Capítulo 32 - Alice

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Desci do táxi e encontrei meu pai sentado na varanda. Eu corri na sua direção e recebi um abraço apertado. Algumas lágrimas apertaram e eu não consegui segurar. Chorei muito, mas estava me sentindo em paz. Enfim, eu tinha um refúgio.
-Vai ficar tudo bem, princesa Alice. - meu pai falou. - Mas o que aconteceu?
-Pai, ele me usou. - falei limpando as lágrimas.
-Como assim?
-Ele só estava comigo porque eu sou parecida com a ex dele que morreu.
-Minha querida, eu sinto muito. - ele passou a mão pelos meus cabelos e eu respirei fundo.
-Estou tão cansada.
-Descansa, querida.
-Eu quero ver a mamãe antes. - abaixei a cabeça. Era muito triste falar da minha mãe ou estar perto dela, desde que ficou doente eu tinha essa dificuldade. Antes do Alzheimer, ela era cheia de vida. E ver ela agora sem lembrar das coisas ou cuidar das suas plantas como sempre fazia, era horrível.
-Ela está descansado, durma primeiro e depois você fica com ela um pouco.
-Tudo bem. Vou fazer isso. - fui para o meu quarto e me joguei na cama. Era o que eu precisava.

[...]

Acordei e já estava anoitecendo, levantei e tomei um banho. Fui direto para o quarto da minha mãe. Bati antes de entrar e abri a porta.
-Oi. - falei e ela me olhou com a testa franzida.
-Quem é você?
-Sou a Alice, sua filha.
-Eu não tenho filha. - ouvir aquilo me machucou um pouco.
-Tudo bem.
-Cadê aquele moço que vem aqui sempre? - perguntou e parecia estar nervosa com alguma coisa.
-Ele foi pra lanchonete. - ouvi leves batidas na porta e uma mulher entrou depois. Deve ser a enfermeira que cuida dela.
-Olá. - ela era simpática.
-Oi. - respondi e vi minha mãe sorrir pra ela.
-Como vai, Vera?
-Estou bem, você conhece essa moça?
-Sim, ela é sua filha. - olhou pra mim e sorriu. - Prazer querida, meu nome é Márcia.
-Prazer.
-Seu pai me ligou avisando que estaria aqui.
-Cheguei hoje. - olhei no relógio. - Acho que vou dar uma volta.
-Tudo bem, até mais tarde. - sentou ao lado da minha mãe e pegou uma revista. Fiquei olhando minha mãe por um tempo e resolvi ir logo.
Estava saindo quando ouvi o meu nome.
-Princesa Alice?- olhei pra minha mãe e sorri. Fazia tempo que ela não me chamava assim.
-Sim.
-Filha, você está linda. Vem aqui me dar um abraço. - abriu os braços e eu corri na sua direção. Eu precisava do abraço dela. Lágrimas caíam dos meus olhos e eu não quis segurar. Eu sentia falta dela.
-Eu te amo tanto. - passei a mão pelo seu rosto e ela limpou minhas lágrimas.
-Eu também te amo, princesa Alice. - me deu um sorriso. - Cadê aquela caixinha que eu fiz pra ela? - olhou pra Márcia, que na mesma hora levantou e pegou a caixa. Era uma caixa toda desenhada e cheia de pequenos bilhetes dentro. Era a letra da minha mãe.
-É pra mim? - perguntei.
-Sim, é pra você. Mas não leia agora, só quando a saudade estiver grande. - me deu um abraço. - Preciso descansar agora! - fechou os olhos e vi sua respiração acalmar segundos depois. Saí do quarto e fiz sinal pra Márcia vir junto.
-Quando ela fez isso? - perguntei.
-Quando eu começei a trabalhar para o seu pai, isso já estava pronto. Só que às vezes ela me mostrava, e dizia que iria entregar a Alice quando ela viesse aqui. Ela sente muito a sua falta.
-Eu sinto muito a falta dela também!
-Imagino que sim, agora vá dar uma volta. Imagino que esteja precisando. - me deu um sorriso e entrou no quarto.

[...]

Estava deitada perto do lago que tinha perto da minha casa. O céu hoje estava lindo. Eu estava em casa e tudo não poderia estar melhor, só o fato de que eu queria que o Bruno estivesse aqui apesar de toda a cachorrada que ele me fez. Precisava ouvir a voz dele. Peguei meu celular e liguei restrito.
-Alô?- a voz dele estava rouca, talvez estivesse dormindo. - Alô? Quem tá falando? - respirei fundo. - Alice, é você? - as lágrimas caíram, eu sei que aquilo era uma tortura. - Amor, fala comigo. Eu sei que é você! - encerrei a chamada. Fechei meus olhos e resolvi esquecer tudo aquilo. Será que eu seria capaz de perdoar o Bruno? Talvez, mas sempre teria um pé atrás com ele. Afinal, eu sempre iria me comparar com a Laura.

[...]

Três dias que eu estava aqui e nada melhorou. Só fica pior. A falta que o Bruno faz já tá apertando, minha mãe parece estar piorando e meu pai está agitado com contas e remédios pra pagar.
-Pai, vou ficar na lanchonete hoje pra ajudar. - falei e saí. Ele nem me respondeu, acho que nem prestou atenção no que eu disse.
Cheguei na lanchonete e fui para o caixa. Fiquei lá até o fim do dia.
-Alice, você vai fechar a lanchonete? - perguntou Janete, a cozinheira.
-Sim, você pode ir. Só vou fechar o caixa.
-Até amanhã. - me mandou um beijo e saiu.
Estava fechando o caixa quando ouvi o sino da entrada bater, avisando que alguém tinha entrado.
-A lanchonete já está fechada. - falei sem olhar.
-Eu sei. - minhas pernas tremeram na hora. Levantei o olhar e não acreditei no que estava na entrada da lanchonete.
-Bruno?

Aprendendo A RecomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora