Lúcifer abriu os olhos devagar, sentia-se dolorido, o corpo humano demorava pra se regenerar, o que era inconveniente, mas era o que tinha por hora.
- Demorou para acordar. - falou uma voz.
Ele se levantou do chão, vendo Miguel a alguns metros, parado e de braços cruzados.
- Olá, irmão. - disse Miguel.
- Olá, Miguel. - Lúcifer rebateu - o que você aprontou?
Miguel fez um movimento de mão, e uma caixa que estava invisível, apareceu, feita puramente de eletricidade, envolta de Lúcifer.
- Interessante. - Lúcifer comentou - o que pretendem fazer comigo? Me matar?
- Não, ainda. Acho que você sabe que a cada 100 anos nasce um profeta...
- Não matei o desse século - Lúcifer levantou ambas as mãos - nem cheguei a procurar.
- Eu sei, justamente por isso você está aqui. O profeta teve uma visão.
- Jura? Pensei que profetas existiam apenas para serem tagarelas irritantes - Lúcifer rebateu, revirando os olhos.
- Sobre Lucien. - Miguel continuou.
- Lucien? - Lúcifer perguntou, finalmente se interessando - em que encrenca aquele garoto problemático se meteu agora?
- Nesse exato momento ele está no inferno, provavelmente vendo a garota que ele é apaixonado ser morta, por um de seus súditos, a escuridão.
- Eu queria ter controle sobre aquela praga irritante - Lúcifer admitiu - mas não tenho, e o que tem a garota morrer? É mais uma lição de vida pra ele.
- É a Ruthie.
- Ah... - Lúcifer ficou em silêncio por um segundo - enfim, chegue logo no ponto que quer chegar.
- Você sabe como é alguém magoado - Miguel falou, propositalmente se referindo a Lúcifer - volátil, incontrolável, vingador.
- E espera que eu dê uma de pai preocupado e fale com ele? - Lúcifer continuou - não faz o meu feitio.
- Ele mata todos os anjos, na visão do profeta. - Miguel explicou - inclusive você, em seguida, irá trazer o inferno a terra, no sentido literal.
- Bendita hora que não usei preservativo - Lúcifer murmurou - por que não o para? Mate-o, e bum! Todos saem felizes, podemos voltar a nossa guerra.
- O destino não pode ser mudado... - Miguel começou.
- Mas sim refeito. - Lúcifer murmurou, completando - me solte, e talvez eu possa impedir isso de acontecer.
Miguel estalou os dedos, e Lúcifer desapareceu, indo para o inferno.
- Tem certeza que foi o certo a se fazer? - Miguel perguntou, a uma pessoa escondida nas sombras - deixa-lo ir...
- Apenas um pai pode salvar um filho, Miguel. - disse a voz - e acho que você sabe.***
Lucien correu até Ruthie, ela estava despencando no chão, como em câmera lenta, ele corria e corria, mas não chegava, a distância parecia sem fim, quanto mais corria, mais longe ficava. O que pareceram horas, mas na verdade foi segundos, Lucien chegou até ela e caiu no chão, todo atrapalhado, pondo ambas as mãos sob o ferimento e tentando curar.
- Lucien, não gaste sua aura com isso - ela sussurrou - não vai curar, a espada atingiu meu coração.
- T-tem... que... c-curar - ele murmurou, mas não estava curando - tem que curar...
- Ei, olhe pra mim. - com dificuldade, ela levou as mãos até o rosto dele e o fez olhar em seus olhos, ela parecia estar calma, enquanto Lucien tremia e não parava de chorar - não vou me curar.
- Mas... - ele falou, a voz embargada pelas lágrimas - tem que ter... um jeito... por favor...
- Lucien - ela sussurrou - eu sei que demorei pra dizer isso, mas... eu te amo.
Um sorriso se esboçou nos lábios dele, fazendo-o se sentir mais péssimo ainda, se é que era possível, ele estava destruído por dentro, como se seu coração tivesse sido arrancado e só ficou a carcaça.
- E-eu... também... te amo, Ruthie. - ele murmurou e aproximou o rosto do dela, dando-lhe um selinho.
Um sorriso murcho se desenhou nos lábios dela, seus olhos perdendo a vida, seu coração batendo cada vez mais devagar... até parar, para sempre. O tempo pareceu ter parado, Lucien não ouvia mais nada, tudo estava num completo silêncio. A mão de Ruthie se soltou da de Lucien e caiu no chão, sem um sinal de vida.
- Não se preocupe, Adkins. - falou a escuridão, com a espada levantada para dar o golpe final nele - vou te mandar pro mesmo lugar que ela.
