Quando percebi que tinha adentrado boa parte da floresta, parei de correr.
Olhei em volta e rapidamente a raiva se esvai. O som dos animais e o cheiro de mata sempre me traziam paz. Eu não sei porque, mas me sentia em casa.
Fui caminhando pela floresta que já conhecia como a palma da minha mão. Até que noto algo diferente. Noto não, sinto. Tem alguém diferente aqui. Vou andando para onde meus instintos me levam e logo a encontro.
Sentada encolhida num tronco, está uma menina que aparenta ter a minha idade. Seus cabelos ruivos escondem suas lágrimas, mas ainda posso ouvir seus pequenos soluços. Meu coração se aperta, assim como quando uma amiga minha é magoada. Por algum motivo, decido me aproximar da menina.
- Está tudo bem? - pergunto.
Ela pula de susto e se encolhe atrás do tronco, me observando com medo e curiosidade.
- Tudo bem, não vou te fazer nenhum mal. Pode confiar em mim. - digo, calma.
Desconfiada, ela se levanta devagar e se senta novamente no tronco, me encarando. Me aproximo e me sento ao seu lado. Tenho esse meu lado: Me preocupo muito com as pessoas, mesmo aquelas que eu não conheço.
- Qual é o seu nome? -pergunto
- Jackie. Desculpe a cena, é que estava meio assustada.
- Tudo bem, Jackie. E o que te traz a esta floresta?
- Bem, é uma longa história...
- Tranquilo, estou com tempo. Você parece estar precisando desabafar.
- Tudo bem.Para começar, eu tenho... tinha um namorado. Nos conhecemos na aula de química, história engraçada. Nós... - ela contou uma longa história, e desabafou tudo o que tinha que desabafar.
Me surpreendi e ouvi atentamente tudo o que ela me contava. Ter amigas significava, além de muitas outras coisas, saber consolar corações partidos. E saber ouvir faz parte do processo. Quando ela terminou de contar, estava chorando. Eu não estava errada: ela precisava desabafar. Eu a abracei e a confortei.
- Me desculpe por isso, é que não pude evitar...
- Está tudo bem - eu disse, serena
- Vai ficar tudo bem.- Bem... - ela disse, se desvencilhando do abraço e limpando as lágrimas - E você, por que está aqui?
- Sempre venho aqui quando preciso relaxar. Moro num casebre alguns quilômetros ao sul - eu digo, apontando a direção- E hoje eu meio que fugi de lá. Minha mãe, que no caso estava... em outro lugar desde que eu era pequena- achei melhor deixar de fora a parte do "presa" para ela não se assustar- voltou e quer que eu a aceite de braços abertos. Eu não sou dessas, sabe? Se ela acha que vai voltar anos depois e encontrar a filhinha que ela deixou, está muito enganada. Aí nós discutimos, meu pai entrou no meio e eu saí correndo de lá. Depois de um tempo, te encontrei aqui.
Ela acente e olha para o céu, assumindo uma expressão preocupada ao perceber que logo vai estar escurecendo.
- Você conhece a floresta ao norte?- ela pergunta, nervosa.
- Muito pouco, pois são terras privadas. Por que?
- Bem, meu acampamento é para lá e preciso de ajuda para voltar.
- Tudo bem, vamos. - digo, me levantando.
Fomos andando e conversando. Descobri que ela era muito parecida comigo. Era como descobrir uma melhor amiga em potencial. Ela aponta para o seu acampamento ao longe e paramos.
- Bem, amiga, foi bom te conhecer. Espero que nos encontremos de novo.
- Assim também espero. Mas, você agora tem meu telefone, pode me mandar mensagem se sua mãe fizer algo de novo. - sim, ela me deu o número dela.
- Claro! Vou mandar. Bem... Até não sei quando! - me despeço
- Até não sei quando! - ela diz, rindo. - Ei, a propósito, qual é mesmo seu nome?
- Angie. Angie Stanford.
- Tchal Angie.
- Tchal Jackie.
Ela vai embora correndo para o seu acampamento. De longe posso perceber duas grandes casas no estilo de cabanas. Parece ser divertido. Mas não posso me dar o luxo de ficar aqui admirando o acampamento enquanto a floresta escurece. Por sorte, meu celular ainda tem bateria, e ilumina o caminho à minha frente com a lanterna.
Por mais que ame esse lugar, nunca vim aqui durante a noite. Tenho medo de me perder ou algo do gênero. Ouço um farfalhar diferente no topo das árvores, que logo me deixa em alerta. Olho para cima em busca da fonte, mas não vejo nada. Até que uma criatura grande com asas salta de uma árvore para a outra. Deve ser só um pássaro grande.
A floresta é ainda mais encantadora durante a noite. Tudo nela vibra com um ar diferente. Quando olho para o relógio, já são oito da noite. Meu pai deve estar louco atrás de mim. Apresso o passo e sigo pelo caminho que vim.
[...]
- Angie? Ai, graças a Deus! Eu estava morrendo de preocupação! Onde você estava? - minha mãe pergunta
- Não devo satisfações à você. - respondo, grossa. Apesar de estar mais calma, ainda não concordo com isso.
- Mas deve à mim. - Meu pai diz, zangado.- Você acha que se manda? Você só tem 16 anos e não pode sair do nada para Deus sabe lá onde e voltar uma hora dessas dizendo à sua mãe que "Não lhe deve satisfações"! ONDE VOCÊ ESTAVA? - nunca vi meu pai assim, isso me assustou um pouco.
- Na floresta. - respondo, por fim.
- Sozinha? - meu pai parece mais calmo. Esse é o bom do meu pai: ele se alcama facilmente.
- Na verdade, estava com uma amiga. Você não conhece, o nome dela é Jackie.
- Jackie? - diz meu pai, de volta ao seu habitual bom humor. - adoraria conhecê-la depois. Agora, para o seu quarto. Anda, agora!
Dei um abraço no meu pai e subi as escadas até meu quarto. Coloquei meu pijama, sentei em minha cama e chequei meu celular. Havia uma mensagem de Pedro.
Mensagem on
Hey!! Seu pai acabou de me ligar, perguntando se você estava comigo e se eu sabia onde você estava... fique preocupado. Você está bem?
Logo respondo:
Estou bem, na medida do possível. Obrigada por se preocupar. Explico tudo à vocês amanhã.
xoxo, Angie.Mensagem off
Coloquei meu celular para carregar e o repousei na mesinha de cabeceira. Desliguei meu abajur e me virei para dormir. Bem, pelo menos tentei dormir. Mas a minha noite mal havia começado.
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Hey galerinha! E aí, curtindo a estória? Fortes emoções no próximo capítulo ein!
Gostaram da Jackie? Ela na verdade é a personagem principal de outro livro meu, chamado "Diário de uma adolescente em Crise" se quiserem, dêem uma olhada lá no meu perfil.
Espero que estejam gostando!#Votem
#ComentemXOXO, Isa ♥

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Finalmente Livre
FantasyVocê raramente acreditaria se te contassem que o mundo não é exatamente o que você imagina. Que as coisas ao seu redor vão muito além do que você vê e percebe. Fato, soa como baboseira hippie de algum culto. Era o que eu pensaria se as coisas não ti...