Por um momento, tudo pareceu desacelerar. Por um breve momento, pude ouvir meu coração bater com clareza e o sangue circulando nas minhas veias.
Um grito sufocado estava preso em minha garganta enquanto eu tentava desesperadamente retirar a mochila, mas a mesma havia prendido no meu casaco. Via o chão se aproximando, então percebi: é isso. Acabou aqui.
Fechei meus olhos, pensando em tudo que um dia me fizera sorrir. Deixei meus lábios formarem um sorriso, pois se é para morrer, vou morrer sorrindo.
O chão estava muito próximo e, quando já estava pronta para aceitar meu triste destino, alguém me agarra e me puxa para cima.
Quando ele me botou no terraço do prédio, vi quem era.
- Isso fazia parte do seu plano? - Lucas perguntou, quando chegamos ao terraço.
- Meu plano não funcionou muito bem, para falar a verdade.
- O que teria acontecido se eu não tivesse te trazido para cá?
- Eu provavelmente estaria estirada lá em baixo. - respondi, sorrindo.
- Angie! Meu Deus, você não tem medo de morrer? Por favor, nunca mais vá sozinha se não tiver absoluta certeza de que vai dar certo.
- Tudo bem, relaxa. E não, se a causa for nobre, não tenho medo de morrer. - retruquei.
- Pois eu tenho medo que você morra. Por favor, não faça mais isso. - ele disse, em tom preocupado.
- Okay, okay. Acho melhor sairmos daqui antes que encontrem os guardas desacordados.
- Guardas desacordados? Ai caramba, Angie. Espero que tenha valido a pena. Achou algo importante?
- Acho que sim, só não sei muito bem o que significa.
Nessa hora, alguém chutou a porta de ferro pesado do terraço, na tentativa de abri-la.
Soltei a mochila e libertei as asas, voando em disparada logo atrás de Lucas.
Voamos até a árvore que tínhamos combinado de nos encontrar.
- O que fazemos agora? O plano já deu errado e ainda são onze e meia. - Lucas falou, preocupado.
Reparei em uma mochila de acampamento bem cheia escondida em cima da árvore, provavelmente a dele.
- Olha... eu acho que posso ter achado um jeito de sair daqui, mas não sei o que isso significa e muito menos para onde leva, então me ajude.
- Claro.
Ajoelhamos na grama enquanto eu pegava os mapas. Liguei uma lanterna e mostrei o primeiro mapa, apontando para o lugar onde estávamos.
- Esse primeiro mapa eu sei que é da área oeste do refúgio, bem onde estamos. Aqui - eu disse, apontando para o x no meio do mar - é onde acho que tem uma saída. Suspeito ser um portal, pois o outro mapa tem um x idêntico no meio do mar, mas é outro lugar. Como se fosse o outro lado.
Peguei o outro mapa e o coloquei no chão, iluminando com a lanterna.
- Aqui, está vendo? - disse, apontando para o x - Idêntico. Mas na costa, tem o que parece ser um... acampamento, sei lá. É menor do que o Refúgio, mas como saberemos quantas pessoas têm por lá?
Lucas me ouvia atentamente. Ele encarava os mapas com solicitude profunda, parecendo levantar algumas hipóteses. O encarei, esperando que toda a sua concentração resultasse em algo.
- Qual era o nome do arquivo? - ele perguntou.
- Não me lembro exatamente. Acho que está escrito atrás do mapa.
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Finalmente Livre
FantasíaVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...