Capítulo 30 - Alice

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Eu estava um lixo e precisava de um refúgio e não tinha. Resolvi dar uma volta, sentei num banquinho e fiquei observando as pessoas passarem por alí. Até que vi uma pessoa vir na minha direção.
-Alice? - Clara estava surpresa.
-Oi, o que está fazendo aqui?- perguntei tentando não mostrar meu sofrimento.
-Ah, eu estava saindo da loja. - apontou para a boutique dela. - E você? Que carinha é essa? - sentou ao meu lado e eu respirei fundo para chorar alí mesmo.
-Briguei com o Bruno. - dei de ombros.
-Mas todo o casal briga, logo vão se resolver.
-Dessa vez não, a coisa foi um pouco mais séria. - falei e uma lágrima escapou.
-O que aconteceu?
-Eu descobri umas coisas, mas deixa pra lá.
-Você tem que voltar pra casa e conversar com ele.
-Não vou voltar pra lá, vou achar um lugar pra ficar.
-Eu posso te levar pra minha casa.
-Eu arrumo um hotel, não precisa se preocupar.
-Que isso, eu vou te levar pra minha casa e ponto.
-Clara, isso realmente não é preciso.
-Alice, nós somos amigas agora. E apesar de não saber o que aconteceu com vocês dois, eu não vou te deixar desamparada.
-Tudo bem, obrigada.
-Vamos pegar um táxi.
-Eu to de carro.
-Ótimo, vamos então. - ela me puxou e nós fomos conversando até chegarmos na sua casa.

[...]

-Cheguei. - Clara entrou falando e logo foi atingida por duas crianças. Esse amor que ela tinha com os filhos era tão lindo.
-Oi, mamãe morreu de saudades de vocês!
-E de mim? - Alex apareceu e parou quando me viu. - Alice, aconteceu alguma coisa?
-Grande homem, deixa de ser curioso. - foi até ele e deu um beijo rápido. - Também senti sua falta!
-Oi, tia Alice. - Bia falou e eu abaixei pra abraçar ela.
-Oi, minha princesinha.
-Tia, quando nós vamos tomar sorvete de novo?
-A tia vai te pegar um dia. - falei sorrindo. Ela me fazia bem. Acabei me encantando pela Bia em um dia que Bruno pegou as crianças pra tomar sorvete e eu fui junto. Aquela tarde foi tão divertida. Ficamos eu, Bruno, Bia, Pedro e Ana Liz a tarde toda brincando e fazendo bagunça.
-Tá. - me deu um beijo na bochecha e foi atrás do pai.
-Oi, tia. - Pedro falou sério, como sempre. Eu não entendia porque ele era tão sério, mas acho que era timidez.
-Oi, meu menino bravinho. - apertei o narizinho dele e ganhei um sorriso fraco e logo depois um abraço apertado.
-Já sei com quem vou deixar nossos filhos quando a Ana não puder ficar. - Alex falou e eu ri.
-Sempre que quiser. - fiz um carinho no cabelo do Pedro e ele saiu correndo. - Alex, será que eu posso falar com você um assunto da empresa?
-Eu vou dar licença pra vocês.
-Não precisa, é coisa rápida.
-O que deseja, Alice?
-Demissão, eu vou voltar para casa dos meus pais. Vou pegar um vôo amanhã mesmo.
-Tem certeza que quer isso?- Alex perguntou confuso. - Mas e você e o Bruno?
-Não posso ficar com ele, não sou eu que ele quer.
-Alice, eu sei de tudo e sinceramente nunca vi o Bruno tão animado com uma coisa. Ele levou você pra morar com ele, trouxe você pra conhecer a gente, coisa que ele nunca fez com ninguém. Muito menos com a Laura.
-Quem é Laura? - Clara perguntou.
-Depois te explico, pequena.
-Eu não posso, saber que eu sou parecida com ela me destruiu. Eu preciso ficar longe disso tudo.
-Vamos fazer assim: você fica lá quanto tempo achar necessário. E quando se sentir preparada, você volta. Tudo bem?
-Tá, obrigada.
-Agora vem, você precisa descansar. - Clara me levou para um quarto e me deixou confortável lá. - Boa noite, dorme bem. - fechou a porta e eu deitei naquela cama. Achei que seria fácil dormir, mas não. Sentia falta dele. Meu corpo era tão dependente do dele que até o calor que eu sentia a noite quando estávamos abraçados dormindo, eu já estava sentindo falta. A sua respiração no meu pescoço, sua risada, os tapas que ele dava na minha bunda e o jeito debochado dele. Cretino! Me deixou dependente e me usou esse tempo todo. As lágrimas saíram e eu não fiz questão de limpar. Queria tirar tudo aquilo de mim.
Agora eu vou voltar pra casa e esquecer que um dia eu conheci Bruno Mendes.

[...]

Quando o dia amanheceu, eu já estava pronta e com a passagem comprada. Resolvi ligar para o meu pai pra avisar. No segunto toque ele atendeu.
-Oi, princesa.
-Oi, papai. - minha voz já estava embargada.
-O que aconteceu, meu amor?
-To voltando para casa, quando eu chegar eu te explico tudo.
-Oh meu amor, vai ficar tudo bem.
-Eu acho que não. - suspirei tentando me acalmar.
-Com o tempo as feridas saram, não é mesmo?
-Essa eu acho que não vai sarar nunca.
-Filha, quando você caía de bicicleta você me dizia a mesma coisa. A dor era tão forte na hora que você achava que nunca iria passar, mas 10 minutos depois você já estava brincando de boneca ou desenhando. Não que essa ferida dure 10 minutos para sarar, vai levar mais tempo. Mas você não deixe ela te ganhar, tá?
-Tá bom. Eu amo tanto você e a mamãe.
-Nós também te amamos.
-Eu sei.
-Estarei te esperando, boa viagem. Beijos.
-Beijos. - desliguei e limpei as poucas lágrimas que caíram.
Peguei minhas coisas e saí do quarto. Quando cheguei na sala, Clara estava deitada no sofá vendo tv com o pequeno Pedro, que já dormia novamente.
-Bom dia. - falei e ela me olhou assustada.
-Bom dia, acordou cedo!
-Na verdade, eu nem dormi.
-Algo te atrapalhou?
-Alguém me atrapalhou.
-Não me diga que eu e o Alex... - não terminou a frase de tão envergonhada que estava, não aguentei e ri. - Meu Deus! Me desculpa?
-Clara, eu sinceramente, não ouvi nada. O meu problema é o Bruno, e foi a saudade que eu senti que me atrapalhou a dormir. - falei e ela suspirou aliviada.
-Você tem certeza que vai deixar ele aqui?
-Eu preciso de espaço nesse momento.
-Promete voltar? Nem que seja pra se despedir?
-Prometo. - dei um sorriso.
-Antes de você ir, vamos tomar um café reforçado. - me puxou pra cozinha e nós tomamos um café.
No meio do nosso café da manhã, Alex saiu com um sorriso enorme. Será que ele é a única pessoa que acorda feliz todo dia? Nunca vi esse homem de cara emburrada, desde que eu fui trabalhar na empresa ele está sempre de bom humor.
-Bom dia, amor da minha vida. - passou por mim e abraçou Clara e deu um beijo intenso bela.
-Bom dia, meu grande homem. - Clara falou com uma voz rouca. Fiquei em silêncio observando eles, eram uma família feliz. Espero um dia ter uma família assim.
-Senti sua falta na cama, por que acordou tão cedo? - eles esqueceram do mundo a volta deles.
-O Pedro me chamou, você não ouviu ele indo lá no quarto?
-Não, eu estava muito cansado.
-Imagino o motivo. - deu um sorriso e ele mordeu a bochecha dela. Ela deu um leve tapa no braço dele e foi até a geladeira. Alex então me olhou e ficou envergonhado.
-Bom dia, desculpe é que...
-Relaxa, bom dia pra você também.
-Acordou cedo hoje!- falou e me encarou.
-É...
-Desistiu de ir embora?
-Não, eu vou daqui a pouco. - respondi com um mínimo sorriso.
-Entendi. - ele olhou alguma coisa no celular e pareceu pensativo. - Pequena, se importa se eu der uma saidinha rápida?
-Não, mas aonde você vai?
-Eu? - ele me olhou nervoso, mas desviou o olhar rápido. - Eu vou na empresa pegar um papel muito importante.
-Alex, o que a gente combinou? Nada de trabalho final de semana. Poxa, você trabalha a semana inteira e quando chega no fim de semana quer trabalhar também. - falou irritada.
-Eu não vou demorar, prometo. - deu um beijo na testa dela e foi para o quarto. Clara ficou de cara feia e quando Alex voltou para dar um beijo nela, ela não deixou.
-Eu preciso ir agora, meu vôo sai em uma hora e até chegar lá, pode demorar. - falei enquanto eles tinham uma pequena discussão.
-Quer que eu te leve? - Clara perguntou deixando Alex para lá.
-Não precisa, você já fez muito por mim. - dei um abraço nela e olhei para o Alex. - Obrigada por tudo.
-Quer ficar mais um dia? - Clara perguntou.
-Não, eu vou ficar bem.
-Se precisar de alguma coisa, estaremos aqui. - Alex me deu um abraço e saiu.
-Detesto quando ele faz isso!- Clara olhou para a porta em que Alex tinha acabado de sair.
-Eu sei como é. - respondi lembrando do Bruno, detestava quando ele fazia isso.
-Homens. - revirou os olhos. - Não quer que eu te leve mesmo?
-Não, eu vou sozinha mesmo. - peguei a minha bolsa e dei um abraço nela.
-Volte quando quiser. - Clara parecia estar emocionada. Eu detestava despedidas.
-Melhor eu ir agora, ou eu vou me atrasar. Fala para as crianças que eu deixei um beijo. - saí rápido antes que eu desistisse de ir embora.

[...]

Estava dentro do avião já, as lágrimas desceram mesmo sem eu querer. Eu sabia que nada mais seria o mesmo, eu não sou mais a mesma. Mas eu iria me recuperar, eu pelo menos espero que sim. Era tudo o que eu mais queria.

Aprendendo A RecomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora