Mal pressentimento

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 ¨Sam¨

 Assim que ela disse aquilo, eu simplesmente senti como se tivesse engolido uma mosca. Engasguei, me arrepiando, e lancei um olhar nervoso para a janela entreaberta. Agatha respondeu com um sorriso afetado, e girou o giz na mão pálida, as unhas ruídas, mas estranhamente cumpridas.

 Depois, resumidamente, voltei para a casa de Lolla, martelando os meus pensamentos, abrindo a porta e encontrando Arya se empanturrando de azeitona, ao lado de Luke. Eles pareciam conversar, mas quando eu adentrei a sala, pararam.

 Franzi os lábios, em um sorriso relutante.

 - Olá, Sam. Vem cá, sente do nosso lado - A garota chamou, sorridente. Fui até lá, timidamente, puxando a cadeira e sentando. Arya pegou mais uma azeitona, enfiando na boca. Parecia nervosa. Luke, estava calmo, e não comia, apenas esperava a namorada se acalmar. Me permiti fazer o mesmo.

 Depois de um tempo se entupindo de azeitona, Arya parou, e olhou para os pés.

 - E o que eu faço agora? - Ela perguntou. Luke franziu os lábios, e olhou para mim.

 - Ela está assim porque a mãe dela... Bem... - Começou a dizer, e se voltou para a garota, que por sua vez, me empurrou seu celular, apertando sua tela, do qual começou uma gravação. Eu consegui captar a última frase:

 "Uma maratona de músicas para você, ouvinte..." - Depois da última palavra, um sussurro. Algo como um chiado. Não consegui ouvir o que era.

 Confusa, perguntei:

 - ... Sim, e o que é isso? - Arya bateu as unhas na mesa, nervosamente, e encarou o rapaz, que permanecia de cabeça baixa.

 - É uma vinheta que minha mãe fez hoje de manhã. E não sei se você reparou, mas antes dela parar de falar, há um sussurro. - Eu concordei, lentamente, baixando o olhar para o celular a minha frente. Eu notei que era um sussurro, mas não notei o que dizia.

 - Sim, mas não sei o que diz.

 - Ninguém sabe, e eu quero saber. - A garota rosnou - Chama o Douglas aqui, agora - Praticamente mandou. Douglas era apaixonado por coisas de detetive, e facilmente conseguia achar alguma coisa que ninguém conseguia. Era fato que Arya queria que ele desvendasse o que a gravação dizia.

 - Acho que a Lolla saiu junto com ele. Podemos ligar, se você quiser. - Opinei. Ela assentiu depressa. Sorri fracamente, puxando o telefone fixo da casa, e discando o número do celular do garoto.

 Ninguém atendeu.

 Frustrada, Arya bateu o pé, agarrando mais azeitonas do pote quase vazio, e se levantou. Luke suspirou e se voltou para mim.

 - Com isso tudo, a dona Clarisse, assustada, bem... Ela passou mal, e acabou indo para o hospital, dizendo que logo após que saiu da sala de gravação, a luz do estúdio apagou, e ela ouviu uma risada... Macabra. Assim, ela e o bebê correm risco, por causa de seu problema de coração. Levou muito susto. Está internada no hospital agora. - Ele explicou. A garota chiou e ergueu a mão, violentamente:

 - Isso é o de menos - Grasnou - Minha mãe pode até morrer junto com aquele bebê, eu só quero saber o que a maldita gravação diz! - Cerrou os punhos.

 - Porque tem tanta raiva de sua mãe? - Deixei escapar. Arya parou, respirando fundo.

 - Ela é uma gananciosa. É uma praga. Não suporto ela. Apenas meu pai que é alguém que se pode tentar gostar - Resmungou, e puxou um caderno da mochila. Fiquei quieta. Luke fez uma careta amarga para mim, e levantou, sussurrando:

 - Bem, eu vou... Para a casa. Tenho que estudar também. - Sorriu levemente. Se despediu de nós com um aceno de cabeça. Arya não se despediu, apenas se grudou no sofá, com a cara no caderno. Ele abriu a porta e saiu inquieto.

