-Você vai se atrasar.
- Eu sei! Já estou indo! - eu soava desesperada. Não podia me atrasar no primeiro dia!
Entrei no carro com meio pão ainda na boca, tentando me equilibrar com minha mochila numa mão e o celular na outra. Meu pai ria da minha situação.
- Coloca o cinto e vamos. - ele conseguiu dizer em meio aos risos.
Fiz o que ele disse, afinal, ir para a escola de carro era raridade.
- Vai demorar menos do que de ônibus né?
- Vai. - Meu pai não era de falar muito, principalmente enquanto dirigia. Então me contentei a ficar quieta o resto do caminho.
***
Minha escola não era das maiores. Na verdade, era uma das menores, mas melhores em ensino. Os professores eram super divertidos e a maioria das pessoas eram legais. Bem, como eu disse, a maioria.Sempre tem uma jararaca que transforma a vida acadêmica dos mais excluídos um inferno. E quem era a mais excluída da sala? Eusinha aqui! Não que eu não tivesse amigos, mas eles não eram muitos.
Assim que cheguei, apresentei minha carteirinha de estudante na portaria para liberarem a minha entrada. Não sei qual era a necessidade disso, mas enfim. Fui até a minha sala e me sentei num canto no fundo. Não queria chegar perto da Maju, vulgo jararaca, e as bajuladoras que ela chamava de amigas. Alguns minutos depois, meus amigos entraram e se sentaram perto de mim.
- Oi gente! - cumprimento.
- Miga, você não sabe!- diz Elisa, agitada como sempre.
- Sabe quem a gente viu no caminho para cá?- Giovanna acompanha sua agitação.
- Quem? - pergunto sem animação nenhuma.
- Nossa Angie... O que aconteceu? Cadê aquela sua animação matinal? - perguntou Pedro, com um sorriso.
- Ficou na cama, assim que eu levantei.
- Ficou lendo até mais tarde de novo? - perguntou, sério.
- Aham...
O professor entrou na sala e deu início a aula.
[...]
Quando as aulas acabaram as meninas iriam almoçar na casa do Pedro e me chamaram para ir também.
- Ai miga! Por favor! Depois você estuda, a prova é só depois de amanhã!
- Tá bom! Vou ligar para o meu pai, mas não garanto nada. - digo, pegando o celular.
Ligação on
- Alô?
- Oi pai! Então... A Elisa e a Gigi vão almoçar na casa do Pedro hoje e estão insistindo que eu vá. Posso ir?
-Ah, filha... hoje não tá? Preciso de você em casa o mais rápido possível, tenho uma novidade.
-Essa novidade não pode esperar?
- Infelizmente não.
- Tudo bem, estou indo para casa então.
- Até daqui a pouco querida. Te amo.
- Também te amo.
Ligação off
- E aí? - pergunta Pedro, curioso.
- Hoje não vou poder ir, desculpem.
- Aaaaah, por quê?
- Meu pai tem uma "novidade" que não pode esperar.- respondo, fazendo aspas com as mãos.
-Tudo bem então. Boa sorte.
- Bom almoço para vocês. Tchau gente.
- Tchal! -respondem.
Eles foram embora e eu fui caminhando até o ponto de ônibus.
[...]
Depois de pegar dois ônibus, tenho que caminhar alguns poucos metros até chegar em casa. Quando chego, abro o portão e percebo um carro diferente estacionado ao lado do do meu pai no nosso pequeno quintal. Era vermelho e luxuoso e fazia o nosso antigo carro parecer sucata. Mas quem é que nos visitaria nesse fim de mundo? Poderia ser minha tia, Marie.
Subo as escadas e percebo da janela que meu pai está conversando com alguém. Apesar da voz feminina me ser familiar, não era a da minha tia. Bato na porta, querendo acabar logo com essa curiosidade. As conversas e risadas tímidas logo param. Eles sussurram algo, mas não pude entender.
Meu pai abre a porta, com uma expressão nada comum: nervosismo. Quase nunca vejo meu pai nervoso, ele é um homem muito confiante.
- Filha! Oi! Entre, temos que conversar.
Entro e penduro minha mochila no criado-mudo ao lado da porta, que sustenta uma jaqueta de couro feminina. Só então que olho para a figura sentada no sofá da sala. É uma mulher loira com um vestido preto e saltos sofisticados. Ela segura um cigarro com uma das mãos e o cheiro toma todo o cômodo. Tudo nela me parece muito familiar, até o jeito que ela apaga o cigarro num pratinho na mesa de centro. Só percebo quem ela é quando ela me olha nos olhos. Seus olhos são como os meus: de um verde escuro profundo como esmeralda, uma cor completamente incomum. Meu pai sempre dizia que eu tinha os olhos dela.
Minha mãe.
Depois de anos presa e sumida, está aqui me encarando sentada no meu sofá, como se nada houvesse acontecido. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas em um instante. Mas não eram lágrimas de emoção com o reencontro. Eram de raiva. Como ela pode aparecer aqui depois de todos esses anos e me olhar como se eu fosse acolhe-la ?
- O que significa isso? - consigo dizer.
- Olá minha filha. Quanto tempo. Não vai me dar um abraço?
- Abraço?! Eu só não te dou a minha mão na sua cara porque eu respeito os mais velhos. Não que você mereça o respeito de alguém.
- Angie Bragança Stanford! Não fale assim com a sua mãe! Ela voltou e alega estar muito arrependida do que fez. Agora peça desculpas e fale com ela decentemente. - repreende-me meu pai.
- Oi?! Arrependida?! E dês de quando arrependimento faz os anos perdidos voltarem? E outra, uma pessoa "arrependida" não passa dois anos em Deus sabe lá onde depois de sair da prisão! E por mim, poderia ficar sumida mesmo, nem precisava voltar!
- Filha eu... desculpe, eu não sabia que se sentia assim, eu...
- Você o que? Vai recompensar todos os momentos em que eu precisei de você e você não estava aqui? Não, você não vai! E não espere que nove anos depois, após você ressurgir das cinzas, eu te receba de braços abertos! Simplesmente NÃO VAI ACONTECER! - sinto as lágrimas quentes descerem por meu rosto, enquanto a encaro sua expressão surpresa e confusa.
Não tenho paciência para esperar uma de suas desculpas esfarrapadas ou mais um repreendimento de meu pai. Abro a porta e saio, batendo-a com força atrás de mim. Saio correndo o mais rápido que posso em direção à floresta adentrando-a rapidamente.
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Hey galerinha! Tudo bom? Bem, esse foi o primeiro capítulo... espero que tenham gostado! Postarei toda sexta-feira, em horário indeterminado, mas prometo postar hahaha É a mãe da Angie na mídia acima.
Amo muitíssimo vocês, obrigada por tudo que vocês têm me proporcionado. Cada voto, cada comentário, cada visualização é uma alegria para mim. Muito obrigada! Bjjs, fiquem com Deus ♥
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#ComentemXOXO, Isa ♥
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Finalmente Livre
FantasyVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...