Nos labirintos da ansiedade

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Lena, a jovem com a cicatriz de corte no rosto, nunca foi uma escrava ingênua. Para ela nunca existiu a possibilidade de desenvolver com seus senhores uma relação paternal ou familiar. Os sofrimentos lhe ensinaram o quanto isto era impossível. E agora, mais do que nunca, a revolta lhe parecia a única saída para uma vida injusta. Mas, sem que desejasse, algo ainda mais opressor e revoltante do que a escravidão veio ao seu conhecimento. E, para seu horror, ninguém mais parecia ser capaz de impedir.

Por isto, naquele dia de tensão, enquanto ela fazia pães para Hermíone, tudo a irritava. Ate mesmo o sorrizo que Nephele lhe dirigia. Sua melhor amiga, que acrescentava mais farinha na massa de pão, tinha um sorrizo de satisfação no seu rosto bonito. Ela comentava com Lena:

– Você viu Gálem ontem nos ajudando? Estou me sentindo muito mais próxima dele, agora, quando estamos todos na revolta. Mas, desconfio que Naala gosta dele.

– Pode ser, Gálem é perfeito. Lindo e ,agora ,corajoso. Qualquer uma se apaixonaria por ele. – respondeu Lena, que enlouquecia por dentro, enquanto tentava esconder seus sentimentos e conversar com naturalidade. – quando ele era apenas bonito mais de metade das meninas era apaixonada por ele.

– Foi realmente muito especial ele ter se apaixonado por mim.

– Foi, mas havia muitos troianos que queriam isto. E isto fazia sentido. Ele era o menino mais bonito, você era a mais bonita. – Lena se esforçava por manter-se tranquila. Nephele a conhecia bem, qualquer sinal que ela desse podia fazer todos os seus planos desaparecerem.

Nephele respondeu:

– Você disse bem " eu era." Quando crescemos, Diône e Trífone ficaram altas e com um corpo lindo, e eu virei uma planície sem montes.

– Pare com isto, Nephele. – A voz de Lena soava um pouco irritada – Você tem lindas pernas, e, além disso, isto não é tão importante.

– Então, acha que tenho chances de conquistar Gálem de novo?

Lena estava contrariada com a pergunta, Nephele entendeu completamente errado o que ela disse.

– Nephele, estamos no meio de uma luta por liberdade, e isto não importa tanto agora.

–Lena, que isto? Eu não estou fazendo tudo que posso pela revolta? O que acha que eu estou falhando?

Lena se arrependeu do tom que falava. Sabia que não podia ficar irritada.

– Você esta sendo ótima : eu sabia que daria uma ótima líder das meninas. O modo como você conversou com Iole ontem... eu sabia que seria uma boa líder.

– Iole está indo por um caminho perigoso. Está claro que ela esta apaixonada pelo soldado grego. Ela precisa se afastar dele. Já imaginou se tiver de ir contra ele na "colheita"?

– Você sabia que Iole se aproximou de Dheon por causa da "colheita"? Ela achou que se o seduzisse poderia usar isto a nosso favor. Mas, na verdade foi ela que se apaixonou por ele.

– Algumas estratégias realmente são perigosas. Falando nisso, já me decidi sobre Cadmus. Não vou mais seduzi-lo.

– E, quem vai fazer isto, Nephele? Seu papel é muito importante. Precisamos distrair Cadmus para conseguir envenenar o vinho. É o vinho que vai mudar nossos números no dia banquete.

– Eu não vou me rebaixar seduzindo um homem. Eu acho que qualquer mulher que usa seu corpo esta se rebaixando. Eu não vou fazer isto... E, afinal porque Naala não a faz mesmo isto? Já que se acha uma bela rainha? Ela mesma poderia seduzir Cadmus... Mas, não, ela quer ser sempre ser a maior que todas. Ela me pede para seduzir Cadmus enquanto ela continua intocável.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora