Capítulo 43 - Alice

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Abri os olhos devagar e vi um teto branco. Onde eu estou? Tentei levantar, mas meu corpo inteiro doeu. Merda!
-Ai. - resmunguei e ouvi um barulho de algo caindo. Olhei para o lado e me surpreendi ao ver meu pai. - Pai? - chamei com dificuldade. Minha garganta estava seca
-Princesa, você acordou! - me deu um beijo e apertou um botão.
-O que aconteceu comigo? - engoli em seco, minha voz estava muito fraca.
-Você não se lembra?
-Não. - forcei a memória e nada.
Meu pai me encarou por um tempo e segundos depois uma enfermeira entrou.
-Olá, Alice. - falou surpresa ao me ver.
-Oi.
-Você se lembra de alguma coisa? - pensei uns minutos e tudo ficou claro na minha mente. Neguei com a cabeça.
-Você sofreu um acidente, um carro bateu no seu com muita força. - ela me deu água com a ajuda de um canudo. Que alívio poder beber água. - Beba devagar.
-Nossa! - pousei a mão sobre a minha barriga e tentei entender o porquê de fazer aquilo. Senti os olhos dos dois no mesmo local e vi aflição. Merda! Meu bebê!
-Meu bebê está bem? - perguntei e eles se entreolharam.
-Alice, você acordou! - eu conheço essa voz. Olhei na direção da voz e dei um sorriso fraco. Era o Bruno! Senti os braços dele me envolverem forte e eu estremeci. - Eu senti tanta a sua falta! Eu te amo tanto! Você me perdoa por tudo? - eu não estava entendendo bem. Recebi milhares de beijos no rosto.
-Tá tudo bem, eu também te amo. - falei. - Mas agora eu quero saber sobre o meu bebê? Ele está bem? - perguntei olhando nos seus olhos que rapidamente desviaram para outro lugar. Olhei para todo mundo e as coisas começaram a fazer sentido.
-Não, não, não. - eu não queria que isso tivesse acontecido.
-Amor, eu sinto muito. - Bruno falou e eu olhei pra ele nervosa.
-Meu bebê, eu quero ele de volta.
-Alice, ele não resistiu. - ele tentou me consolar, mas eu não queria que ele me encostasse. As lágrimas desceram e eu dei um grito de dor. Era a pior coisa que eu já senti no mundo.
-Você precisa se acalmar. - a enfermeira falou, mas eu não queria me acalmar, eu queria meu bebê de volta.
-A culpa é sua! - olhei para o Bruno e vi tristeza no seu olhar.
-Eu sei.
-Você deve estar feliz em saber que esse bebê não vai mais nascer. - cuspi aquilo nele e vi uma lágrima descer dos seus olhos. Vi a enfermeira botar algo no meu braço e eu tentei me desviar daquilo, mas ela conseguiu enfiar aquela agulha no meu braço e eu apaguei.

[...]

Abri os olhos novamente e vi Bruno deitado no sofá olhando para o teto. Pousei a mão sobre o meu ventre e respirei fundo tentando conter as lágrimas. Ele percebeu meu movimento e me olhou.
-Precisa de alguma coisa? - neguei com a cabeça. Eu não queria falar. Aquilo estava me machucando. Saber que meu bebê não estava mais alí, acabou comigo. Eu preferia ter ido no lugar dele.
-Alice, eu quero falar com você. - olhei pra ele e vi um misto de emoções, sendo a tristeza a mais aparente. - Eu quero te pedir perdão por tudo? Eu deveria ter agido totalmente diferente quando soube da sua gravidez. - ele respirou fundo e continuou. - Mas eu tive medo e estava assustado.
-Você acha que eu não? É sempre a mesma coisa, o seu medo sempre atrapalhando. Eu imaginei que iria ficar surpreso, não que me diria palavras tão duras. Você me magoou muito.
-Eu sei, eu errei. E no momento em que eu te deixei naquele apartamento, eu tive vontade de voltar. Mas eu sabia que as coisas entre a gente não estariam bem e quis evitar uma briga pior. - fiquei em silêncio, não tinha o que falar, mas as lágrimas começaram a cair. - Eu sei que está doendo, minha pérola. - ele me abraçou e eu deixei. - Está doendo em mim também.
-Você nunca quis esse bebê, não acho que esteja doendo em você.
-Claro que está, você não sabe o quanto. Eu não imaginei que doeria tanto. Eu perdi dois filhos.
-Dois? - perguntei confusa.
-O seu e o da Laura. - deu de ombros e olhou para um ponto qualquer.
-É verdade. Quando será que eu vou poder ir embora?
-Não sei. - respondeu e me deu um olhar. - Thor está sentindo sua falta.
-E eu a dele. - falei.
-Eu quero falar uma coisa pra você.
-O quê?
-Talvez o seu acidente não tenha sido realmente um acidente.
-Oi?
-Alice, talvez, tenha sido uma tentativa de assassinato.
-Meu Deus! - falei indignada.
-Um delegado e um detetive vão vir falar com você ou aqui ou na nossa casa. - respirei fundo. Eu tinha tomado uma decisão e sei que iria doer muito em mim, mas eu não sentia mais que as coisas seriam boas entre a gente.
-Bruno, eu preciso de um tempo. - falei e ele me olhou como se não me entendesse.
-Tempo pra quê? - respirei fundo e fechei os olhos.
-Eu preciso me afastar de você, esquecer esses problemas e tentar passar uma borracha em tudo.
-Você está me deixando? - ele respirou fundo. - Não, eu não posso viver sem você.
-Eu preciso desse tempo.
-Não, não, não... - ele puxou os cabelos e andou de um lado para o outro. - Eu te amo, o que mais preciso fazer pra você entender isso? Eu não quero ficar longe de você.
-Vai ser melhor para nós dois. - falei e um médico entrou no quarto.
-Olá, soube que acordou e já sabe de tudo.
-Oi. - Bruno abaixou a cabeça e ouvi ele fungar.
-Atrapalhei?
-Não Dr., o Bruno já está de saída. - falei e Bruno saiu do quarto meio abalado.
-Podemos conversar um pouco? - pediu e eu concordei. - Então, você sabe que ficou desacordada durante 1 mês, né?
-Não. Nossa! Foi muito tempo. Eu estou bem?
-Sim, você teve muita sorte.
-Sorte? Dr., eu perdi meu filho. Não acho que tenha tido sorte.
-Você poderia ter perdido a vida.
-Talvez ter ido no lugar dele seria uma ótima opção.
-Alice, imagino que perder um filho é triste, mas sabe o que é bom? Você pode tentar de novo daqui a três meses. Você tem uma vida inteira pela frente. Que tal você tentar recomeçar?
-Acho que seria uma boa ideia. Quando eu vou ter alta?
-Se tudo estiver bem com você nos exames de hoje, daqui a 2 dias. Tudo bem?
-Tá. Obrigado, Dr.
-De nada, meu dever é esse.
Conversamos sobre várias outras coisas, só que eu estava acabada. Terminar com Bruno dessa forma foi doloroso, mas necessário. Eu preciso recomeçar e ele também.

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