Capítulo 8 - Alice

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Três meses depois

Inferno! Essa palavra resume o que eu estou passando na mão do Bruno. Ele me infernizava o tempo inteiro. Eu queria poder matar e responder todas as vezes que ele era grosso comigo. Até o Sr. Alex já comentou que não sabe o que acontece, porque Bruno é simpático com todo mundo. Fiquei sabendo pelos corredores que ele nunca tratou as secretárias dele dessa forma. Então ele me odeia muito. Nesses três meses que estou aqui, é raro os dias em que ele me tratou bem. E eu faço tudo direito, já recebi elogios de todos dessa empresa. Menos para o Sr. Bruno, para ele eu não tinha feito mais que a minha obrigação. Já perdi as contas de quantas vezes eu chorei por causa desse homem, e o pior de tudo é que ele me atraí. E eu me odeio por isso. Já me demiti milhares de vezes, mas ele me convence a ficar novamente e idiota do jeito que eu sou, eu fico.

[...]

Uma das minhas músicas preferidas começou a tocar e eu logo peguei meu celular dentro da bolsa e atendi. Estava tão perdida em pensamentos que acabei me desligando do mundo.
-Alô?
-Filha?
-Pai, que saudade!- falei emocionada. Muito tempo que eu não falava com ele.
-Minha princesinha, estou com tantas saudades!
-Eu também estou.
-Quando você vem ver a mamãe e o papai?
-Só no Natal.
-Mas ainda faltam 3 meses para o Natal.
-Eu sei, mas só vou ter folga nesse período.
-Como vão as coisas na empresa?
-Difíceis, o meu chefe tem feito de tudo pra minha vida virar um inferno aqui. Eu acho que ele me odeia desde a primeira vez que me viu.
-Oh minha querida, porque acha issa?
-Ele nunca é educado comigo, sempre é um grosso e me trata muito mal. - respondi com lágrimas nos olhos. - O Sr. Bruno ultrapassa os limites e pior de tudo que eu não posso responder. Seria tão mais fácil se eu falasse tudo que eu penso. Tiraria um peso das minhas costas.
-Filha, se for demais, desista. A lanchonete está indo bem e você poderá se virar até arrumar outra coisa.
-Pai, eu quero ficar aqui. Tenho os meus sonhos e aqui consigo realizar mais fácil.
-É você quem sabe, princesinha. Irei te apoiar em qualquer decisão. E sua mãe também.
-Eu sei que sim. Amo muito vocês dois!- falei com dificuldade. As lágrimas estavam sufocando já.
-Te amamos muito também! Preciso desligar. Sua mãe está mandando beijos.
-Ok pai, beijos para vocês dois. - desliguei e limpei uma lágrima que escapou. Levantei a cabeça e dei de cara com o Sr. Bruno me encarando.
-Eu não te odeio Alice. - falou e me deu um sorriso triste. - Só odeio as lembranças que me trás. - completou e suspirou. E pela primeira vez eu vi que o Bruno divertido que todos conhecem é só uma máscara. Como eu nunca percebi? Ele é triste!
-Sinto muito que tenha ouvido minha conversa. Eu precisava atender.
-Família sempre em primeiro lugar. - suspirou e balançou a cabeça. - Pena que estou tão longe da minha!
-Eles moram em outro lugar?
-Não. Nos afastamos por outros motivos, mas que não vem ao caso. - respondeu tomando sua pose de homem forte. - Trouxe esses papéis pra revisão e depois guarde-os e preciso daquela pasta falando da empresa Ferraz.
-Sim, irei pegar para o Sr. - levantei e arrumei minha saia.
-Vá almoçar Alice, depois do almoço você pega pra mim. - me deu um sorriso de lado e entrou em sua sala. Peguei minha bolsa e fui almoçar com a Talita. Ela falava sem parar sobre um cara que estava interessado nela enquanto eu pensava no Bruno e em quanto ele se mostrou vulnerável na minha frente. Eu vi tanta dor naquele olhar que até todo ódio que eu sentia por ele me tratar mal, passou.
-Alice, ouviu o que eu disse? - acordei dos meus pensamentos e encarei a Talita.
-Não, desculpe? Estou tão distraída.
-Percebi... Estava te falando que acho que estou interessada no Felipe. Ele é tão bonito, e um rapaz direito. Eu casava com um homem desse.
-Investe nele.
-Ele não está nem aí pra mim.
