Lucien percebeu que estava em um lugar desconhecido apenas pelo cheiro, era horroroso, dava ânsia de vômito. Como se fosse dezenas de corpos em decomposição. Ele girou e olhou envolta, estava tudo completamente escuro, não conseguia enxergar nada. Levou a mão ao bolso e não sentiu o celular, seu coração parou por um segundo, então levou a mão ao outro bolso e o achou, respirou aliviado e pegou.
Pro azar dele, estava sem bateria, então decidiu dar alguns passos, não conseguia contar o tempo, então andou por tempo indeterminado até bater de cara no que parecia um enorme portão. Ele resmungou e tateou o portão, até achar um buraco, colocou a mão ali e teve uma idéia do que poderia ser.
Lucien deixou o poder fluir por suas mãos, uma luz branca apareceu entre seus dedos, o cegando temporariamente. Quando conseguiu enxergar novamente, o portão estava aberto, flashs começaram a passar em sua mente: pessoas gritando, chorando, sendo desmembradas sem dó. Deu um passo pra trás e quase caiu, se manteve de pé e voltou a andar. O lugar parecia não ter fim, o chão era vermelho-sangue, literalmente, sangue vivo.
De repente, ele viu um vulto, que foi se aproximando até ele ver a si mesmo.
- É, deve ser o inferno. - Lucien falou, olhando seu outro eu.
- Sim, Lucien. - respondeu o outro, que Lucien percebeu ter olhos pretos e vermelhos, meio que misturados - você morreu.
- Eu tenho memória, sabe. Por que diabos estou vendo minha sósia que é mais feia?
- Este é você - ele respondeu - mas possuído por mim.
- Lúcifer, Sahad, ou algum demônio mais insignificante?
- Não, Lucien. Você nunca deve ter ouvido falar de mim. - um sorriso maligno se esboçou nos lábios dele - Sou Krastion.
- Por que demônios tem nomes tão ridículos? Seus pais tinham demência? - ele perguntou - é, com certeza um demônio insignificante.
Krastion soltou uma gargalhada, estava gostando do jeito de seu hospedeiro.
- Vamos a uma aula rápida. A mil anos, um profeta escreveu uma profecia. Que dizia que todo o rancor, ódio, raiva, dor, sofrimento, iriam se juntar e criar o verdadeiro diabo, Lúcifer é apenas um anjo renegado.
- E onde eu entro nisso? Se não percebeu, tenho 16 anos.
- Eu não tenho minha forma humana como Sahad - ele respondeu - preciso de um corpo.
- Não, não e não! Não vou deixar meu corpo possuído por um psicopata feito de escuridão.
- Você tem tempo pra se decidir, Lucien. - Krastion respondeu - preciso da sua permissão, não exatamente como os anjos. Se eu te possuir sem sua permissão, você vai lutar e poderá me expulsar, não quero isso.
- Então fica esperando, velhinho. Não vou deixar os demônios vencerem, não depois de terem matado quem eu amo.
- Sabe, Lucien. Tudo que aconteceu a você foi um mal necessário. Mas seus amigos mentem pra você, sua irmã, mente pra você. Vou te dar uma dica: quem você menos espera, é o traidor que abriu as portas do inferno. Falta você descobrir, Tic Tac.
- Você está mentindo! - Lucien gritou - nenhum deles faria isso.
- Pergunte a sua irmã por que ela mentiu a respeito da mãe de vocês. - Krastion abriu um sorrisinho cínico - aliás, seu pai está vivo.
- Quem é meu pai? - Lucien perguntou, quando Krastion não respondeu, gritou: - Quem é o meu pai?
- Pense, Lucien. - Krastion falou - por que Deus te quer protegido? Por que você tem poderes de demônio e anjo? Você matou um demônio superior, lutou com um, isso não é pra poucos. Pense bem, eu não escolheria você por nada.
Lucien olhou sua sósia/Krastion, sabia quem era, mas não conseguia acreditar na hipótese, não queria ser um filho de um monstro.
- Lúcifer. - ele sussurrou - eu sou filho de Lúcifer.
- Exatamente. - Krastion respondeu - você é muito poderoso, e especial.
- Quem é o traidor? - Lucien falou. - Quem é o culpado pela morte de meus pais? Da Sarah? Meus amigos? Porque não foi Sahad, agora tenho certeza disso.
- Você está ficando perto. - Krastion abriu um sorriso - é tudo armação de quem traiu Deus. Gosta de charadas, Lucien?
- Não.
- Vou dar uma - ele continuou - quem mais protege, mais gera desconfiança.
- Ajudou muito. - Lucien resmungou.
- Vamos, Lucien. Quer descobrir o traidor? Não confie em ninguém. - ele fechou os olhos por um segundo e abriu - está na hora de você reviver, nos vemos em breve, caro Lucien.
Krastion estalou os dedos e tudo escureceu.***
Os três ficaram petrificados, como se o tempo tivesse sido congelado. Nenhum deles conseguia acreditar nas palavras da médica.
- Meu irmão não morreu - Lydia sussurrou - não pode ter morrido.
- Eu sinto muito - a médica falou - mas não podemos salva-lo.
- Doutora, tem certeza que o coração dele parou? - Ruthie perguntou num sussurro - ouvi dizer que pessoas podem ficar mortas por até 6 minutos e serem trazidos de volta.
- Só faz 5 minutos e 30 segundos - a doutora falou, olhando o relógio - mesmo assim, não é possível, não no caso dele.
- Devo discordar - falou Lucien, vindo pelo corredor - tudo é possível.
- Como você está vivo? - a médica perguntou, chocada - e curado...
- Deus - ele respondeu com um quê de sarcasmo.
- Lucien! - Lydia gritou e correu até ele, o abraçando - eu fiquei... com tanto medo...
Ele ia retribuir o abraço quando as palavras de Krastion voltaram a sua mente "Não confie em ninguém" na verdade não podia confiar nem em Krastion, era um demônio. Mas ele queria que Lucien dissesse sim, e só o ajudando iria conseguir o sim.
- Eu estou bem - ele respondeu, tentando afasta-la - só não muito fã de abraços. Sem contar que estou fedendo a sangue.
Ela se afastou dele, confusa e chateada.
- Doutora, onde posso me trocar?
- Tem... um banheiro no fim do corredor. - ela respondeu.
- Onde está o carro? - ele perguntou a ninguém em particular.
- No estacionamento. - Ruthie respondeu.
Lucien passou por todos e saiu do hospital, indo até o estacionamento. Achou a limousine e foi até ela, mas não conseguiu abrir a porta.
- Esqueceu a chave? - Ruthie perguntou num tom irônico, atrás dele.
Lucien se virou e a olhou.
- Pode me dar, por favor?
- Depende o que você quer que eu dê.
Ele levantou uma sobrancelha, era óbvio que estava falando da chave.
- Quero um milhão de dólares e uma mansão - ele respondeu - mas por enquanto só a chave serve.
Ela jogou a chave e ele pegou, abriu o porta-malas e tirou uma camisa, calça e cueca.
- Vai querer me ver nu por acaso? - ele perguntou, esperando ela sair.
- Talvez. Já vi mesmo.
- Quero ficar sozinho.
Ela se aproximou e olhou nos olhos dele.
- Eu não sei o que aconteceu enquanto estava morto, mas você voltou diferente.
- Com certeza, o inferno mexe com as pessoas. - ele tirou a camisa, mas ela já havia sumido - que seja.
Seu corpo estava sujo de sangue, mas não tinha como limpar agora, vestiu a camisa nova e um sorriso se esboçou em seus lábios ao ver Kyra na sua frente.
- Olá, Kyra. Porno grátis fica no outro lado da rua.
- O que ele falou pra você?
- Desculpa, você bateu a cabeça? - ele perguntou e tirou a calça, pegou a nova e vestiu.
- Você morreu, nenhum anjo te reviveu, só pode ter sido Lúcifer.
- Ah, meu pai. - ele respondeu - Não, meu querido pai deve estar preocupado com outras coisas no momento.
- Como você sabe?
- Sabendo, na verdade era óbvio. Só tive um reforço de memória. Você sabe onde Draco se esconde? Preciso ter uma conversa com ele.
- O que aconteceu com você? - ela perguntou, mantendo a expressão calma.
- Enxerguei as pessoas com quem convivo. - ele respondeu - Ah, tenho uma pergunta a você: Por que escondeu minha presença de Lydia? Nunca gostei de esconde-esconde.
- Foi ordem superior, apenas obedeci.
- Eu não acredito - ele respondeu - na verdade, não acredito na minha própria sombra, todos vocês estão escondendo algo de mim.
- Foi Krastion, não foi? - ela perguntou - ele colocou essas coisas na sua cabeça. Você não pode se deixar levar...
- Aí é que está o problema, Kyra. - Lucien fechou o porta-malas e se aproximou dela - ele apenas me fez ligar os pontos, e você confirmou que Lúcifer é meu pai. Também fiquei pensando, Krastion mão tem motivos para mentir, afinal ele me quer como hospedeiro, e eu preciso dizer Sim.
Kyra esticou o braço, fazendo ele voar contra a limousine e apareceu na frente dele.
- Você pense bem nas suas ações, Lucien. Não quer ter anjos como inimigo.
Ele apenas riu.
- Ora, eu já tenho, não tem um anjo traidor? - ele virou a mão, fazendo ela se contorcer de dor - sabe, Kyra. Eu gostei de você, mas agora só consigo pensar que você é uma mentirosa, e pode ser a traidora.
Ele fez os ossos dela se quebrarem e a pegou pelo pescoço, começando a sufocar.
- Como você...
- Eu aceitei quem eu sou - ele respondeu e a lançou do outro lado do estacionamento - filho de um demônio.
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Anjos e Demônios - O filho de Lúcifer
FantasyHistória reescrita sendo publicada! Acesse meu perfil e confira Sheol: A Prisão Infernal.