 Encarei as azeitonas no pote branco com alguns detalhes dourados. A mãe e o pai de Lolla, não estavam. Saiam para trabalhar muito cedo, e voltavam muito tarde (Em compensação, voltavam entupidos de dinheiro).

 Relutante, perguntei para a garota emburrada:

 - O que você está estudando? - Não respondeu de imediato. Folheou algumas páginas, depois parou, e folheou de novo.

 - Biologia. - Respondeu secamente. Ergui uma sobrancelha.

 - Desde quando gosta de biologia?

 - Eu não gosto. Estou estudando para a prova de hoje. - Engasguei.

 - O que?! - Eu não sabia nada. Exatamente, nada. Meu caderno estava em branco, tudo porque eu não entendia o inglês daquela maldita professora. Gláucia. Arya pareceu ignorar, e começou a escrever algo em seu caderno.

 - Arya, eu não sei nada! Nem sabia que teria prova! Por favor, me ajuda? - Perguntei, aflita. Ela continuou me ignorando. Me perguntei se Lolla teria estudado. Com certeza. Nerd do jeito que era, sim, tinha estudado, assim como Logan, que depois de tantas notas vermelhas, tentava desesperadamente voltar a sua colocação de segundo melhor aluno da sala. Ou talvez o primeiro.

 Engoli um grito de frustração, e pulei da cadeira, agarrando o caderno de Arya e passando os olhos, confusa, por aquele bando de letras e palavras em inglês. A garota me encarou com tédio.

 - Tem que aprender inglês logo, Sam - Comentou, me olhando ler as suas palavras em grego no caderno. Não respondi, e bufei, jogando o caderno nas mãos dela novamente. Não adianta, eu não entendia nada.

 Mostrei a língua para ela, que riu, e fechou o caderno.

 - Relaxa, vai ser moleza. - Sorriu, e guardou o caderno. - Hoje será um dia cumprido. As primeiras duas aulas, serão de uma professora nova. De Geografia. Lembra, o antigo professor morreu. Na escola. Não é? - Ela disse, e umedeceu os lábios.

 Lembrei do caso do professor Hort, que apareceu morto, enforcado em uma árvore do lado de seu carro. Desde o ocorrido, ninguém mais estaciona ali.

 - Sim, eu lembro disso. Foi um dia tenso. - Sorri levemente.

 Arya se deitou de bruços no sofá.

 - Esse negócio de baile... Argh, para que? - Ela reclamou - A escola está caindo aos pedaços, não tem sentido fazer uma festa toda produzida nas luxúrias - Mostrou a língua para o nada, me fazendo rir.

 - Você tem razão. Mas as pessoas vão, afinal. Umas porque gostam de zoar, e outras simplesmente porque querem notas na média. - Respondi. Arya tamborilou os dedos no braço do sofá.

 - Bem, eu vou com o Luke. Você tem alguém em mente? - Perguntou, puxando assunto. Senti minhas bochechas arderem.

 - Não. - Respondi somente - Acho que não vou - E puxei a manga da minha blusa para cima. Arya franziu a testa.

 - Vai perder nota. E acho que vários caras vão pedir para ir com você. - Ela me lançou um olhar malicioso. - É que você não entende em inglês, e falam de você na frente da sua fuça e você nem percebe - Gargalhou, me deixando ainda mais vermelha.

 - Falam... O que?! - Perguntei. A garota com ar de rebelde, segurou o queixo com a mão, me encarando com um sorrisinho e enrolando uma mecha de cabelo com o dedo.

 - Ora, Ora. Ficou assim, interessada, tão de repente né? - Riu da minha cara, que deveria estar mais vermelha que um pimentão.

 - Hey, vou me trocar para ir para a escola. Já volto - Sorri, sem graça, mudando de assunto. Ela gargalhou, enquanto me via subir as escadas.

 O problema é que eu não queria ir para a escola.

 Estava com um mal pressentimento.

 

 








Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora