Capítulo 33 - Bruno

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Quatro dias sem Alice e eu já estava delirando. Eu estava morrendo de saudade dela.
Desci do avião e fui para um hotel. Agora preciso saber aonde os pais dela moram e aonde é a lanchonete dele. Resolvi começar a procurar.
Andei pelo centro e fiquei pensando. Ele mora em um chalé, não devem existir muitos aqui.
Achei uma mercearia e resolvi perguntar alí. Entrei e tinha um senhor alí.
-Boa tarde. - falei tentando mostrar simpatia. Tudo que eu menos estava conseguindo ser era simpático.
-Boa tarde, deseja algo?
-Estou procurando uma pessoa, será que o senhor pode me ajudar?
-Sim.
-Estou procurando o Seu Ricardo, ele é dono de uma lanchonete. Casado com a Vera, tem uma filha chamada Alice.
-Ah rapaz, o que deseja com ele?
-Coisas pessoais, mas é com a Alice. Preciso encontrar ela.
-Esse horário ele deve estar na lanchonete, depois que a Vera ficou doente ele fica lá só pra fechar.
-A Sra. Vera é doente?
-Ela tem Alzheimer. A família se acabou, a princesa Alice foi embora cedo para a cidade pra tentar ajudar o pai. - eu fiquei chocado. Alice nunca comentou isso comigo.
-Nossa! Imagino como deve ser difícil.
-É, uma barra. Qual seu nome rapaz?
-Bruno e o senhor?
-Alfredo.
-Pai, sabe quem está trabalhando na lanchonete do Seu Ricardo hoje? A princesa Alice. - uma moça entrou falando. Ótimo! É pra lá que eu preciso ir.
-Por que vocês chamam a Alice de princesa? - perguntei curioso.
-A mãe dela só chamava ela assim, então acabou pegando. - ele respondeu com um sorriso.
-Entendi. Agora pode me passar o endereço da lanchonete?
-Posso sim. - olhou no relógio. - Mas hoje é terça, fecha mais cedo. Melhor correr.
-Ela disse que não iria demorar a fechar não. - a moça estava me olhando com um sorrisinho de lado.
-Eu chego rápido lá. - respondi confiante. Ele me olhou com um sorriso enorme. Anotou em um papel e me entregou. Peguei minha carteira e tirei um dinheiro pra ele.
-Não, não quero o seu dinheiro. Só vá atrás da princesa Alice. - falou e eu sorri. Corri pra lanchonete e quando cheguei uma mulher estava saindo.
-Thor, se comporte!- saí rápido do carro e fui até a mulher.
-A lanchonete está fechada?- perguntei e ela me olhou estranhamente.
-Sim.
-A Alice está sozinha?
-Quem é você?
-O namorado dela. - sorri e entrei.
O sino que fica na porta anunciou minha chegada.
-A lanchonete já está fechada. - falou sem me olhar.
-Eu sei. - ela levantou o olhar e ficou sem reação.
-Bruno? - acho que ela não acreditou que eu estava alí.
-Oi, Alice. - dei um sorriso fraco pra ela.
-O que você está fazendo aqui? - perguntou saindo de trás do balcão e parando na minha frente.
-Vim conversar, eu não to suportando ficar longe de você. - ela engoliu em seco.
-Não temos nada pra conversar. - falou olhando nos meus olhos. Ela estava séria.
-Temos sim, você precisa me ouvir. E eu não vou sair daqui até a gente sentar e se resolver.
-Tudo bem. - desviou o olhar e seguiu para uma mesinha. Sentamos e ficamos nos encarando por um tempo.
-Alice, apesar de ter achado no início que se parecia com a Laura, eu não acho mais isso.
-Bruno, não mente pra mim.
-Eu não estou mentindo pra ninguém. Estou abrindo meu coração pra você e espero que respeite isso. Pensei muito esses 4 dias que ficamos longe um do outro, e eu só pude ter uma certeza: eu te amo muito mais do que eu achava. O que eu sinto por você não chega perto do que eu sentia pela Laura. Hoje eu sou maduro, sei o que é amar de verdade. Na época da Laura, eu era imaturo. Não pensava direito, fazia tudo por impulso. Eu posso dizer hoje com toda certeza do mundo que eu te amo.
-Eu também te amo. - falou e eu senti meu coração bater mais forte.
-Amor, eu preciso de você de volta na minha vida. Eu não tenho paz.
-Se eu voltar pra você, vou ficar insegura pra sempre.
-Insegura com o que?
-Vou sempre achar que quando está me olhando, está vendo a Laura.
-Alice, vocês são diferentes. Acho que eu só falava que você se parecia com a Laura pra tentar te afastar da minha vida. Eu te amei no momento em que eu te vi e eu queria negar isso pra mim mesmo.
-Me tratando mal a todo o momento. - falou mais pra si do que pra mim.
-Eu queria distância e eu sabia que afetava você. Na minha cabeça aquilo era errado, eu não queria me deixar ser dependente de outra mulher. Eu evitei isso por anos, e olha que mulheres não me faltaram pra me entregar, mas com você era diferente. Eu sabia que você me mudaria. E você realmente me mudou. Você me transformou em uma pessoa melhor. Eu te amo e estou disposto a qualquer coisa. Casa comigo? - pedi e ela me olhou. Seus olhos brilharam e ela começou a rir. - O que eu falei de tão engraçado?
-Você me pediu em casamento?
-Pedi, qual é a graça?
-Você sabe como isso é louco, né?
-Alice, eu estou botando meu mundo aos seus pés.
-Eu preciso pensar, casar é uma coisa muito séria. Você está pronto pra assumir essa responsabilidade?
-Estou. - ela ficou em silêncio me observando.
-Você só está fazendo isso porque está medo.
-Não, estou fazendo isso porque realmente encontrei alguém com quem quero dividir minha vida. Alice, eu imploro se você quiser. Mas eu só preciso que você volte pra mim. Eu não suporto mais essa tristeza. Eu só quero saber que quando eu chegar em casa, você vai estar lá pra me receber. E quando eu for dormir, você vai estar lá pra dormir agarradinha comigo. E que eu vou poder me perder profundamente em você todos os dias da minha vida, até eu morrer. - vi uma lágrima descer dos seus olhos. Levantei e sentei ao seu lado. Limpei as lágrimas que saíram.
-Eu não aguento mais sofrer.
-Eu não aguento mais ficar longe de você!- ela me deu um sorriso fraco e eu a abraçei. Senti seu perfume e pude ficar em paz, o cheiro dela me trazia paz.
-Eu te amo tanto. - uma lágrima escapou dos meus olhos.
-Eu também te amo, Bruno. Promete não me esconder mais nada?
-Prometo, mas só se você prometer que vai aceitar casar comigo? - ouvi sua risadinha.
-Prometo pensar. - me olhou e eu dei um beijo nela. Um beijo meio desesperado, mas era saudade.
-Vem, não é só eu que estou sentindo sua falta!- levantei e estendi a mão pra ela.
-Preciso fechar a lanchonete. Me espera lá fora.
-Tudo bem. - saí e minutos depois ela saiu.
-Quem que está sentindo minha falta também? - perguntou e eu tampei seus olhos. - Você e essa mania. - dei um tapa na sua bunda e ela riu. - Outra mania feia.
-Você gosta. - a levei até o carro. Abri a porta em que Thor estava pulando já e tirei uma das mãos dos seus olhos, quando ela viu Thor, ela enlouqueceu.
-Meu bebê, você veio também!- ele pulou, latiu, lambeu e pareceu feliz em ver ela.
-Ele sentiu sua falta, mas eu senti mais. - falei e ela me olhou.
-Eu também senti sua falta.
-Vamos para o hotel?
-Não, eu tenho que ir pra casa.
-Alice, nós voltamos?- perguntei nervoso.
-Não sei.
-Posso te encontrar amanhã?
-Pode sim.
-Quero conhecer seus pais.
-Você pode vir conhecer o meu pai aqui amanhã.
-Quero conhecer sua mãe também.
-Bruno, é complicado.
-Eu já sei sobre ela e fiquei muito triste em saber que nunca tinha me contado.
-Cada um com seus segredos. - abaixou o olhar.
-Você tem vergonha da sua mãe?
-Jamais. Só não queria receber esse olhar que está me dando e que todos dessa cidade me dão.
-Sinto muito.
-Eu também. - suspirou. - Eu tinha 17 anos quando deram o diagnóstico. Eu fiquei arrasada, mas o meu pai ficou mais. Nossa vida virou de cabeça pra baixo.
-Eu imagino que sim.
-Tentamos vários tratamentos, mas não tem jeito. E só piora a cada dia. - puxei ela para os meus braços.
-Podemos conversar com o melhor médico, se você quiser. - falei.
-Não, eu sei que não tem mais jeito. Não quero criar falsas esperanças. - suspirou e se afastou com Thor ainda no colo. - Ele pode ficar comigo?
-Pode.
-Meu pai vai adorar você, bebê.
-Eu te levo em casa, entra aí. - abri a porta pra ela entrar e logo depois nós saímos.

