Perdida num mundo místico

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O terraço estava todo cheio daquela fumaça branca com um aroma que lembrava alecrim. Nephele ouvia a voz de Andrômeda cantando coisas sem sentido.

Quem é como Tu?

Quem é como Tu?

Entre os deuses do Olimpo, quem é teu rival?

É fácil a chama de a ira acender

Mas quem pode o seu incêndio apagar?

Finalmente, Nephele viu Andrômeda, ela dançava balançando o seu véu. A melodia era simples e repetitiva, mas Andrômeda estava fora de si, de tanta alegria.

É fácil uma espada desembainhar?

Mas, quem convence o coração ferido a perdoar?

É fácil o poder conquistar,

Mas quem do trono o pobre pode enxergar?

Agora Andrômeda estava dançando no alambrado do terraço. Nephele não entendia como ela não caía. Ela estava com os olhos quase fechados e mexia suas mãos e seus braços enquanto cantava:

Quem é como Tu?

Quem é como Tu?

Entre os deuses do Olimpo,

Quem é teu rival?

Quem é como Tu?

Quem é como Tu?

Quem o trono dos homens merece ocupar?

Nephele queria fazer algo para impedir a louca Andrômeda de cair, ao mesmo tempo estava estática observando a cena, sem saber o que pensar. Os longos cabelos escuros de Andrômeda voavam para cima com o vento, pareciam que estavam enfeitiçados, e às vezes, pareciam acompanhar a melodia:

Quem é como Tu?

Quem é como Tu?

Quem a dor de um verme é capaz de escutar?

Então, subitamente, Andrômeda abriu os braços e pulou para baixo. "Suicídio, suicídio de uma louca", Nephele pensou. Ela correu escadas abaixo, atravessou a átrio e chegou à entrada do palácio.

Andrômeda estava ali, ilesa, e continuava cantando e dançando em círculos. Mas, não havia mais fumaça. E, a troiana de vestido azul e branco repetia a mesma melodia, mudando um pouco o que dizia, o que fazia Nephele perceber que estava no meio da elaboração da letra.

É fácil a espada de a vingança empunhar,

Mas, quem ao ferido faz perdoar?

É fácil as alturas do poder conquistar,

Mas quem ao pobre baixa o olhar?

Quem é como Tu?

Quem é como Tu?

Quem a dor de um verme é capaz de escutar?

Então, Andrômeda parou e sorriu enquanto olhava para o vazio. Depois de um tempo em silêncio olhando para o nada, viu Nephele, parecia que finalmente tinha saído do seu transe. Mas nisto Andrômeda caminhou na sua direção e começou a falar com a mesma alegria. Ela disse:

– Quando conversei com o príncipe Nicostratos, e ele concordou em fazer o que eu tinha pedido, eu queria muito comemorar. Eu queria que meu coração explodisse de alegria. Mas, eu senti paz.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora