu simplesmente iria morrer na escola. Como os outros. E no dia seguinte, na mídia, as pessoas diriam que fora um massacre. Levantariam estátuas em nossa homenagem, e deixariam ali, com sinceros pesares para nós. E então eu iria acabar como os fantasmas presos ali.
Arya se afastava dos outros que corriam de um lado para o outro, agora ao pico do desespero ao se verem totalmente presos. Eu também deveria estar desesperada, mas meus pés não saiam do lugar. Logan falava algo com Luke que também chegava perto de mim, eu percebia pelo canto do olho, mas minha atenção estava grudada em Alyce, que parecia se deliciar com o medo que certamente se mostrava em minha expressão.
- Eu lhe dizia, Sam - A mulher fez leve mesura com a cabeça, segurando o microfone elegantemente na mão. Eu obriguei meus pés a afastarem um passo. As outras pessoas agora procuravam os próprios celulares, mas olha que coincidência... em apenas breves segundos sem luz, ninguém tinha sinal nos aparelhos.
- Agora ouçam, todos - Alyce rosnou, serrando um dos punhos, fazendo alguns pararem por medo. Outros diminuíram os gritos. - Parem de ganir como cadelas na rua - Ela continuou - Ninguém aqui vai sair vivo. Não há porque ter tanto desespero assim - Sorriu insanamente. Arya tateou o nada até parar do meu lado.
Agora, a coisa já tinha ganhado forma ao lado da mulher em cima do palco. Era um homem. Mostrando os dentes em um sorriso largo e doentio. Olhava diretamente para mim com os olhos vermelhos ensandecidos. Não pude controlar meu coração que disparava em medo e adrenalina, e minhas mãos que tremelicavam à visão do demônio à minha frente.
- Sam... Nós precisamos sair. Precisamos sair daqui - Arya sussurrou baixo, do meu lado, quase que inaudível, com o mesmo medo e tensão na face e na voz.
Alyce se voltou para nós, sorrindo.
- Ah, não, minha querida. Ninguém irá sair. - Ergueu os ombros - Se vocês saírem... - Apontou vagarosamente para os fantasmas ao seu lado. O próprio demônio cruzou as mãos atrás do corpo, sem desviar os olhos de mim. - Se vocês saírem, nós saímos também. E então... - Ela continuou - Será pior para mais gente. - Sua expressão se tornou mais maldosa do que antes.
**
Taylor engasgou com a visão do próprio demônio ao lado de Alyce.
Se grudou na parede, com os olhos arregalados, como se não quisesse que aquele homem soubesse sua estadia ali. Mas Júnior estava com a expressão opaca, olhando para o piano. Parou de tocar o mesmo. Sabia que todos ouviriam, mas também sabia que não faria diferença. Alyce se arriscava de mais tentando atacar seus rivais em um território inimigo. Por que Júnior simplesmente dominava aquilo tudo. Ela o colocou ali.
Mas aquela noite, poderia sair. Era óbvio que ela não sabia, pois se soubesse, não teria ido ali.
- Pianista... - Taylor chamou, em pequeno sussurro gélido. A "criança" não se moveu.
**
- Bem, como acho que seria mais divertido vocês saírem se debatendo em tudo... - Alyce soltou uma risada - Eu não vou dificultar a saída - Ergueu os ombros.
Agatha olhava para Lee, com um misto de ódio e rancor. Ele devolvia com um sorriso sádico, brincando com o machado, o levantando totalmente, fazendo algumas pessoas perderem o fôlego.
- Então... - Ele disse, gravemente - Que o jogo comece. E então, sumiu, junto com os outros fantasmas. E o demônio. O demônio também havia desaparecido, e eu me peguei me juntando ainda mais em Logan do meu lado.
Alyce soltou nova gargalhada alta, jogando a cabeça para trás insanamente, e pulou do palco como um boneco controlado por outro, largando o microfone, puxando uma faca de açougueiro da lateral da cintura.
E então gritaram. Inclusive eu, sendo bruscamente afastada de perto pelas mãos de Logan, enquanto Arya fazia o mesmo, com a respiração acelerada.
Era um jogo.
Real, não era apenas um game do qual você perdia e voltava a vida depois, para tentar novamente.
Se você perdesse, era game over. Para sempre.
Os adolescentes e crianças se espalharam pelo lugar, em gritarias, alguns correndo para o corredor, descendo para o andar de baixo, mas eu sabia que a saída principal estava trancada.
- Sam. - Arya resfolegou alto, em apreensão. E então, em um último segundo que eu apenas me virei para ela, seu rosto fora iluminado pelo clarão forte de um relâmpago do lado de fora, com a luz desligando novamente, junto com uma risada insana e maquiavélica, em par com os gritos de desespero das pessoas.
Em poucos segundos, eu simplesmente não sabia mais se Arya ainda estava do meu lado. Eu simplesmente não sabia mais se alguém ainda vivo estava do meu lado.
E então, talvez fosse a minha vez de ficar em desespero.
Deixei minha respiração acelerar, e meus passos me guiarem cega e apressadamente para algum lugar. Pelo visto, as pessoas faziam o mesmo, mas gritavam alto enquanto isso, correndo de um lado para o outro, abafando os risos demoníacos que pareciam sair das paredes.
Os gritos foram se transformando em dor e pavor. Eu não queria pensar que alguém pudesse realmente estar sendo assassinado, eu não queria pensar que aquilo era uma realidade, eu estava presa em uma escola com assassinos e fantasmas à solta.
