Destino de Afrodite

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Galem subia as montanhas ladeando o rio. Enquanto ele repetia para si mesmo.

– Foi destino de Afrodite, destino de Afrodite. Não sou um traidor. Eu queria a liberdade para o meu povo. Eu queria reconstruir Tróia. Mas, foi destino de Afrodite, foram as flechas do Cupido. Eu queria a liberdade para os troianos, os deuses sabem como eu queria.

Gálem subia as montanhas, fazia o caminho tortuoso do rio Eurotas. Sabia que seguindo as voltas do rio poderia demorar talvez duas vezes mais do que seguindo o caminho mais reto pela cidade e Amiclae, mas Gálem não se importava com isto. Sua mente estava tortuosa e ele não queria se encontrar com mais ninguém.

Por alguns momentos Gálem se acalmava lembrando de uma pele macia e um corpo delicado. Uma mulher que ele sabia que jamais teria se ele tivesse lutado apenas pelos troianos. Uma mulher que entre os troianos, ele sabia, que não existia nem uma igual. Haviam troianas bonitas, Trífone, Diône. Mas, elas não possuíam a beleza de Hermíone. A princesa tinha aquela pele macia tratada com cremes. Aqueles óleos aromáticos sobre o cabelo. Até a boca de Hermíone tinha um cheiro gostoso. Um cheiro de vinho. Gálem amava cada detalhe de Hermíone, seus vestidos, seus brincos. Gálem amava todo o seu ser, ela tinha uma beleza que jamais ele encontrou numa troiana. E, para Gálem, nem mesmo Helena era tão bonita quanto ela.

Gallen olhava para as paredes de terra que havia do seu lado direito e esquerdo. Ele atravessava um lugar que poderia ser descrito como um pequeno canion, apesar de ser formado apenas por paredes de terra seca, e uma vegetação rala. Gálem imaginava se escondido acima daquelas paredes não estaria Tércio, o esperando com alguma flecha. Ele se arrependia por ter pensado que podia ter seu irmão e ao mesmo tempo Hermíone, agora sabia que seu destino era apenas Hermíone. Tércio nunca entenderia tudo que havia acontecido com ele.

Tudo havia começado num dia Hermíone mandou chamar Gálem para lavar os seus pês. Gálem estendeu suas mãos acariciando as pernas da princesa, e a princesa se entregou a ele sua virgindade. Isto foi antes do seu noivado com Neoptoleno, filho de Aquiles. Mas, depois deste dia Hermione não queria mais vê-lo. Hermíone só desejava Tértulo. Ela o tratava apenas como um brinquedo de que estava cansada. Gálem sabia precisava mostrar poder para ter novamente a jovem nos seus braços, precisava conquistar o seu respeito. Mostrar que não era apenas um escravo. Que era mais forte do que o próprio Tértulo. Ele tinha que lhe mostrar que era o único que podia liberta-la daquele casamento indesejado. E havia uma forma fácil e simples de fazer isto. Uma forma que conquistaria o amor de Hermíone para sempre.

Gállen não imaginava que uma conversa tão simples poderia levar a um destino tão diferente do que ele havia imaginado.

Ainda assim, ele repetia para si mesmo que não era culpado de tudo aquilo. Tudo era destino dos deuses. Ele não havia planejado acabar com os troianos, tinha planejado apenas uma noite de amor com Hermíone. Ele havia sido vítima de Cupido, assim como os troianos haviam sido um dia.

Com ele havia acontecido o mesmo que com Páris, o príncipe filho do rei Priamo. Gálem conhecia toda a história que os sacerdotes contavam a respeito de Páris. Quando Paris nasceu vários presságios diziam que ele causaria a destruição da cidade de Tróia. Foi por isto que seu pai, mandou que um dos seus pastores o matasse. O pastor porem teve pena do bebê e cuidou da criança. Quando jovem as deusas do Olimpo, Afrodite, Heras e Atenas o encontraram no campo, pedindo a ele que escolhesse qual delas era mais bonita. Páris elegeu Afrodite como a mais bela das deusas, foi quando Afrodite lhe prometeu a mulher mais bonita do mundo. Pouco tempo depois Páris acabou se encontrando com sua família e o pastor que o criou revelou a verdade. Seus pais, encantados por verem que o filho que devia estar morto, na verdade, era um jovem tão agradável, receberam Paris no palácio. Foi assim, já na condição de príncipe, que Páris foi enviado a Esparta numa missão diplomática. Foi quando se apaixonou por Helena, esposa de Menelau. Páris amava sua família, amava Tróia, mas pelo destino dos deuses se envolveu com Helena e causou a destruição de todos.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora