Capítulo 22 - Três meses

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- O que você queria que teve que mandar um lacaio atrás de mim? - Ruthie perguntou, demonstrava estar estressada e impaciente - não tenho mais motivos para ajudar você.
- Eu poderia te dar mil e um motivos dolorosos, e mais alguns 500 não tão ruins, mas eu quero apenas conversar, por enquanto. - Lúcifer estalou os dedos da mão esquerda e duas poltronas apareceram, ele se sentou e obrigou Ruthie a fazer o mesmo com um leve movimento de dedos - aceita um chá?
- Se for fervendo para eu jogar na sua cara, eu aceito. - ela retrucou enquanto era forçada a se sentar, mas fingiu não se importar, apenas abriu um sorriso.
- Que seja - Lúcifer concordou e estalou os dedos da mão direita, um esqueleto apareceu em sua frente - traga dois chá, por favor.
O esqueleto se dirigiu a parede, uma passagem se abriu e ele passou. As luzes se apagaram nesse momento, o candelabro balançou levemente.
- É rotineiro - ele explicou ao entender a curiosidade dela - enfim, vamos direto ao ponto.
- Estava esperando o que? Permissão? - ela perguntou, enchendo a frase de sarcasmo. Abriu um sorriso e pôs uma perna sobre a outra, se recostando na poltrona.
- Por que você quis continuar morta? - Lúcifer perguntou.

***

Arkansas - Jonesboro

Stiles se agachou, havia uma espécie de gosma preta no chão da calçada em que estavam andando, procurando sinal de quem havia atacado a prefeitura da cidade. Ele tocou a gosta com os dedos da mão esquerda e sentiu uma sensação fria e amedrontadora percorrer seu corpo, flashes atravessaram sua mente. Pessoas sendo mortas no meio de um pentagrama inundado por chamas, anjos morrendo, Lúcifer matando Miguel, Lucien dizendo sim...
- Stiles? - chamou Lydia, um pouco preocupada.
- Cavaleiros das sombras - ele murmurou e se levantou em seguida - são eles.
- Quantos? - Aurora perguntou e invocou a espada.
- Aqui na cidade tem um. Mas no país? Não tem como saber se todos saíram do inferno.
- Um nós damos conta - Lydia afirmou e a espada dela apareceu - sabe onde está?
- Sei, mas antes eu tenho que contar o que vi. - ele se virou para olha-las - Lúcifer vai matar Miguel.
- Mas Miguel não é mais forte? - Aurora perguntou, confusa.
- Teoricamente, sim. - Stiles afirmou - eu não vi tudo, só vi Lúcifer atravessando uma espécie de punhal negro em nosso pai, e ele morreu. - Stiles não queria ter que falar a última visão, poderia abalar Lydia.
- Por que eu sinto que está faltando alguma coisa? - As duas perguntaram ao mesmo tempo.
- Lucien... vai dizer sim a alguém - Stiles começou, preocupado - eu não vi a quem, só ouvi o "sim" e tenho certeza que era um "sim" de permissão para o possuírem. - Stiles fez aspas no ar em ambas as vezes que disse sim.