Lucien se virou, seus olhos estavam negros, ele se levantou numa velocidade assustadora e socou a escuridão, fazendo-a voar a metros de distância, largando a espada. Ele pegou a espada e caminhou lentamente, sem pressa, viu a escuridão se levantar e continuou caminhando. Então tudo ficou escuro, Lucien se virou, pondo a espada na frente e parando um soco da escuridão, movendo-se por instinto.
A escuridão roubou a espada dele e desapareceu, aparecendo a alguns metros, voltando até Lucien tão silenciosamente que o mesmo não ouviu ou mesmo notou sua presença.
- Adeus, Adkins. - ele murmurou, a espada a um centímetro de Lucien.
Então tudo se iluminou, e uma pessoa roubou a espada da escuridão, atravessando na mesma e destruindo seu coração.
- Já falei para não mexer com meu filho. - Lúcifer torceu a espada, até a escuridão se desintegrar em pó negro, voltando para as profundezas do inferno.
Lucien sequer olhou o pai, ou Stiles, Aurora e Lydia, que estavam desmaiados, seu olhar caiu sobre Ruthie, podia parecer estar dormindo, senão fosse o buraco em seu corpo. Ele se aproximou lentamente, a verdade é que não queria ficar longe dela, lá no fundo, achava que poderia traze-la de volta.
- Ela não pode voltar - Lúcifer falou, como se lesse a mente dele - foi pro campo dos exilados, terá uma punição severa.
- Mas ela não traiu ninguém! - Lucien retrucou num tom tão alto que fez todo o chão tremer.
- Não agora, mas a 300 anos, sim. - Lúcifer respondeu.
- E adivinha? É culpa sua! - Lucien falou, a pele manchada pelas lágrimas que não paravam de descer - ela está morta por sua culpa! Você ameaçou ela a ficar do seu lado.
- Minha...? - Lúcifer entendeu o que estava acontecendo - Kyra. Mas esse não é o problema, Lucien, quando aceitar que é meu filho e herdeiro de tudo que é meu, vai ficar muito mais poderoso.
- Sua outra anjinha maldita, que eu vou achar e matar. Melhor ainda... - Lucien abriu um sorriso psicótico - eu vou matar todos os anjos, até Deus decidir olhar pra droga do mundo que ele construiu e largou.
- Eu acho uma ótima ideia, mas... os anjos vão retaliar, e você vai morrer.
- Aí eu venho para cá, e você, como o pai maravilhoso que é - ele ironizou - me manda de volta.
- As coisas não funcionam assim, eu não vou te impedir de matar os anjos, faça o que bem entender, mas não vá se arrepender depois. - Lúcifer começou a andar na direção contrária.
- Vou me arrepender de afrontar esses paus mandados de Deus? Ou o próprio "senhor"? - Lucien fez aspas no ar.
Lúcifer parou de andar, mas não se virou, apenas abriu um sorriso.
- Ambos, mas vai se arrepender mais ainda de nunca mais ter chance de ver seus amigos mortos.
- Como assim? - ele indagou, se interessando imediatamente.
- Eu estou tentando juntar os dois planos, inferno e terra. Se eu conseguir...
- Julian, Ruthie e todos voltam - Lucien completou - do que você precisa?
- Aí é que está o problema, eu preciso sacrificar três arcanjos, e tecnicamente, são muito mais poderosos que eu.
- Espera, arcanjos? - Lucien perguntou, tendo um flash de memória - minha mãe... Miguel.
- Exatamente, Lucien, como espera matar sua própria mãe? É frio demais até pra um filho meu. Eu quero você do meu lado, mas não impulsionado por um desejo que vai te destruir, mas pelo mesmo motivo que estou nessa guerra. - Lúcifer desapareceu ao falar essas palavras.
Lucien caminhou até seus amigos, ainda estava indeciso, até seu olhar cair sobre Ruthie.
- Eu sinto muito - ele se agachou em frente a Lydia, se inclinou e depositou um beijo na testa da mesma - se cuida, irmã.
Ele pegou um pedaço de papel no bolso, e com sua adaga fez um corte fino no dedão. Escreveu as palavras com o próprio sangue, então pôs sobre a palma de Stiles.
- Adeus, Aurora. - ele sussurrou para a amiga e conjurou um portal, sabendo que eles conseguiriam fazer o mesmo, Lucien atravessou o portal.
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Anjos e Demônios - O filho de Lúcifer
FantasyHistória reescrita sendo publicada! Acesse meu perfil e confira Sheol: A Prisão Infernal.