Pisamos na areia fria da borda da ilha, rumo à floresta. Kailani e Aukai iam na frente, eu e Lucas não muito atrás.
Seguimos primeiramente por uma trilha curta de terra, em meio à mata. Não dizíamos uma palavra se quer, e tínhamos consciência que qualquer erro ali poderia significar o fim.
Aukai ia na frente, seguido po Kailani, eu e Lucas nos dava cobertura, indo logo atrás.
Senti uma vibração estranha. Ela vinha da terra, do coração dela. Não me parecia nada bom. Foi então que notei a coisa mais estranha. Parei de repente e olhei em volta.
- O que foi? - Kailani sussurrou, preocupada.
- Não está fácil demais? Entramos na ilha deles sem nenhum problema. Fora que não estou com uma sensação nada boa.
- Notei isso também. - Lucas concordou.
Kailani olhou para Aukai, os dois muito pensativos.
- Vamos seguir o plano, fiquem atentos e com as armas prontas.
- Certo. - concordei, formando esferas com as mãos.
- Cara, isso é demais. - Aukai sorriu, antes de virar para a frente e continuar andando.
Uma parede de pedra bloqueava nosso caminho. Ela devia ter uns sete ou oito metros de altura, erguendo-se majestosamente.
- Ótimo. E agora? - Aukai perguntou.
Lucas tomou a frente e começou a escalar o paredão, sem pensar duas vezes. Kailani e eu começamos a fazer o mesmo, mas Aukai parecia desconfortável. Kailani então desceu e pôs a mão em seu ombro.
- Vai ficar tudo bem. Não vai ser como da última vez. Eles não estão aqui.
Ele assentiu devagar e os dois começaram a subir juntos. Aquilo não me parecia só amizade.
Depois de cerca de vinte minutos, meus pés e mãos estavam miseravelmente doídos, por suportar meu peso, e meus braços e pernas estavam arranhados pelas rochas. Lucas terminou de subir e me estendeu a mão.
- Por que não podíamos voar mesmo? - perguntei, exausta.
- Não deixaríamos os dois para trás, e poderia chamar a atenção de alguém, revelando nossa localização. - Lucas respondeu.
- Ah...
Quando recuperei o fôlego e vi onde estávamos, quase tive um ataque. Devíamos estar a uns 150 metros de altura, o que não me assusta. O que me deu pânico foi a estreita ponte que teríamos que atravessar para chegar ao outro lado.
Okay, eu sei voar. Mas isso não diminui meu pavor por pontes. Parece que você vai cair a qualquer minuto. Eu sei, parece ridículo e sem fundamento esse meu medo, mas quando eu era pequena, estava andando de bicicleta com meu pai na mata. Fomos atravessar a ponte e perdi o controle da bicicleta, caindo na correnteza abaixo de mim. Quase me afoguei, mas meu pai me tirou de lá. A bicicleta eu nunca mais encontrei, foi carregada para longe.
Aukai foi o primeiro a ir, seguido por Lucas e Kailani. Eu permaneci paralisada.
- Você não vem? - Kailani perguntou, ao perceber que eu não a segui.
- Ahm... vou. C-Claro. - gaguejei.
- Você está bem?
- Estou ótima. Maravilhosa.
Segurei firme nas correntes e fui praticamente me arrastando de metro a metro, tentando me concentrar no barulho da mata ou no cantarolar de Kailani ao invés de ouvir o barulho das correntes metros abaixo de nós. Meu coração estava a mil, e tenho certeza de que minha feição era de medo, apesar de estar de olhos fechados. Respirava pesado enquanto as lembranças daquele dia voltavam, da água me levando, do meu pai pulando no rio para me tirar de lá. Acontece que meu pai não estava lá agora.
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Finalmente Livre
FantasíaVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...