Franzi a sobrancelha, olhando para os lados.
Não, não havia ninguém comigo. Eu estava sozinha, as crianças eram proibidas de ir ali, em horário de intervalo.
Engasguei, apertando o bolso da minha bermuda.
- Oi...? Tem alguém ai? - Disse, gaguejando, lembrando desde o começo, que Kate me ensinara em perguntar isso quando eu achava que não estava sozinha.
Nada. Apenas algumas folhas secas estalando, como se alguém andasse por elas. Gani baixinho, e me virei rapidamente, para a saída.
Abri o pesado portão de ferro, passando para o outro lado, como se eu ficasse ali, iria morrer ou alguém me machucar, o que eu achava meio impossível.
Suspirei, fechando o portão, e me virando para ir embora, mas parei assim que vi a diretora em minha frente. Arregalei os olhos discretamente, mas voltei ao normal. Ela me encarou, e sorriu, perguntando:
- Querida, já acabou?
- Sim, senhora.
- Está indo embora?
- Sim...
- Não quer ficar até seu horário chegar?
Dei um sorriso sem graça, olhando para os lados nervosamente, pensando na ocorrência que eu havia pegado sem autorização, e respondi:
- Creio que não seria boa ideia, senhorita Maddie... Outro dia, talvez. Tenho algumas coisas para fazer. - Sorri. A mulher assentiu, entendendo, e me deu espaço para passar.
Me despedi com um breve aceno de cabeça, e caminhei até a saída.
Desci as escadas descascadas e quebradas, tomando cuidado para não pisar em nenhum lugar que poderia causar um acidente, como me fazer cair e rolar pela estrada.
Cheguei há calçada, logo tomando o rumo da casa de Lolla.
¨¨
¨Lolla¨
Acordei com Doug arrumando a coberta.
Sorri levemente, e me espreguicei, dizendo:
- Bom dia - O outro devolveu o sorriso, e murmurou um bom dia, de um jeito sonolento.
Bocejei, e sentei na cama, logo levantando e indo até o banheiro.
Penteei o cabelo, enquanto pensava em tudo o que acontecia com todo mundo, inclusive Sam, desde o começo. Foi uma longa jornada... Se Deus quiser, Alyce desistiu daquela ideia louca de matar a Samantha, e tudo ficaria em paz.
Abri a porta do banheiro, saindo e atravessando o quarto, descendo as escadas e indo parar na sala, onde Arya olhava para o teto, com cara de tédio.
- Bom dia, Arya - Cumprimentei - Que cara é essa? - Ri um pouco, arrumando a manga da minha blusa.
A outra fez uma careta, e jogou a coberta para o lado, dizendo:
- Não dormi muito bem hoje.
- Porque? Muito frio? Porque não disse, eu poderia pegar mais uma coberta para você, e...
- Não, não foi isso. Tive vários sonhos estranhos hoje. O mais estranho, foi de eu estar em um sótão. Eu estava diferente, segurava uma ratazana nas mãos. E a alisava, passando a mão pelos seus pelos, realmente, mesmo sabendo que aquele bicho era repugnante. Mas passava a mão nele, e sua sujeira ficava entre meus dedos. Na minha frente, tinha duas coisas. Um piano, uma arma, e um machado. Mas... Uma coisa me chamou muita a atenção. Em cima do piano, uma foto de uma garota, de seus nove anos. Parecia muito a Sam. O mesmo cabelo castanho claro, os mesmos traços, o mesmo sorriso. Mas claro, ainda era uma criança. A garotinha tinha um vestido azul claro, e olhava para a foto, fazendo uma pose super infantil, com as mãozinhas na cintura, sorridente. - Ela terminou de falar, como se não entendesse nada do que havia dito.
Abri a boca, atônita, e contrai os ombros.
- Não faço a mínima ideia do que seja esse sonho. - Falei, estranhando.
- Então. Eu também não. Só sei que, eu olhava para a foto, e sentia imensa saudade. Olhava para o piano, e sentia imenso amor. Olhava para o machado, e sentia imenso ódio. Olhava para a arma, e sentia imenso rancor. E assim ia. Mas não sei porque diabos eu estava com um rato nas mãos. Até acordei e fui lavar elas, tamanha repugnância que eu estava - Falou com uma careta, olhando as próprias mãos.
Suspirei, e ia dizer alguma coisa, quando a porta da sala se abriu rapidamente, entrando Samantha.
Ela parou, e soltou o ar, alisando a testa. Me olhou, e disse:
- Olá. - Sorriu de leve, e desabou no sofá.
- Olá. Como foi na escola, ô ajudante de plantão?
- A mesma coisa. Mas... Aconteceu umas coisas estranhas no parque. - Ela devolveu, encarando o teto. Arya se virou para a mesma, e perguntou com expectativa:
- Viu algum fantasma? Viu pelo menos a silhueta naquela árvore estranha? - Sam se virou e negou.
- Não, eu ouvi vozes. E senti alguém cutucar meu ombro. Mas deve ser palhaçada de alguma criança da primeira série.
- Para de ser cética, Sam. Inocente, só acredita no que os olhos veem. - A outra disse, fechando a cara, e olhando para o chão, levando a mão até um copo de suco de laranja, que só então percebi que estava ali.
Samantha bufou, e eu ri, indo em direção a cozinha, mas a garota me chamou.
- Lolla, eu estava arrumando os papéis da diretoria, e encontrei um tipo de... Ocorrência. - Ela disse - Fala de um menino - Se levantou, e tirando alguma coisa do bolso, me deu um papel amarelado e um tanto rasgado nas bordas.
O abri, confusa.
Sim, falava de um menino. Júnior Wernick.
Me voltei para ela.
- Sim, e dai? O que tem? Porque pegou isso de lá? - A garota a minha frente cruzou os braços sobre o peito.
- Veja o nome da mãe desse menino. - Pediu, apontando o papel com o queixo.
Me virei para ele, lendo o nome "Alyce Wenick".
Arregalei os olhos, me voltando para Sam.
- É... É a... Alyce! - Gaguejei, olhando para a outra, que assentiu.
- Então, Alyce adotou esse menino. E onde ele está? - Perguntou, ainda com os braços cruzados, em tom sério e tenso.
- Eu... Eu não sei - Respondi - Talvez... Morto. - Opinei. Sam concordou, e disse:
- Tem mais. Olhe a data. - Olhei. Noventa e oito. Nessa época, eu deveria ter um ano. E o garoto do papel, estava na primeira série.
- Estranho - Falei, dando o papel na mão de Samantha, que afirmou com a cabeça.
- O mais estranho, é que diz que esse garotinho começou a vir para escola com marcas roxas pelo braço, como se alguém o agredisse fisicamente - Falei, confusa.
Sam assentiu, e eu ia dizer mais alguma coisa, quando Arya reclamou, algo como falta de ar.
Quando a fitei, um vulto negro e corpulento se inclinava sobre a mesma, que parecia estar pálida, vítima de um mal súbito.
Arregalei os olhos, e abri a boca, não conseguindo gritar, e cambaleando para o lado, batendo a cintura de leve no móvel a nosso lado.
O vulto parou, e se ergueu, claramente virando a cabeça para mim.

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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...