***

Lucien chegou com Baltazar no hotel em que deixará Mary, antes mesmo de abrir a porta do quarto, ele sentiu cheiro de demônio, se apressou e abriu a porta. Mary estava na parede, literalmente colada e acima do chão. Havia uma mulher a alguns metros dela, cabelos escuros, olhos negros, a pele era delicada como porcelana, mas os lábios que estavam desenhados em um sorriso perverso, demonstravam o contrário.
- Bem na hora, Adkins. - ela falou, o olhar ainda direcionado a Mary - trouxe reforço, interessante. Olá, Baltazar.
- Desde quando cavaleiros possuem humanos? - Baltazar questionou, estava um pouco surpreso.
- Espera, como assim cavaleiro? - Lucien perguntou.
- Não fez o dever de casa, Adkins. - A mulher repreendeu num tom de frustração misturado com ironia - Bom, eu sempre gostei de experimentar corpos, ser eu o tempo todo é chato.
Lucien apareceu atrás dela e sacou uma adaga de debaixo da blusa, então degolou a garganta da mesma.
- Ela não morreu, não é? - Lucien perguntou, olhando o corpo cair no chão.
- Não, só vai voltar a forma original. - Baltazar respondeu - onde ela, ou ele, é muito mais poderoso.
- Que conveniente - Lucien caminhou até Mary, ela havia despencado no chão quando matará o corpo do demônio, provavelmente já desmaiada. Ele se agachou e a pegou no colo, apareceu na frente da cama e a deitou.
- Cadê o resto do bonde do herói? - Baltazar perguntou, se recostando na parede e cruzando os braços.
- Primeiro, eu não sou um herói. - Lucien se virou para poder olha-lo.
- Está tendo uma péssima semana como vilão.
- Segundo - Lucien continuou, o ignorando - eu me separei deles.
- Já vi isso em algum lugar - Baltazar murmurou - e por que fez isso?
- Não é da sua conta. - Lucien ficou quieto por dois segundos e continuou - eu percebi que me preocupar com eles me tornava fraco, agora estou muito mais forte.
- Você não se preocupa mais? - Baltazar indagou, ficando interessado.
- Surpreendentemente, não sinto nada.
- Nada... Nada mesmo? - o olhar de Baltazar caiu sobre Mary - e ela?
- Nada. - Lucien também olhou para Mary - os anjos a querem, demônios também. Então eu quero mais.
Quando Lucien tornou o olhar a onde Baltazar estava, o mesmo apareceu em sua frente e pôs ambas as mãos em seu rosto, uma em cada lado. Lucien gritou ao sentir Baltazar penetrar sua mente, criou várias barreiras, mas o mesmo atravessou facilmente, como se não existissem. Baltazar chegou onde queria, na alma de Lucien, ela estava cercada por uma energia negra que quase expeliu o anjo como se não fosse nada.
Baltazar se afastou de Lucien, um pouco aturdido, era uma tremenda força que cercava a alma do garoto, e ele sabia o que era.
- Por que diabos fez isso? - Lucien perguntou, irritado e aponto de socar Baltazar.
- Sua alma está amaldiçoada - Baltazar explicou - a cada dia vai ser consumida... mais e mais... até você virar uma casca.
- Esse não é o meu maior problema no momento. - Lucien proferiu de forma dura e indiferente.
- E não é mesmo. - disse uma voz rouca e seca atrás de Baltazar, quebrando o pescoço do mesmo em seguida.
Era a mulher de antes, Lucien olhou pro chão e ela não estava lá, mas como? Baltazar dissera que ela iria para sua forma verdadeira.
- Não era para você ter virado... você? - Lucien perguntou.
- Era, mas eu não sou uma cavaleira qualquer. - ela abriu um sorriso que faria qualquer homem derreter, menos Lucien - sou a primeira dos 7, Adkins. A criadora, a mais poderosa...
- Ta, eu já entendi. - Lucien a interrompeu - você é a moça má que me quer morto. Conte-me uma novidade.
- Bom, acho que não preciso falar mais nada. - ela apareceu na frente dele, quase colando no corpo do mesmo - você tem últimas palavras?
- Sim. - ele sorriu - vai pro inferno.
Lucien atravessou a mão direita no corpo dela, sentindo seus dedos roçarem o coração.
- Isso não pode me matar, Adkins. - ela quebrou o braço dele e em seguida o jogou na parede como se não pesasse nada - quer mesmo brincar comigo?
Lucien bateu com as costas na parede e caiu no chão, tossindo pela falta repentina de ar.
- Bom, vou tomar isso como um sim. - ela se aproximou e deu um chute nas costelas dele, um estalo se ouviu enquanto o mesmo era arremessado até a porta e quebrava a mesma com o impacto.
A cavaleira percorreu o olhar pelo quarto, mas Baltazar havia sumido, o que a fez abrir um sorriso.
- Fugindo de uma batalha, Baltazar? - ela perguntou, caminhando até a porta - esse não é você.
Lucien já havia se levantado, conjurou uma esfera arroxeada em ambas as palmas das mãos e arremessou na cavaleira, que esticou o braço esquerdo e abriu a mão, absorvendo as esferas.
- Eu não sou um demônio fraco que você mata com seus feitiços ridículos. - ela puxou o braço de volta, fazendo com que Lucien fosse junto - você é patético, Adkins.
- Nisso eu concordo - ouviu-se um estalo de uma arma sendo disparada e a cavaleira caiu no chão, morta. - mas ele apenas precisa desabrochar o poder.
Lucien viu Baltazar a alguns metros, com uma pistola prateada.
- Sério? Um tiro de arma mata um cavaleiro? - Lucien perguntou.
- Essa não é uma arma qualquer, nem são balas quaisquer. - Baltazar respondeu e sussurrou algumas palavras, fazendo a arma desaparecer - mata quase todo tipo de ser sobrenatural. Menos arcanjos, Lúcifer, Sahad, Krastion e as encarnações de sentimentos obscuros.
- Tipo... O ódio? A raiva? A dor? - Lucien indagou, claramente surpreso - todos saíram do inferno?
- Todos - Baltazar afirmou - e sinceramente não faço ideia de que tipo de arma pode mata-los.
- Ótima notícia. - Lucien resmungou.
Um grito soou atrás de Lucien, ele se virou e viu uma mulher aterrorizada ao ver o corpo da cavaleira, morto.
- Espera! - ele pediu, mas a mulher saiu correndo - droga.
Lucien apareceu na frente da mulher, com um olhar sombrio.
- Eu sinto muito. - ele sacou a adaga e degolou o pescoço dela, estalando os dedos em seguida, a mulher virou pó - sem testemunhas.
Ele subiu um lance de escadas, até chegar no quarto e ver que o corpo da cavaleira já havia sumido. Baltazar estava na janela, provavelmente encarando o céu.
- Você matou uma humana. - Baltazar afirmou.
- Sim - Lucien respondeu, como se tivesse sido uma pergunta - como você mesmo disse, estou amaldiçoado, não me importo com nada.
- De alguma forma você se importa com a banshee ali - Baltazar continuou afirmando, sem se virar - isso é o começo para liberar sua alma da maldição. Sem precisar da segunda opção.
- E qual seria a segunda opção? - Lucien questionou.
- Fazer um tour pelo inferno e fazer um pacto com Sahad, ele é quem cuida das almas amaldiçoadas.
- Vou preferir a primeira opção. - Lucien decidiu - mas não agora, eu era impotente quando me preocupava com os outros, agora consigo usar tudo de mim sem ter que me preocupar com outras pessoas.
- Bom, tem um detalhe. - Baltazar começou a explicar - a cada dia que passa, a maldição vai consumindo sua alma, pouco a pouco, durante três meses.
- E depois?
- Você ficará sem alma pra sempre.
- Hã... Lucien? - chamou Mary, com uma voz sonolenta - o que diabos aconteceu aqui?

