Tem alguém aí? - Volume 2

Nem tudo é certo

Arya engoliu o grito que queria soltar junto com o do menininho.
Com a respiração acelerada, olhou para o lado, se situando de onde estava. Na sua casa... Com sua família, na sua cama. No seu quarto, e não tinha mais ninguém ali. Ela estava bem.
Abaixou a cabeça no breu, segurando a testa com a mão. De novo aquele sonho. De novo, ela tinha que contar daquela vez!
"Conte!" - Pianista tentava fazer ela ouvir. Mas ela estava em um campo vibratório tão baixo... Que não conseguia nem sequer perceber o que ele pedia.
Mas de qualquer jeito, Arya faria aquilo. Não viveria com tal sentença sobre a cabeça, com tal cena sem ser dita para a pessoa que tinha que saber.
Se levantou, com os pés descalços, indo até a janela aberta, que deixava a luz da lua entrar no aposento.
Suspirou, tentando se acalmar. Amanheceria o dia, e contaria para Sam. Nada iria retardar.
Apoiou a cabeça na mão fechada, que se encontrava em cima do parapeito da janela.
Sempre deixava a janela aberta, igual a Sam, mas não sabia porque. Algo... Parecia ser melhor, algo parecia ser bom com a janela aberta. Trazia uma lembrança boa, mesmo que ela não lembrasse de nada. Fosse só uma sensação vaga. Mas tinha a impressão de não estar sozinha sempre que observava o céu, tinha a impressão que estava do lado de alguém querido para si, alguém que lhe fazia bem.
Ergueu os olhos para a lua cheia brilhante. Graças, o ponto mais alto da lua, fazia o chão inteiro de seu quarto ser iluminado.
Arya quase conseguia ouvir um toque de piano fraco ao longe...
Mas ainda não podia.
**
Sam não conseguia dormir. Algo incomodava, e não era o fato de estar na casa de Logan, à frente da casa se Alyce. Era o fato de... Algo estar errado, ela não deveria estar ali.
Balançou a cabeça no escuro. Se sentia triste, mas não sabia porque, não entendia. Sentia vontade de chorar, mas não havia motivos.
- Nem sempre as coisas são como precisam ser, não é? - Samantha ouviu uma voz doce e risonha. Não estava perto dela, mas estava ali, na sala.
Deixou os ombros caírem. Mais um fantasma?
Mas aquela voz não parecia desconhecida...
Sam não enxergava nada naquele escuro. Era uma voz feminina, não podia ser... Kate?!
- Ah, não, não sou a Kate - Ouviu de novo, parecia mais perto agora - Você não precisa ter medo, eu só quero ajudar. Sempre quis, você vai ver no fim - Continuou - Quando minha irmã te dar a chance de ir, vá! Não fique parada no mesmo lugar, tudo tem que ser rápido! Entenda, o baile não é algo bom! Repito, não é. Algo bom. - Insistiu.
Pela primeira vez em muitas vezes, Sam sentiu medo da voz que começava a ficar áspera e grossa, como se quisesse ter certeza de que ela tinha entendido.
Engoliu em seco, assentindo para o nada.
Mas que diabos era aquilo?! Minha irmã? Quem era a irmã dela? Do que estavam falando?
- Ela sabe fazer jogos, e ela tem todas peças que precisa - Agora era um sussurro em seu ouvido - Você não poderá dar um passo em falso, porque se não... Será game over para você - Continuou. Era engraçado... A voz variava para uma mulher brava e severa, para uma adolescente relutante, para uma criança inocente... Mas era igualmente assustadora.
Samantha se perguntou se aquilo não podia ser do mal.
Prendeu a respiração, se levantando de maneira afobada, em tentativa ansiosa para cair fora dali, sabendo que não podia.
Tinha medo daquela casa, lembrava do fantasma do pai do Logan...
Praticamente se debatendo nas coisas para ligar a luz, estava provavelmente quase conseguindo encontrar a parede, mas algo agarrou seu tornozelo, a puxando para trás, como uma mulher irritada por não ter sido ouvida até o fim.
- VOLTE AQUI! EU NÃO TERMINEI! - A voz agora era rouca e insana, e puxava a garota para trás com força.
Samantha gritou, arregalando os olhos, pulando para frente, tentando livrar o pé, quase caindo, mas se apoiando na primeira coisa que achou, ignorando a longa e assustadora escada que levava para o andar de cima, para completar, escura, resultando na garota debater os pés, se soltando por um triz antes de cair, pulando os degraus.
Ia quase suspirar de alívio quando chegou ao andar de cima, com passos apressados, mas gritou alto de novo quando bateu contra alguém.
- Hey! O que foi, o que aconteceu? - Era Logan, à sua frente, acordado pelo grito da menor.
Abriu a boca, se agarrando a ele sem pensar duas vezes, olhando para trás, na escada.
E foi nesse maldito momento...
Que a janela do meio do corredor deu lugar ao clarão de um raio, denunciando a chuva.
No alto da escada, iluminado pelo fenômeno, uma mulher se esgueirava, com a feição feroz. Cabelos negros lhe caíam pelo rosto, e sua pele era quase tão branca quanto o raio.
A mulher cambaleou, depois ergueu a mão acompanhado do som estrondoso do trovão desencadeado, fazendo Sam gritar de novo. Daquela vez, alguém viu! Logan viu, não foi só ela! Ela não era louca!
Desviando rápido os olhos da fantasma, puxou a mão de Logan, sendo acompanhada automaticamente por ele, boquiaberto, igualmente em choque.
**
O que Samantha esperava? Era óbvio, aquela casa era assombrada, ela queria o que?
Seu tempo acabava a cada badalar da meia noite, denunciando um dia mais perto do fim de sua vida.
Até as trevas mais obscuras tentavam avisar, ela tinha que fazer a coisa certa, se não, faria parte daquela escola, daquele cemitério, para sempre.
Um baile de inverno? Ótimo! Divertido!
E se você tiver fechada com pessoas que querem te matar ali?
O jogo não fica ainda melhor?

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Obrigada, tenham uma boa noite de sono >:)