-Vou te ajudar com isso!- falei e vi um brilho nos seus olhos que me fez rir. Olhei no meu relógio de pulso e faltava 15 minutos para o meu horário de almoço acabar.
-Preciso ir agora ou meu querido chefe vai querer me matar.
-Vou com você.
Estávamos voltando para a empresa conversando.
-Podíamos marcar de ir em uma boate esse fim de semana, né?- Talita sugeriu e eu revirei os olhos. Nunca mais voltei em uma balada desde do dia em que fui parar na casa do Bruno, até hoje não sei o que aconteceu.
-Melhor não.
-Fala sério, Alice. - protestou, mas eu resolvi ignorar.
-Melhor eu ir andando. - dei um beijo nela e segui meu caminho. Antes de ir para minha mesa, passei pra pegar a pasta.
Depois de deixar a pasta em cima da mesa do Bruno, voltei para minha mesa e me desliguei do mundo. Precisava analisar essa papelada antes dele assinar.
-Alice, o papel já está na minha mesa?
-Sim Sr. - no momento em que eu respondi ouvi a porta da sua sala bater. Estúpido!
Terminei de ler os 7 relatórios que ele tinha me entregado e quando olhei, já era hora de ir embora. Peguei minhas coisas e me encaminhei para o elevador. Eu estava achando elevador mais seguro, porém continuava com medo. Esse cabos podiam acabar arrebentando e caindo comigo aqui dentro e eu morrer. Deve ser horrível morrer dessa forma e pior de tudo: morrer sozinha.
Assim que entrei no elevador e respirei fundo, logo ouvi alguém pedir para segurar. Fiz o que a pessoa pediu e quase me arrependi. Era o meu estúpido chefe.
-Obrigado. - falou e eu olhei para ele chocada. Ele estava me agradecendo? É isso mesmo? Para tudo! Esse momento tinha que ser gravado.
Estávamos descendo tranquilamente quando o elevador parou. Merda! Será que eu ia morrer agora?
-O que aconteceu?- perguntei nervosa.
-Não sei. - respondeu apertando um botão freneticamente. - O elevador parou. - acrescentou.
-Ai, meu Deus!- falei ficando com dificuldade pra respirar, ele me olhou sem entender.
-Vai me dizer que tem medo? - perguntou e eu concordei com a cabeça. - Você tem que tentar ficar calma e respirar devagar. - falou e pegou o celular. - Sem sinal e o seu?
-Sem sinal também. - respondi depois de pegar o celular.
-O jeito é esperar!- ele sentou no chão e tirou o paletó, a gravata e abriu os primeiros botões da camisa social. - É melhor se sentar também. - resolvi fazer o que falou.
Não sei quanto tempo ficamos em silêncio, mas aquilo não estava me ajudando em nada.
-Será que podemos conversar?
-Sobre o quê?
-Qualquer coisa, só vamos falar.
-Desde quando descobriu que tinha medo de elevador?- perguntou.
-Desde do dia que fiquei presa 5 horas dentro de um sozinha. E também, vai que essas cordas que sustentem o elevador arrebentem.
-Essas cordas, como você mesmo diz, são de aço. - respondeu divertido.
-Eu sei.
-São quase impossíveis de se arrebentar. - sorri lembrando de uma frase de um filme. - Falei algo engraçado?
-Não, é que eu me lembrei de um filme.
-Que filme?
-De pernas para o ar 2, é que tem uma cena que a mãe da Ingrid Guimarães fala sobre o relacionamento ser de aço.
-Como assim?
-Ela diz que é bom quando um relacionamento está por um fio. Esse fio é de aço. Sofre, estica, balança, mas nunca arrebenta.
-Difícil encontrar um relacionamento que valha a pena você construir algo de aço, como você mesmo diz. - falou sério.
-Verdade.
-Você gosta muito de filmes, né?
-Sim, teve uma época em que eu ficava vendo filmes o dia inteiro. Estava depressiva e filmes assim me relaxavam.
-O que aconteceu pra você ficar depressiva?
-Descobri que meu noivo me traía.
-Traição hoje em dia é tão normal.
-Ele me traiu com o melhor amigo dele.
-Peraí, ele é gay?
-Não que eu tenha preconceitos, mas eu fiquei acabada.
-Cara, você é muito azarada. -ele deu uma gargalhada e eu senti uma coisa estranha no meu peito. - Nunca percebeu? Ele nunca deu sinal?
-Parando pra pensar agora, sim. Ele adorava meus cremes. - respondi rindo.
-Me conte mais sobre seus relacionamentos.
E alí nós embarcamos em uma conversa agradável.

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