Capítulo 47

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Hermione estava sentada em um confortável sofá na sala da tapeçaria da família Black. Observava com curiosidade e interesse cada nome e retrato colado na parede. Ela não passava muito tempo naquela sala quando Ron e Harry encontravam-se na sombria casa, mas como eles e Regulus saíram para mais uma missão atrás das Horcruxes, deixando-a sozinha com a desculpa de sua gravidez avançada, ela não via problema em ficar lá, olhando melancólica para os muitos parentes com quem nunca falara. Também procurava um bom nome para seus filhos, e diante de tantos nomes, ela ficava cada vez mais indecisa. Quando achava um de que gostava, repetia diversas vezes, ora com a voz carinhosa, ora em tom firme, como quem repreende uma criança travessa.
Acariciava sua enorme barriga, agora com sete meses, eram frequentes as tonturas, enjoos e cansaços. Carregar duas crianças de uma vez estava se saindo mais difícil que Hermione esperava e cada vez mais sentia falta de sua mãe e tia Narcisa. Elas deveriam saber como passar pelas piores coisas da gestação. Até de Molly Weasley ela estava aceitando ajuda. Mas ela estava confinada com Regulus, Harry, Ron e Monstro e apesar de o elfo ser prestativo e fazer de tudo para o conforto de sua nova senhora, não era nenhum especialista em gravidez.
Ouviu a porta da frente se abrir violentamente e logo veio a extensa lista de xingamentos de Ronald Weasley, ditos entre gemidos e gritos de dor. Logo soube que algo estava errado, apressou-se a se por de pé, algo que estava se tornando mais difícil ao longo dos dias e pegar a sua varinha, esquecida em algum lugar do sofá. Quando os encontrou, na cozinha, Ron estava precariamente deitado na mesa de madeira, a camisa e os casacos escondiam, mas ela percebeu a grande mancha de sangue no abdômen dele. Regulus e Harry lançavam alguns feitiços de cura na ferida de Ron, que agonizava mais e mais, o sangue começava a pingar no chão constantemente.
Ignorando a ânsia que começou assim que sentiu o cheiro de sangue, Hermione tomou as rédeas da situação, chamou os meninos e, sem fazer nenhuma pergunta, ela mandou Regulus arranjar uma bacia com água morna e alguma toalha e Harry pegar alguns travesseiros e cobertores, já que Ron não podia ser movido nas atuais circunstâncias. Rasgou a camisa e os casacos dele com um feitiço e sentiu-se tonta ao ver o tamanho e profundidade do ferimento. Apoiou-se na mesa e se concentrou em convocar a sua bolsinha de contas, no seu quarto. Ela precisaria de Ditamno para curar aquilo. Respirou fundo e se sentiu aliviada ao ver a bolsinha vindo em sua direção. Fez mais um feitiço convocatório para conseguir o Ditamno mais rápido.
–Isso vai doer um pouco... – ela sussurrou em tom de desculpas.
Ela tremia muito, e na hora de botar o líquido dourado no ferimento de Ron e acabou botando mais do que planejava do líquido âmbar no tórax do ruivo. Fechou os olhos com força quando ele gritou, sentindo-se agoniada por estar ali. Começou a murmurar feitiços de cura, todos os que se lembrava e se controlava para não abrir os olhos e ver os resultados de seu esforço. Ignorava os gritos e gemidos de dor de Ronald, perguntando-se onde estariam Harry e Regulus. Quanto demorava para pegar uns cobertores e travesseiros? E para pegar um pouco de água e uma toalha? Teriam eles sido feridos também e ela não notara? Os dois poderiam estar agora mesmo morrendo em algum canto da grande casa, e ela estaria muito ocupada com Ronald para notar.
Sentia um pouco tola por estar naquele estado. Era um senhor ferimento, isso era inegável, ela sabia que se olhasse com atenção, poderia ver alguns órgãos de Ron por baixo de todo o sangue. Qualquer pessoa iria sentir-se tão mal quanto ela, mas mesmo assim ela pensava que era uma grande tola. Ela, Hermione, era a Lady das Trevas, já matara e torturara, era casada com o homem mais cruel do mundo bruxo, e ali estava ela, nauseada por um ferimento. Sua mãe já deve ter feito coisas piores quando estava grávida dela! Como ela iria ser respeitada se não conseguia nem olhar para um ferimento direito?
Respirou fundo e abriu os olhos. O ferimento estava com uma melhor aparência, não sangrava mais e isso agradou a Hermione. Ronald já tinha desmaiado pela dor, seria melhor que ele ficasse acordado com um ferimento tão grave como o dele, mas seria mais difícil se concentrar com ele gritando e gemendo sempre que ela lançasse um feitiço nele. Começou a tirar a blusa e os casacos dele. Estava tudo rasgado e empapado de sangue, ela já estava acostumada com o cheiro metálico do sangue naquela altura, então não teve dificuldades em fazer seu trabalho.
Harry e Regulus chegaram juntos, trazendo tudo o que ela pedira, ambos parecendo meio esverdeados e cansados. Ela fez um sinal para que Regulus se aproximasse com a bacia de água morna flutuando atrás dele, tinha as mãos cheias de toalhas.
–Ele desmaiou – ela explicou ao notar o olhar alarmado de Harry sobre o corpo inconsciente do melhor amigo. –Sei que nesses casos é melhor que o paciente fique acordado, mas seria muito cruel deixa-lo acordado. Ele iria sofrer muito.
Começou a limpar o sangue do corpo de Ron, as toalhas logo ficaram todas sujas e Ron ainda estava coberto de sangue. Chamaram Monstro para que levasse as toalhas sujas, jogadas em um canto qualquer da sala, e que trouxesse outras limpas. Ficaram em silêncio o tempo todo, Harry na porta, parecia que ia vomitar se chegasse mais perto do amigo, Regulus estava calmo, certamente já teria passado por aquilo muitas vezes na vida de Comensal da Morte e Hermione também estava estranhamente calma. Ela não sabia direito quando passou a poder olhar direto para o ferimento sem sentir a vista rodando pela tontura, mas agora se via calma e serena. Certamente não era assim que uma pessoa ficava quando cuidava do melhor amigo em uma mesa de madeira numa cozinha e sem nenhuma assistência profissional.
Não sabia porque tinha se esforçado tanto para salvar Ronald Wealsey. Na teoria eles eram inimigos, de lados opostos. Ron tinha ajudado e encobertado o assassinato do Sr. e Sra. Granger, que mesmo não sendo pais de Hermione, criam ela como se fosse filha deles e ela os amava como se fosse seus pais. E ela estava espionando para Lord Voldemort, seu marido, e ajudava ele a planejar muitos ataques a Ordem da Fênix.
–Eu acho que vou ter que dá uns pontos... – ela disse enquanto esperavam Monstro trazer mais toalhas. – Não sei nenhum feitiço para fechar machucados...
–Eu vou ver se acho o kit de costura de minha mãe. Deve servir.
Regulus saiu e deixou a bacia com a água avermelhada em uma cadeira. Harry parecia cada vem mais preocupado.
–Ele vai ficar bem – ela disse a ele. –Vai demorar para se recuperar, mas ele vai sobreviver. Sabe quem fez isso a ele?
Harry pareceu meio desconfortável com a pergunta.
–Foi... a sua... sua mãe?
–Bellatrix?
–É. Ela. Nós já estávamos com a Horcrux quando os Comensais apareceram, nós três não quisemos lutar, então só saímos correndo. Não dava para desaparatar lá. Então Ron se descuidou e Bellatrix o atacou. Sectumsempra.
–Ah. Bem, foi um belo feitiço. Mas ele vai ficar bem...
–Você foi demais curando ele. Tem talento.
–Obrigada. Estive tremendo de medo na maior parte do tempo.
Harry deu um sorriso compreensivo e se calou. Ficou escorado na porta e observando Hermione passar uma toalha úmida na testa no garoto.
Minutos depois, Regulus chegou com o kit de costura de Walburga nas mãos. Monstro vinha atrás dele, curioso para ver sua nova senhora curando um traidor do sangue sujo e indigno. Hermione nunca tinha levado pontos ou ao menos viu alguém levando pontos, por isso ela estava mais nervosa naquele momento do que quando estava lançando feitiço atrás de feitiço para parar o fluxo de sangue que saia da ferida de Ron.
–Acho melhor vocês saírem agora. Nunca fiz isso e não vai ser um trabalho agradável de ver. Monstro, você fica. Vou precisar da sua ajuda. E vocês dois podem ir tomando um banho ou comendo algo.
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–... Então o basilisco diz para a bruxa de Yorkshire: Se você... AI!
Regulus foi interrompido de sua piada quando sentiu uma dor insuportável em sua Marca, Hermione sentiu um incomodo formigamento no local, nada tão intenso como Regulus. Ela o viu morder a parte de dentro da bochecha para evitar um grito de dor.
Harry e Ron, que se recuperava lentamente, se entreolharam e Monstro estava observando aflito seu senhorzinho sentir tanta dor. Não sabiam o que fazer, nunca aconteceu de a Marca Negra de Reg ou de Hermione arder durante todos esses meses.
–Regulus? Você está bem? – Hermione conseguiu perguntar, ignorando a leve ardência no seu antebraço.
Ele só pode responder depois de algum tempo.
–Sim. Desacostumei-me depois de tantos anos.
–Vocês acham que ele está bravo ou que ele descobriu que você não está morto? – Harry perguntou.
–Eu não sei. Mas espero que isso não aconteça de novo. Doeu em você, Hermione?
–Só uma ardência. Em todo esse tempo que eu tenho ela... Vocês sabem... Desde o meu casamento, essa é a primeira vez que eu sinto algo...
Regulus riu.
–Você não sabe a sua sorte! Nos tempos antigos, você até estranhava quando não sentia nada.
Eles terminaram suas refeições em silencio, a bruxa de Yorkshire e o basilisco foram esquecidos e logo todos foram para seus quartos. Harry e Regulus ajudavam Ron subir as escadas, já que ele ainda não estava totalmente recuperado, e Hermione ia atrás lentamente, sua enorme barriga de quase nove meses ficava cada vez maior e mais pesada. A hora de eles nascerem se aproximava rapidamente e o pânico dela, assim como os dos três homens, aumentava. Ron e Harry sabiam que, presos na Mui Antiga e Nobre Casa dos Black e procurados por todo mundo bruxo, não tinham como ajudar Hermione quando a grande hora chegasse. E Regulus, que sabia que antes da hora chegar, Hermione seria levada pelo Lord, mas o tempo corria rapidamente e não tinha como entrarem na fortemente protegida Casa dos Black.
Estava deitada em sua cama, olhando fixamente para o teto, sua Marca ainda ardia e ela sabia que algo importante aconteceria naquela noite. Talvez um ataque ou algo mais importante. Ela não sabia. Arrumou-se como pode na cama e logo dormiu um sonho sem sonhos, estava exausta. Estar grávida era cansativo e seus dois bebês sugavam cada vez mais energia dela.
Acordou com um barulho muito alto vindo do andar de baixo. Que horas seriam? Talvez três, quem sabe. Hermione ouviu passos subindo as escadas e o barulho das portas dos quartos se abrindo. Os garotos também acordaram. Mais passos, cada vez mais altos. Talvez dez pessoas, mais ou menos. Ela sabia que eram Comensais, então não se preocupou em pegar a varinha ou se proteger.
Sentiu uma felicidade ao ouvir a famosa risada de sua mãe. Seu pai gritava para não machucarem ninguém, que o Lord cuidaria deles mais tarde. Ninguém falou nada sobre uma pessoa, supostamente morta a quase vinte anos, estar ali, viva, com eles. Ela se mantinha deitada e enrolada, estava calma.
A porta do quarto dela se abriu, um feixe de luz que entrava da janela iluminou seus pais, vestidos como Comensais da Morte, porém não estavam usando as máscaras prateadas. Ela sorriu e afastou o cobertor, pegando sua varinha no criado mudo, seus pais se espantaram com o tamanho dela.
–Filha. Seria bom você gritar agora. Estamos te raptando.
Hermione sorriu mais ainda e se pôs a gritar, pedindo socorro e clemência, enquanto seus pais a levavam presa pelos braços. Os outros Comensais seguram os três.
Ao passar, ela viu que Ron, Harry e Regulus presos com a maldição do corpo preso. Reg tinha um brilho malicioso no olhar, mas Ron e Harry olhavam aterrorizados para ela. Hermione sorriu internamente e soltou mais um berro, antes de ser levada para fora da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black.

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