Um choro de criança cortava minhas velhas lembranças.
O brinquedo estava quebrado no chão, mas não fora a criança que o quebrou.
Uma mulher sorria maldosamente em meio à neblina, à frente do pequeno menino, a olhando de baixo.
"Sua hora chegou, garoto." - A voz da mulher soou - "Largue essa coisa. Venha comigo. Para nunca mais voltar." - Continuou. E depois de alguns segundos, Soltou uma gargalhada alta.
**Um fleche se passou pela íris cinza escuro do Pianista. A música não soava mais. Ele não era mais apenas um garotinho.
Era um garotinho ferido.
Era um garotinho morto.
A risada da mulher ficara no passado. O garotinho que sorria e brincava, também.
- Pianista... - Taylor chamou, e pelo tom de voz, não era a primeira vez que lhe chamava, aflita, como um último aviso.
No lugar de gargalhadas maquiavélicas, se ouviam gritos de horror e desespero vindos do pátio. Ele provavelmente teria que fazer alguma coisa.
- Júnior... Por favor... - Taylor insistiu, com a testa franzida, em preocupação - Estamos sem tempo. Você pode sair. Ninguém vai ser mais forte que você, sabe disso. - Tentou.
O garotinho ergueu os olhos ariscos e agitados, como o mar em pura tempestade.
- Mas o próprio demônio está aqui, Taylor. Como posso lutar com aquele que me matou?
**Meu grito falhou depois de alguns segundos, embora eu o tivesse continuado, indo para trás, com os olhos pregados em "Agatha". À medida que eu me afastava, a luz pendia para o lado oposto de minha visão, escurecendo o rosto da garota, deixando a mesma ainda mais sombria do que parecia. Eu queria sair, eu precisava sair, eu precisava viver, eu não podia morrer ali, não onde comecei.
As pessoas corriam pelo corredor, como eu fazia algum tempo atrás. Alguém continuava a forçar a maçaneta.
Arya. Logan. Luke.
Será que estavam bem?
Ou estariam em situação pior que a minha?
Eles eram as únicas pessoas que me restavam de verdade ali. Endereçar meu último pensamento a eles, era justo.
- Pense, pense pense - A voz de Agatha soou em cima dos gritos. Por algum motivo, o fato de ela estar possuída por um demônio, não influenciava em sua voz muito.
- Mantenha a calma - Exibiu um sorriso sarcástico, do qual a Agatha normal não fazia. Franzi os lábios, com o coração disparado. De um lado, eu tinha um demônio. Do outro, um assassino quebrando a fechadura da porta, e literalmente era meu fim.
Vi a garota à minha frente tirar uma faca da borda da bota solenemente, com um sorriso, mostrando os dentes brancos. A língua pairava no meio deles, e os olhos se arregalavam ao me olhar, insanamente.
- Isso é apenas para completar o jogo, Samantha. Morta, e entenderá tudo. Poderá descansar eternamente ao lado de seu querido ir... - Sua fala foi apagada por um forte tranco de eletricidade na lâmpada do banheiro, à cima de mim, me fazendo gritar de novo, pulando para trás, longe das faíscas de energia elétrica. Agatha, sem estar com um demônio no corpo, poderia ter entrado ali e ascendido a luz, mesmo que ela só desse algum sinal agora.
Não adiantava muito. A luz branca e elétrica piscava, e agora eu via o rosto dela de tempo em tempo regular, sendo iluminado com luzes flácidas e raivosas. E seu rosto parecia ficar ainda mais demente a cada segundo.
Mas la fora, algo a fez parar, mesmo que o sorriso não tivesse morrido em seu rosto.
Um grito novo fora ouvido. Mas agora era de uma mulher. Me lembrou a voz da professor nova, a então garçonete, e por último, Clara. A mulher do orfanato. Mas... por que ela gritava?
O demônio à minha frente não parecia ter pressa de me matar. Com a feição apurada ao que se passava la fora, sua expressão fora se mudando para algo como... satisfação.
- Oras, Samantha. - Ela riu, agora mais grosseiramente - Seu anjo da guarda veio lhe proteger - Disse, com ironia - Se a palavra certa for anjo... - Completou, e deu mais um passo à minha frente. As batidas contra a porta haviam cessado. Eu estava em um cenário de horror. No corredor, por baixo da porta, eu via que a luz também piscava.
E então, uma sombra pairou ali.
Prendi a respiração. E então... eu morreria assim.
Os gritos não haviam parado, mas pareciam vir do andar de cima agora.
Eu estava sozinha no andar de baixo, com dois espíritos malignos e corpos de alunos pelo corredor.
E então, em menos de segundos, a maçaneta girou vagamente, sem nenhum esforço. Não me conveio na hora se ela estava fechada. Eu ja estava com problemas de mais para resolver ali.
A porta se abriu vagarosamente. Não emitiu rangido, como nos filmes de terror, mas por algum motivo, me deixou mais petrificada.
A imagem de um garoto, garoto fantasma, com uma roupa preta de Pianista, rasgada nas pontas, pairava na frente da porta.
Seu tamanho era de uma criança de cinco ou seis anos.
Mas sua expressão não demosntrava a tranquilidade de um. Não era suave como a de uma criança.
Era de um segundo demônio. Mas com a expressão em puro ódio, enquanto o outro, de Agatha, sorria, brincando a faca na mão, observando o menino.
- Quanto tempo, criança - "Agatha" disse.
Pianista o fuzilou com os olhos. A pele pálida e fina em baixo dos mesmos, continham pequenas veias esverdeadas e contorcidas e desciam igualmente pelo pescoço.
Me escolhi de leve contra a parede.
A luz continuava a piscar, e os gritos lá em cima compactuavam com os corpos dos alunos e o sangue espalhado atrás do fantasma, que parecia exalar ódio puro, fazendo suas mãos cerradas fortemente, tremerem com o sentimento.
- Eu pensei que já tinha lhe dado um jeito, pequeno Pianista - O demônio do outro lado continuou. Júnior permaneceu calado, mesmo que não desviasse os olhos ferozes dele.
- Um dia de brincadeiras não foi o suficiente para você. - O mais velho constatou. A voz de Agatha começava a mudar, para mais áspera, me dando um arrepio na espinha.
E então o corpo dela começou a mudar igualmente. O braço, parecia ficar ainda mais pálido e ósseo. Sua pele branqueada drasticamente, como se já não houvesse mais sangue em suas veias. Seus lábios perdiam a cor, e veias arroxeadas se alongavam por seu pulso e pescoço. Até sua lingua se tornava mais escura, como a verdadeira visão do demônio, macabra, à minha frente. Seus dedos se entortavam em garras.
Pude sentir a energia de Pianista vacilar um pouco, mas voltar novamente ainda mais feroz, avançando dentro do banheiro, com a expressão agora se contorcendo em tamanho ódio.
- Talvez seja a hora de jogar uma segunda fase. - Júnior disse. Sua voz não era de criança.
Era de um verdadeiro demônio.
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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...