Esse foi um daqueles momentos em que você acha que vai morrer. Era a terceira vez seguida em que ela me acertava com as esferas e eu não aguentava mais.
A dor tomava conta de mim. Eu sentia a Essência se esvaindo aos poucos. Eu sentia que estava deixando meu próprio corpo. Olhei para Celeste, que formava mais esferas. Cambaleio para trás e ela me encara, firme.
- Deixe de ser fraca, Angie! Não deixe a dor te dominar! LUTE! Se não, você não vai passar de uma inútil! Eu acho que é isso, você não passa de uma fraca inútil! - ela gritou.
Rapidamente eu senti uma fúria me tomar, mais forte do que a dor. Eu podia ser tudo: teimosa, confusa, e até desastrada mas eu não era inútil. E muito menos fraca. Ela não sabe pelo que passei e pelo que tenho passado, como ela se acha no direito de me chamar de fraca? Eu passei de uma garota normal sem mãe para uma garota com asas sem pai, isso tudo sem surtar. De uma coisa eu tenho absoluta certeza: ninguém me chama de fraca.
No momento, a fúria que corria por minhas veias me fez esquecer a dor. Deixo a dor nas pernas de lado e a tontura se esvai. Respiro com dificuldade por causa da raiva. Formo quatro esferas de Essência em cada mão.
- Não me chame - grito, lançando as quatro esferas da minha mão direita nela, acertando duas - De fraca - lanço as outras quatro, desta vez acertando todas - NUNCA MAIS - berro, pisando com força no chão e provocando ondas enormes de Essência, que a lançaram longe e arrancaram a grama ao meu redor.
Abri as asas e levantei vôo. Respirei fundo e continuei voando em direção ao horizonte. Estava sobrevoando o mar, e a raiva foi se esvaindo. Dei um rasante bem próximo a água, deixando meus braços cairem e mergulharem minhas mãos nas águas geladas e salgadas. Só aí percebi a seriedade do que tinha feito.
Dei meia volta. Como eu fiz aquilo?! Pousei na clareira e Celeste estava parada no centro, de pé e parecendo estar bem.
- Olha, querida, você precisa aprender a se controlar. - ela disse, irônica, enquanto eu pousava.
- Mil e mais mil desculpas, é que... eu não sei direito o que aconteceu.
- Você reagiu. Pela primeira vez na sua vida, consegui ressaltar um dos vários sentimentos que estão em você. Isso te fez reagir. O que é ótimo. Mas você exagerou, o que é terrível. Se eu já não tivesse morrido a uns quinhentos anos, você teria me matado.
A última parte fez meu coração quase parar. Eu a teria matado?
- Como ?!
- Relaxe, todos se descontrolam alguma vez. Para a sua sorte, só eu estava aqui. Por isso o treinamento é importante, tem que aprender a usar suas habilidades, equilibradamente.
- E... como eu faço isso?
- Vem, vou te ensinar.
Ela me puxou até o centro e começou a me ensinar uma de suas técnicas para manter o controle enquanto lanço as esferas.
[...]
Eu estava exausta. Já passava das seis da tarde e não fizemos nenhuma pausa.
Queria só sentar e parar por cinco minutos, mas Celeste não deixava.
Ao menos, os esforços foram compensados. Minha mira tinha melhorado uns 500%, e eu conseguia me concentrar.
- Okay, acho que está bom por hoje. Progredimos bastante, você já consegue acertar um alvo sem hesitar, pelo menos. Tem como você voltar amanhã? - Celeste finalmente pronuncia algo além de várias ordens e instruções.
Amanhã. Nem sei o que aconteceria amanhã. Provavelmente, mais um dia normal de aulas. Mas... eu poderia vir até aqui?
- Acho que sim... Eu devo vir no final da tarde. - respondo, incerta.
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Finalmente Livre
FantasyVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...