Minha mãe ligou o farol do carro e foi dirigindo devegar pela escuridão enquanto eu me calava em "luto" pela vida normal que eu havia acabado de enterrar, quando entrei nesse túnel.
Ah, um detalhe importante: desde que eu soube que minha mãe foi capturada, não a culpei mais por me deixar. Ela me contou que ela passava muito tempo lá no Refúgio pois estávamos quase em guerra com os caçadores, e ela é uma comandante (fiquei meio bolada com essa parte também). Quando foi capturada, foi torturada por anos para revelar a localização do Refúgio. Mas não falou nada, e conseguiu escapar com a ajuda de uma missão de resgate enviada.
Então ela veio para cá, e eu meio que surtei. Ela disse que já esperava isso, depois daquela estória de roubo que meu pai foi praticamente obrigado a me contar. Então eu basicamente a perdoei. Mas ainda era estranho ter uma mãe quando você passou a maior parte da sua vida só com o pai. Mas ela estava aqui agora, e é isso que importa.
De repente, ela para em frente a um grade portão de metal, que me lembravam aquelas portas de cofre.
- Pode esperar no carro se quiser.
- Vou ficar aqui então.
Ela sai e vai até uma das paredes iluminadas apenas pelo farol do carro. Consigo ouvir desta vez. Ela dá cinco batidas ritimadas na parede, no centro de um retângulo formado por rachaduras.
E então o retangulo se move para dentro, e percebo um abiente iluminado atrás da parede. É quase como uma bilheteria.
- Roberta? Pera... Ai meu Deus, Roberta! - Uma mulher de cabelos negros como o meu e pele parda fala, por detrás de um vidro. Minha mãe sorri.
- Olá Rosana. Preciso de acesso imediato para duas pessoas.
- Ah, claro, imediatamente. Espera, duas?
- Minha filha acaba de receber a marca. E com os caçadores atrás de mim é perigoso para ela ficar aqui, desprotegida.
- Ah, sim, compreendo. - Rosana responde, sem tirar os olhos da tela de vários computadores ao seu redor, enquanto digita várias coisas neles.
Por fim, ela pega um leitor, parecido com aqueles do mercado, estica até a nuca e ele solta um bip.
A tranca da porta a nossa frente gira, para vários lados e enfim, a porta se destranca.
- Ótimo te ver. Bom saber que a senhora está de volta, comandante.
- Bom te ver também Rosana. Até mais tarde.
- Até.
Minha mãe volta para o carro e espera o portão se abrir por completo. Então ela avança com o carro para um salão grande e espaçoso cheio de carros: um estacionamento.
- Sério? Achei que seria mais impressionante do que isso. - falei.
- Calma, ainda não chegamos. Não usamos carros lá dentro, então os estacionamos do lado de fora e depois descarregamos nossas bagagens, apresentamos nossas identificações e marcas para os seguranças e só aí que passamos pelo portal.
- Nossa... Pera aí, você disse portal?
- É, o Refúgio não é um lugar. Ele é mais um outro mundo paralelo criado pela Essência para a nossa segurança. Só descendentes do Reino do Ar podem enxergar a entrada. Seu pai, por exemplo, não viu o chão se abrir como nós. Ele apenas nos viu desaparecer.
- Ah... deixa eu ver se entendi... Nós vamos para outro mundo é isso?
- Basicamente.
- Então tá. - falei, tentando absorver a ideia.
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Finalmente Livre
FantasyVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...