[...]

Parei em frente a um chalé e observei o local. Tinha um lago um pouco a frente.
-Obrigada pela carona.
-De nada, Srta. - ela me deu um sorriso fraco. - Tudo bem com você?
-Uhum.
-Nos vemos amanhã?
-Sim... Quer mesmo conhecer meus pais?
-Quero.
-Passe aqui em casa amanhã.
-Ok. - sorri pra ela e desci do carro. Alice já tinha decido com Thor no colo. - Vou sentir sua falta! - falei passando a mão na cabeça do Thor.
-Ele também vai sentir sua falta! - deu um sorriso.
-Até amanhã.
-Tchau, Bruno. - me deu um beijo na bochecha e se virou pra ir embora. Eu não queria um beijo na bochecha. Puxei seu braço rápido e dei um beijo nela tentando em vão matar a saudade. Ela retribuiu com a mesma intensidade e se entregou totalmente nesse beijo.
-Eu preciso de você!- falei enquanto beijava seu pescoço. Encostei ela no carro e a beijei novamente. Ela puxou meus cabelos levemente e quando estávamos totalmente sem fôlego, nos separamos.
-Até amanhã!- ela me deu um sorriso e resolveu entrar. Thor estava sentado observando tudo. Ela o pegou e entrou em casa. Sorri e resolvi sair com o carro.

[...]

Cheguei no hotel e fui direto para o meu quarto. Tomei um banho e deitei naquela cama enorme.
Parecia que tudo estava entrando nos trilhos novamente. Mas eu não tinha esquecido a Bianca não, eu iria me resolver com ela. Ela me destruiu durante 4 dias e eu nunca esqueceria isso.

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