Era morte na certa.
"Vamos, Sam" - Ouvi em meu lado esquerdo. Uma voz debochada e rouca. Eu sabia que era Lee.
Prendi a respiração, apertando os olhos, em pavor oculto.
"Isso será divertido, por que não participa da brincadeira?" - Ele continuou. Eu sabia que sua mão segurava o machado provavelmente manchado de sangue.
Mas me forçei a ficar ali, parada. Eu sabia que ele me faria ter medo, mas algo me dizia para esperar.
- Oras, Sam. Você é realmente, mais corajosa do que pensei. - Sua imagem apareceu violentamente à minha frente, me fazendo abrir a boca, dando passos para trás, vendo sua cabeça aberta do lado, o sangue descendo pela mesma, compactuando com o sorriso rasgado e psicopata. Suas roupas eram rasgadas, e tinham manchas de terra molhada e grudada em seu tecido podre.
Como se tivesse saído do próprio túmulo.
Gritei alto, desviando os olhos e automaticamente me voltando para trás, passando a correr às escuras, sabendo muito bem que ele estava atrás de mim agora, se divertindo com meu terror, mas que mesmo assim, daria meu fim de uma forma de outra.
Mesmo sem enxergar um palmo à minha frente, esbarrava com pessoas que gritavam ainda mais quando isso acontecia. Talvez eu tivesse derrubado alguém no chão com isso. Possibilitando sua morte fatal. Em minha cabeça, um exercito de fantasmas assassinos e aquele demônio estavam atrás, e eu não poderia parar de correr. Talvez não fosse tão mentira, mas literalmente, a imaginação é uma de suas melhores armas contra tudo, as vezes até contra você mesmo.
Eu soube quando eu estava descendo para o andar de baixo, assim que meus pés quase cederem ao encontram, por pouco não me levando ao chão, encontrando o corrimão, à minha direita, descendo em correria. Eu não sabia onde eu ia, talvez em qualquer canto que eu finalmente ficasse encurralada e morresse de vez. Talvez para o banheiro que tanto me assombrava desde a primeira vez que pisei ali.
Definitivamente, a escola toda estava contra mim.
Ouvi uma gargalhada em meu encalço. Dessa vez, era mais grossa, mais violenta, fazendo um arrepio me percorrer o corpo.
- Corra, Samantha, corra para o nada - A voz rugiu entre risos, e eu soube que era aquele demônio de antes.
Praguejei alto, me livrando as escadas, em puro pavor refletindo em minha expressão, era óbvio.
Corria pelo corredor, desesperadamente. As pessoas estavam ali também, e os gritos não paravam, mas o que mais me parecia desconcertar, era que, agora, meus pés tombavam em pessoas no chão.
Corpos.
Gani, me atropelando pelas coisas que meus pés passavam, tentando ao menos lembrar qual era a porta daquele bendito banheiro.
Eu simplesmente não sabia. Apenas sabia que não adianta o quanto eu correr, eles estavam rindo e se divertindo com meu esforço de fugir de qualquer coisa.
Fui tocando a parede, até minha mão parar na porta, em uma das portas. Eu realmente não sabia qual era, mas à julgar pelo frio da maçaneta e o toque tão gélido e conhecido por mim, era exatamente o lugar que eu precisava.
Forçei rapidamente, entrando às pressas, fechando a porta atrás de mim em barulho ensurdecedor. Se pudesse trancar, eu o faria, mas também sabia que não adiantaria exatamente nada.
Me afastei daquele pedaço, ofegante, batendo as costas na parede fria depois de segundos. Estava silencioso ali dentro, embora eu ouvisse os gritos incessantes lá fora.
Sufoquei pequeno murmúrio de tensão, me espremendo contra a parede.
O barulho da sola gasta de botas já tão conhecidos, soou pelo azulejo gélido do banheiro que pensei estar vazio.
Ergui meus olhos, para ver Agatha, com a expressão tranqüila. Ela me olhava também. Juntou as mãos, calmamente, indo para meu lado.
- Você não é tão burra quanto imaginei, Samantha - Disse, em meio aos gritos lá fora. - Sabe que aqui, fantasmas nenhum pode te tocar? - Me olhou. Eu me retrai de leve.
- ... Não? - Perguntei. Ela sorriu e negou com a cabeça. - Por que? - Não me desarmei com o corpo.
- Porque aqui é o banheiro do deficiente. - Respondeu, como se fosse óbvio - E ele tem ódio o bastante das pessoas la de fora para deixa-las pisar aqui.
- Por que deixam eu entrar? - Insisti. Ela riu.
- Simples. Você não fez nada para ele. Ele tem ódio de quem o prendeu aqui. - Esclareceu.
- ...E quem o prendeu aqui? - Perguntei, baixo.
- A diretora. - Devolveu. Eu prendi o ar, me voltando para frente, me lembrando do barulho da cadeiras de rodas.
Enquanto a maçaneta do lado da de fora, era forçada violentamente. Mas não por um fantasma.
Por um assassino.
Abri a boca. Agatha permaneceu intacta.
- Bem - Sorriu, afastando os cabelos negros e juntos do rosto - Aqui está longe do perigo de fantasmas. Mas não de pessoas possuídas, não é? - Se virou para mim vagamente.
Soltei um grito de horror ao saber que o brilho dos olhos dela, eram os mesmos do demônio.

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Ps: Sim, antes que peçam, irei continuar, assim que eu puder 😂 Bons sonhos!
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Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora