Capítulo 7 - Nada é o que parece

733 61 2
                                    

- É... Como assim, irmão? - ele perguntou, confuso. Mas sem ousar se afastar dela.
- Você é meu irmão por parte de mãe, acho que não preciso desenhar. - ela respondeu - estou a quase duas décadas te procurando.
- Mas... como isso é possível? - ele perguntou num sussurro.
- Sendo, você é meu irmão mais novo, nasceu um século depois de mim. - ela se afastou, desfazendo o abraço e o encarando - mas não importa, eu te achei e nunca mais vou te deixar sumir.
Lucien ainda estava atordoado, mas conseguia sentir que ela falava a verdade, não sabia como, apenas sentia. Então se aproximou e a abraçou com força, indo mais pelo sentimento do que pela razão.
- Lucien - ela sussurrou - tive medo de chegar tarde e te encontrar morto.
- Mas não chegou - ele respondeu - aliás. Qual o seu nome?
- Lydia. - ela soltou uma risada - eu tenho uma notícia não tão agradável pra dar...
- O que? - ele perguntou e se afastou.
- Nossa mãe, morreu a um mês, impedindo a escuridão de tomar New York.
Lucien não conhecia sua mãe, nem sabia o nome dela, mas sentiu uma enorme raiva crescendo dentro de si. Sahad, escuridão, todos de alguma forma se intrometendo em sua vida.
- Lydia? - falou Julian, chocado - você...
- Sim, estou viva. - ela respondeu - quase morri, mas minha mãe usou suas últimas forças pra me enviar para outro país até eu me recuperar. Por sorte Kyra achou que eu tinha morrido, então não esteve apagando a presença de Lucien.
- Lydia. - Ruthie falou, num tom enojado, mas como se estivesse cumprimentando.
- Ruthie. - ela respondeu no mesmo tom.
- O que tem entre vocês?
- Uma longa história - elas falaram ao mesmo tempo, Ruthie continuou - que ninguém precisa ficar lembrando.
- Por que ultimamente tudo é "uma longa história"? - ele fez aspas no ar - ninguém pode me responder uma vez na vida?
- É que são coisas que ou é melhor você não saber, ou realmente não precisa saber. - Julian respondeu.
- Precisando ou não, eu quero. Não me sinto confortável, mas excluído.
- Tudo ao seu tempo, irmão. Por ora precisamos ir embora dessa cidade, temos muitos portais pra fechar.
- Precisamos? Você está se incluindo? - Ruthie perguntou.
- Por que? Algum problema? Os incomodados que se retirem. - Lydia abriu um sorriso.
- Eu sou a guardiã dele.
- Tem feito um belo trabalho - ela ironizou - mas quem parecia guardião quando cheguei, não era você.
- Chega as duas. - Lucien gritou - já temos problemas demais pra vocês ficarem de discussão atoa.
As duas se calaram.
- Precisamos de um carro - Julian lembrou - já que aquele virou pó.
- Serve aquele? - Lydia apontou um carro ao longe dali, era uma limousine.
Eles caminharam até a limousine sem pressa, o portal da cidade estava fechado, precisavam se recuperar da batalha.
- Tem um bilhete. - Lucien falou.
Havia um papel preso no parabrisas do carro, Ruthie pegou em leu em voz alta.
- Um presentinho por terem fechado o portal. - ela falou e resmungou - da Kyra.
- Dessa vez eu dirijo. - Julian falou enquanto ia até a porta do motorista.
Lydia puxou ele pelo braço e o encarou, com seus rostos próximos.
- Eu vou.
- Não mesmo.
- Já ouviu falar que garotas conseguem o que querem? - ela sorriu.
- Todo dia.
- Isso facilita as coisas - ela começou a torcer o braço dele - vai quebrar nos próximos 3 segundos.
Julian tentou se soltar, mas Lydia era mais forte, então desistiu.
- Tudo bem, dirija. - ele resmungou e foi pro fundo da limousine.
- Ruthie, será que a gente pode conversar... Sozinhos?? - Lucien perguntou.
- Olha, que bonitinho. Eles vão ter a DR - Julian falou enquanto entrava no veículo.
- Oi? - Lydia perguntou, completamente chocada - vocês estão namorando?
- E se estivermos? - Ruthie falou num tom provocativo.
- Não, não estamos. Pelo amor de deus as duas podem parar? - Lucien pediu.
- Dane-se. - Lydia falou e foi até o banco do motorista, entrando na limousine.
- Você sabe que eles podem ouvir, não sabe? - Ruthie perguntou.
- Desconfiava, venha. - Lucien começou a se afastar, com ela o seguindo.
- A resposta é: não é importante.
- Hã?
- Eu sei o que quer perguntar - ela continuou - por que o demônio me conhecia, por que ele agia como se eu fosse igual a ele. Não é importante.
- Sim, é importante Ruthie. Eu preciso saber, como você acha que me sinto com todos escondendo algo de mim, agem como se eu não fosse confiável.
- Você já parou pra pensar, ao menos por um segundo, que todos temos algo do passado que não gostamos de lembrar? Ou algo de que não podemos falar? Meu trabalho é te proteger, não te tratar como padre pra confessar meus pecados. - ela cruzou os braços.
- É esse o problema! Vocês estão escondendo coisas sobre mim! Porque tenho certeza que sabem quem é meu pai e sabiam da minha mãe, vocês sabem porque preciso ser protegido, Deus não iria mandar vocês proteger alguém meramente importante, aliás, duvido que você iria aceitar um trabalho assim. Até porque essa não é você.
- Você não me conhece, Lucien. - ela respondeu.
- Tem razão, não conheço. A Ruthie que conheci a três anos não age dessa forma, a Ruthie que conheci não tem medo de falar as coisas.
Ela se aproximou e olhou nos olhos dele.
- Você conheceu a Ruthie humana, eu tenho 923 anos de vida. Sabe o que é isso? 9 séculos. Sou um dos anjos mais antigos, e o tempo muda a pessoa, mais do que você pode imaginar. Então não venha me dizer que essa não sou eu, porque essa é quem sou, uma pessoa que tem um passado bom e sombrio, que detesta lembrar e tem vontade de arrancar cabeças de cada demônio que vê. Sim, eu vou fazer tudo pra te proteger, mas isso não nos torna amigos! - ela quase gritou a medida que continuava o discurso, respirou fundo e passou por ele, indo em direção a limousine.
Lucien se sentiu sem chão, não sabia porque, mas as palavras de Ruthie haviam o atingido lá no fundo, arrancando um pedaço do coração. Ela era uma das pessoas mais próximas a ele, apenas depois do Julian. Ele ficou alguns minutos lá, sem contar o tempo, apenas se recompondo, até que conseguiu caminhar de volta para limousine, entrou no banco do passageiro, ao lado de Lydia.
- Você está bem? - ela sussurrou.
- Vou ficar. - ele encostou a cabeça na janela e adormeceu.

Anjos e Demônios - O filho de Lúcifer Onde histórias criam vida. Descubra agora