Cap. 20 - Precisamos procurar

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- C-como assim? E-eles pegaram m-meu pai? - perguntei, com a mão na boca para tentar segurar o desespero.

- Hey! Eu preciso que se acalme! - ela disse, pondo a mão nos meus ombros e me olhando nos olhos - Você tem que se manter estável, lembra? Foco.

Respirei fundo e fechei os olhos, como ela me ensinara. Busquei dentro de mim uma só sensação na qual me concentrar, pois o que me deixa instável é a intensa mistura de várias emoções.

Não me concentrei na raiva, digo, no ódio que sentia dos caçadores. Isso me deixaria imprudente. Então, dentre tantas sensações, me concentrei na preocupação e no amor que tenho por meu pai. Sei que é mais de uma, mas são sinônimos. Quando se ama muito alguém, é natural se preocupar com ela.

Abri meus olhos e eu já estava mais calma, mas a ansiedade no meu coração o fazia bater a mil. Meu pai sempre esteve comigo, mesmo quando eu não merecia, ele cuidou de mim arduamente. Não posso deixar esta situação como está, tenho que fazer algo. A vida sempre dá oportunidades para retribuir, nem que gradualmente, todo o bem feito a você. Essa era a minha oportunidade de retribuir todo o bem que ele havia me feito, durante todos esses anos.

- Vamos resgatá-lo. - eu disse, surpreendentemente firme.

- O que?! Está louca?! Eu não posso sair desta ilha e você não duraria cinco minutos em um confronto direto com os caçadores. Sem ofensas.

- Eu posso, se você me ensinar todo o resto hoje. Tudo que precisarei. Meu pai nunca me abandonou e não vou abandoná-lo.

- Claro que não! Você não aguentaria o ritmo.

- Pare de me subestimar! Você não sabe o que eu aguento ou não. E, se você não quiser, ótimo! Eu vou de qualquer jeito.

Ela me analisou por alguns segundos como se estivesse fazendo alguns cálculos. A encarei, irritada, com as mãos na cintura.

- Tudo bem. - ela cedeu - treino você. Mas não me responsabilizo por ferimentos a parte.

- Ótimo. Vamos. - disse, e continuei andando até a clareira.

[...]

Meus pulmões queimavam, minha cabeça latejava e minhas pernas pareciam macarrões de tão moles, mas eu permanecia de pé.

O sol nascia por entre o topo das árvores, conferindo ao céu um tom rosado. A brisa fresca da manhã acariciava os arranhões que havia ganhado com os treinos.

Passamos toda a noite e madrugada treinando. A única pausa que fizemos durou dez minutos antes de voltarmos ao combate, que segundo Celeste, era a maneira mais simples de pegar prática. Não reclamei, afinal, precisava aprender a lutar bem o mais rápido possível.

Como eu permanecia de pé após horas a fio de combate? Simples. Meu pai. Tudo que passa por minha cabeça nesse momento é que a cada hora que perco aqui, ele pode estar sendo torturado por aqueles monstros.

A coisa que eu mais gostei de aprender com Celeste foi fazer várias formas diferentes com a Essência, não só esferas. Podia fazer de tudo.

Celeste tentara me jogar lâminas de Essência, mas se esqueceu de que eu havia aprendido esse truque. Desviei de todas, e com um movimento ligeiro, me joguei por entre suas pernas, virando-as. Assim que ela caiu, apliquei uma chave de braço e atirei duas lâminas de Essência à queima roupa.

Detalhe importante: Não se preocupem, lembrem-se de que Celeste já está morta, ela é só uma extensão da Essência, sendo assim, não posso matá-la.

A sua forma se desfez abaixo de mim em vários fios azuis de Essência, logo se reorganizando à minha frente. Ela me olhava, orgulhosa pela recompensa de seu trabalho árduo.

Finalmente LivreOnde histórias criam vida. Descubra agora