***

Ruthie fitou o diabo por alguns segundos, tentando decifrar o que seu olhar queria dizer, sua expressão tranquila e neutra, mas ao mesmo tempo curiosa.
- Bom, eu não posso voltar. - ela mentiu - você como rei do inferno devia saber sobre o que acontece quando uma pessoa volta dos mortos.
- Isso eu sei - Lúcifer afirmou - mesmo assim, você foi um arcanjo, tem grandes chances de isso não lhe acontecer.
- Não gosto de correr riscos - ela rebateu, olhando as unhas, que estavam péssimas. - pensei que me conhecesse pelo tempo que passamos juntos.
- Você não é a mesma Ruthie que eu conheci - Lúcifer afirmou - é uma pena, éramos tão bons aliados... Tanto em batalha quanto...
- Cala essa maldita boca, Lúcifer. - ela revirou os olhos - Foi a pior escolha da minha vida, não importa o que diga, não importa o que faça, não pretendo voltar, ainda mais agora que você tem interesse nisso.
- Nem por Lucien? - ele questionou num tom provocativo.
Ruthie fuzilou ele com o olhar, suas cordas vocais falharam nos segundos seguintes, fazendo com que parecesse um murmúrio.
- Nem por ele.

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Hey, pessoal. O que acharam do capítulo? Mary é a salvação de Lucien? Ou ele terá que tomar um café com Sahad?
Se gostaram, não esqueçam de curtir :)

Anjos e Demônios - O filho de Lúcifer Onde histórias criam vida. Descubra agora