Capítulo 45

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De início, estranhou acordar em um hospital trouxa. Ou supunha que era um hospital trouxa.
Para começar tinha aquele cheiro característico de hospital, que ela sentia algumas vezes ao visitar o consultório dos seus pais. Achava que um consultório de um dentista e um hospital tinha o mesmo cheiro. Depois tinha aquela agulha enfiada em uma veia do seu pulso, incomodava-a quando se mexia, logo foi a primeira coisa que sentiu quando recuperou a consciência. E, por fim, os bips ritmados da máquina ao seu lado.
Os bips ritmados do seu coração. Muitos bips.
Incrível quantos bips um coração quebrado produzia.
Manteve os olhos fechados, ouvindo atentamente qualquer indício de uma pessoa no quarto com ela. Tirando os barulhos das máquinas, estava tudo em silêncio. Quando teve certeza de que estava sozinha, rumou seus pensamentos para outro assunto.
Como ela chegou ali?
Se lembrava de ir escondida para sua casa e... Não iria pensar sobre isso... Voltou para a mansão dos Black e... Sangue? Se esforçava para pensar a origem do sangue, mas não conseguia.
Tinha ficado em estado de choque? O sangue era dela? De Natasha? Dele? Ela não se lembrava de machucar ninguém!
Ignorando a dor esmagadora que sentia no peito, tentou ser o mais profissional que podia.
Alguém tinha trazido-a até ali. Algo tinha acontecido a ela, e ela não sabia ou não se lembrava. Teria alguém alterado a memória dela?
Abriu os olhos depois de cinco minutos e encarou o teto branco com uma lâmpada fluorescente, as paredes do pequeno quarto eram verdes, haviam duas cadeiras pouco confortáveis em um canto e uma janela do outro. As persianas estavam abertas e Hermione encarou o céu cinzento e cheio de nuvens. Provavelmente Londres.
Estava anoitecendo, ela também reparou. Reparou no criado mudo ao lado da cama com um espelho e um vaso de flor, também havia um controle ligado por um fio aos equipamentos médicos. Provavelmente para chamar uma enfermeira.
Ela reparou que estava usando uma camisola de hospital e que seus cabelos estavam soltos, porém mais curtos e finos do que eram. Pegou o espelho do lado e com espanto viu que estava com os cabelos loiros e lisos e olhos azuis. Assustada, pensando no que mais poderia ter mudado, passou a mão por cima da barriga e com alívio sentiu o volume que cada vez crescia mais.
Seu amado bebê estava bem.
Sabendo que não iria achar as repostas que procurava ficando ali fingindo estar dormindo, apertou o botão. Enquanto esperava, não pôde impedir seus pensamentos de fugir de seu controle.
Imagens da noite passada, presumindo que fosse noite passada, disparavam pela sua mente.
Natasha Romanoff de lingerie no gabinete de Tom. Tudo escuto e em silêncio, como um pesadelo que de alguma forma se tornou real. Tom chegando depois, a expressão surpresa quando encontrou ela a beira do choro.
Depois tudo o que se lembrava era de correr para a lareira no fim do corredor. E mais nada. Os bips ficaram mais frequentes e ela lutou para se acalmar e esquecer, de algum modo, o que viu.
Porém não conseguia.
A realidade de saber que o homem pelo qual ela lutou e traiu as pessoas que confiavam nela era por demais esmagadora. Ela matou por ele, ela lutou e lutaria por ele. Ela se casou com ele e engravidou dele. Ela fez sacrifícios por ele e não hesitaria por um segundo sequer em morrer por ele.
E, no entanto, ele traiu ela. Ele enganou ela. Ele, aquele dez vezes maldito, tratou o amor, a fidelidade e a confiança dela como se valesse menos que bosta de dragão.
Ela foi enganada. A brilhante Hermione, que sabia as respostas antes mesmo da pergunta surgir. E saber isso era muito pior do que ela julgava possível.
Depois de uns cinco minutos, uma mulher baixa e de pele morena entrou no quarto. Vestia branco e tinha os cabelos escondidos pela touca.
–Olá - ela cumprimentou com um gentil sorriso. - Parece estar bem. Está sentindo algo? A senhora pode estar um pouco confusa, é normal.
Diante da muda negativa de Hermione, ela começou a verificar os aparelhos e anotar os resultados na prancheta que levava consigo. Hermione se manteve em silêncio, observando a alegre enfermeira trabalhando.
–Sim... Bem, vejamos, a senhora nos pregou um grande susto, senhora Good.
–Preguei? - Ela perguntou forçando um sorriso, por dentro se perguntando quem foi o ser depravado que escolheu o nome falso dela.
Senhora Good? Casada com o senhor Good? Ha ha ha, que engraçado.
(NA: Good = Bom. Não explicarei a piada.)
–Ah, sim - a enfermeira de nome desconhecido sorriu para Hermione e se aproximou dela como se fosse partilhar um segredo. - Quase pensamos que fosse perder os bebês!
O coração de Hermione se acelerou.
–Bebês? - ela perguntou baixinho.
–Sim! Você não sabia? São dois garotos!
–Nossa... Isso é...
–Assustador? Muitas futuras mamãe acham isso, mas a maternidade é o melhor presente do mundo.
O sorriso presente no rosto da mulher fez Hermione se perguntar se ela era mãe. Não perguntou porque não era, de fato, importante para ela.
–A quanto tempo estou aqui? E, aliás, onde eu estou?
Melhor tratar de questões profissionais primeiro.
–Ah, sim, que cabeça a minha! Você está desacordada há dois dias, querida. E estamos no Saint Mary.
–E quem me trouxe aqui?
–Seu pai e seus irmãos.
Hermione não mencionou que não tinha irmãos e que seu pai nunca levaria a única filha para um hospital trouxa.
–O meu pai pode vim aqui?
–Sim. Eu vou lá chamá-lo
Quando a enfermeira sorridente, cujo nome Hermione não teve o interesse em perguntar, saiu ela teve uns poucos instantes para digerir a nova descoberta.
Ela não teria um filho. Teria dois. Dois meninos.
Eles seriam parecidos com ela ou com Tom? Seriam tão inteligentes como os pais? Seriam da Sonserina, já que são descendentes diretos do próprio Salaza Slytherin. O pensamento fez Hermione compreender que, apesar de tudo, ainda era uma orgulhosa Grifinória que era leal aos que amava e demasiado corajosa.
Poderia ser leal aos que muita gente dizia que eram os vilões, mas ninguém poderia negar que era leal. Mais até do que os que todos consideravam como "Grifinórios de sangue e alma". Ela, Hermione, era a perfeita junção da Sonserina e Grifinória. Era corajosa, leal e nobre e ambiciosa, astuciosa e certamente fazia tudo para conseguir o que queria. Acrescentando a inteligência de um Corvinal e certas virtudes de um Lufa-Lufa que reservava somente para certos felizardos, ela era uma importante aliada. Mesmo assim, Tom a tratou como se fosse apenas uma boba adolescente apaixonada. Uma boba adolescente apaixonada que por sinal era a legítima esposa dele e estava grávida dos filhos dele.
Oh, mas claro que aquilo não era importante. Suprir as necessidades masculinas que era importante.
Ela tinha tentado não pensar nele ou em Natasha, mas era impossível não pensar nem um pouco naquele grandíssimo e inegável filho da puta. Daquele ser feito da pior e mais fedida bosta de dragão, daquele...
Hermione teve a torrente de xingamentos parada quando a enfermeira sorridente entrou no quarto com um homem loiro igual à Hermione.
–Filha! - Ele exclamou parecendo feliz em encontrá-la acordada. - Oh, minha Hellen! Está se sentindo bem?
–Sim... Papai?
Ela reconheceu o homem loiro quando ele piscou marotamente para ela. Regulus ficou quase irreconhecível com os cabelos loiros e lisos. Agora ela também sabia que estava muito bem camuflada.
–Sim, Hellen? - Ele perguntou vendo o questionamento nos olhos agora azuis de Hermione. O entendimento veio quando ela fez um pequeno sinal em direção à enfermeira sorridente que estava com lágrimas nos olhos ao presenciar a aparente troca de carinho entre pai e filha. - A senhorita poderia nos deixar a sós, por favor?
–Ah, sim. O horário de visitas acaba às oito.
Eles mantiveram os ternos sorrisos até ouvirem os passos da enfermeira sumirem no lado de fora da porta. Depois, desfizeram os sorrisos e Regulus recuou até uma distância considerada respeitável. Apesar de tudo, Hermione ainda era a Lady das Trevas e Regulus, um subordinado.
–Regulus.
–Hermione.
–Por que eu estou em um hospital trouxa, de cabelos loiros e sob a indentidade de Hellen Good? - Parou, esperando a resposta de Regulus, mas continuou antes que ele abrisse a boca, lembrando-se de algo que a incomodava. - E Good? Quem foi o ser com questionável senso de humor que fez isso?
–Eu. Estava sob pressão, ok? E você não parava de sangrar pela... Por lá.
Hermione achou engraçado o constrangimento de Regulus, mas não era hora para rir. Era hora de ser profissional. Depois, ela tinha certeza, riria muito daquilo.
–O que aconteceu? Como eu vim parar aqui? Harry e Ron estão aqui? Nossa missão foi descoberta?
Hermione não queria dar a entender que ela se importava mais com a estúpida missão do seu estúpido marido do que com seus preciosos bebês. Porém como agora que eles estavam fortes e saudáveis, ela pensou que poderia pensar mais nos deveres que lhe fora dado.
Pensar na missão que Tom lhe dera a fez questionar se tudo era um pretexto para ele ficar mais perto de Natasha Romanoff. Ela era a melhor opção para espionar de perto Harry Potter. Ela era, na verdade, a única opção deles para esse dever. Mas a parte ciumenta e machucada de Hermione mal ligava para esses fatos.
–Assim que você chegou, começou a gritar e chorar. Então eu desci, já que estava no meu quarto e encontrei Harry e Ronald no corredor. Ouvimos vidro se quebrando e quando te encontramos, você tinha desmaiado, a mesa de centro estava quebrada e você estava sangrando muito. Por lá. Harry e Ronald disseram que você deveria ir para o hospital, mas não podemos ir ao Mungus. Quer dizer, podemos, mas eles não sabem disso. Harry disse que tínhamos de ir à um hospital trouxa. Não sabíamos se podíamos aparatar com você naquelas situações, então eu carreguei você levei você ao primeiro hospital que achamos. No caminho eu ensinei aos dois uns feitiços para mudar a aparência. Somos uma grande família agora. Eu sou o pai, Reginald White, Harry é o seu irmão mais novo que se chama Henry White e Ronald é o gêmeo de Henry, Roberto White. Você é Hellen White Good, seu marido Thomas Good morreu há dois meses, antes de você descobrir que está grávida.
–Obrigada pela ajuda.
–Isso é o que qualquer um faria. E você é a Lady das Trevas.
–De qualquer forma, obrigada. E nós somos mais que senhora e subordinado, Regulus. Somos primos e, creio eu, amigos.
Hermione só notou que estava chorando quando a visão ficou embaraçada. Ela não era tão sentimental normalmente, então perguntou-se se aquilo era efeito dos medicamentos ou de ser traída pela pessoa que ela mal confiava.
–Eu.. Acho que somos. E agora também somos pai e filha.
Hermione riu.
–Sim. Mas eu ainda quero saber de onde vocês tiraram esses nomes!
Regulus levantou a mão, como se não fosse culpado de nada.
–Foi Harry que escolheu! Ele achou melhor nos dar nomes parecidos com os verdadeiros, você sabe para não confundir. E os sobrenomes... Bem, o garoto está sob pressão. Nessas situações, o senso de humor fica...
–Eu sei.
Eles passaram uns instantes em silêncio. Casa um com seus pensamentos. Hermione notou que Regulus olhava para ela e abria a boca, para fechá-la logo em seguida. Ele queria perguntar algo, porém não sabia como.
–Algo a perguntar?
Ele olhou para ela surpreso. Depois de uns instantes ele começou cauteloso:
–Eu só queria saber... O que aconteceu lá. Você estava possessa quando chegou. Gritava, mas não dizia nenhuma palavra. E você quase perdeu os bebês...
–Então você sabe que são dois!
Hermione estava tentando ganhar tempo. E Regulus sabia.
–É. Ronald está muito... hm... feliz.
–É claro que ele está.
Ficaram mais um tempo em silêncio.
–Eu não quero falar sobre o que aconteceu. Não é porque eu não confio em você. Eu só não quero... Me lembrar.
–Entendo.
–Pode ir. Se quiser.
–Eu vou. Quer que eu mande os meninos?
–Não. Volte para casa. Diga que eu estou bem, que estou cansada e preciso digerir a boa nova.
–Voltar...? Você tem certeza?
Hermione sorriu diante da preocupação do homem.
–Sim. Não é como se alguém fosse entrar aqui e me matar. Sabe quando eu vou sair daqui?
–Amanhã, se tudo continuar bem. E você não vai ficar sozinha. Muitos Comensais viraram médicos daqui desde que você foi hospitalizada.
–Harry e Ron podem reconhecê-los!
–Harry e Ronald não conhecem esses.
Hermione suspirou, verdadeiramente cansada e fez sinal para que Regulus saísse do quarto. Depois ajeitou-se na cama e ficou pensando em seus dois bebês. Nos nomes que daria para eles, nas histórias que contaria, as próprias aventuras...
Sabia que, apesar da traição de Tom, ela não podia se voltar contra ele. Não podia trabalhar de verdade para a Ordem da Fênix. Estava envolvida demais na causa puro sangue. E ainda tinha seus pais e seus tios. Ela iria garantir que Lord Voldemort ganhasse a maldita guerra. Ela iria ter uma boa vida junto a seus filhos. Eles iriam viver com ela, e ela iria criá-los como boas crianças puro sangues deveriam ser criadas...
Depois da guerra poderia até matar Natasha Romanoff.
Porém não podia matar Tom. Tom era o pai dos seus filhos, apesar de tudo. E Tom era, como ela, imortal.
Se perguntou como era não envelhecer quando todos os seus amigos e família morressem. Sobreviver ao seus amigos, seus filhos e os filhos dos seus filhos... Parecia ser deprimente. Ainda mais agora que não tinha ninguém para compartilhar isso com ela.
Seus pensamentos corriam soltos, ela estava adormecendo. Viu a enfermeira entrar, porém não a viu sair.
Os medicamentos deram-lhe um sono sem sonhos, por isso estranhou o som de aparatação no seu quarto de hospital. Abriu os olhos, mas só viu sombras e uma parte iluminada pela rua, fora da janela.
Ela deveria ter imaginado o som, e era isso que dizia a si mesma enquanto virava para o lado e se preparava para voltar a dormir.
Teve seus planos arruinados quando um homem que ela conhecia muito bem saiu das sombras.
–Não vai dar um beijo em seu marido, querida esposa?

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