No dia em que Neoptoleno haveria de desembarcar em Helos para o noivado, Hermíone, surpreendentemente, acordou de bom humor. Quando Hermíone se levantou já era tarde, quase meio dia, e tudo lhe pareciam perfeito. O sol parecia brilhar para ela. Sentada numa Kline, a agradável cadeira feminina, Hermíone reparava suas escravas.
– Nephele, não quero que lave meus lençóis deixe esta tarefa para Lena, ela é mais discreta.
Hermíone reparava na mancha de sangue que estava no lençol que Nephele tirava do leito. Aquilo significava que ela não era mais virgem. Na noite anterior Hermione havia entregado sua virgindade a um escravo. Hermíone buscou um espelho que havia sobre a mesa, olhou sua própria imagem no espelho e sorriu. Ela estendeu as mãos para a bacia que estava logo abaixo do espelho e lavou seu rosto. Então, olhou seu rosto novamente.
Era bela e sensual. Reparou os seus lábios, grossos e sedutores. Seu nariz, não tão delicado como o de sua mãe, mas a deixava ainda mais poderosa. Era maravilhosa, e não se sentia nem um pouco culpada ou suja. Sentia-se livre. Sua mãe podia controlar seu destino, podia até definir seu casamento. Mas, não era dona do seu corpo e dos seus desejos. Ela era livre, não uma escrava.
Hermíone trazia viva em sua memória à noite anterior. Ela havia sido de outro homem, um homem que nem mesmo era um cidadão livre. Ela se sentia dona dos desejos e prazeres. Hermíone sorria. Agora, era o momento de se encontrar com Neoptoleno. E, ela iria para este encontro se sentindo livre e feliz.
Lépida e Nephele ajudaram Hermíone a se banhar e se vestir. A cor do vestido era um azul claro um tom tanto discreta, coisa que agradava ao estilo de Helena. Mas, o cinto dourado que dava várias voltas no corpo da noiva, destacavam suas formas , fazendo com que a jovem se sentisse tranquila com sua aparência. Hermíone sentia-se pura, delicada e sensual. Com passos suaves, sob a sandália dourada, ela desceu as escadas em direção ao salão dos banquetes familiares.. Ele ficava logo abaixo do quarto de Hermíone, embora não houvesse uma escada que levasse do seu quarto a este salão.
No começo daquela manhã o navio de Neoptoleno havia se aproximado da praia. O rei Menelau recepcionou Neoptoleno e o conduziu até ao palácio. No meio dia realizou se a engises, a cerimônia de noivado. Hermíone, seguindo os costumes gregos não participava da cerimônia. Era um compromisso entre o pai da noiva e o noivo. Mas, Lépida levou Hermíone por uma entrada que era usada apenas pelos escravos, e dali ela observava a cerimônia, tentando não ser vista.
Menelau e alguns convidados comiam e bebiam juntos. Hermíone não conseguia adivinhar quem devia ser Neoptoleno. Então, depois de um tempo Menelau se levantou do leito do banquete e se dirigiu a um dos convidados. Era Neoptoleno. Menelau falou num tom solene:
– Eu te dou esta filha para selar a aliança entre Esparta e Epiro e para trazer herdeiros da linhagem dos deuses.
– Eu a recebo junto a um dote da região do monte Megali, recebo isso também com prazer.
Menelau e Neoptoleno apertaram as mãos. Hermíone pode observar melhor o seu noivo. Não podia dizer que e Neoptoleno era feio, nem era tão velho como imaginou que seria. Devia ter no máximo cinco anos a mais do que ela. Era alto e forte, musculoso e tinha no braço uma cicatriz que devia trazer da guerra de Tróia, e que ressaltava a bravura do filho de Aquiles. O rosto parecia ser um tanto simpático. Mas, ainda assim, mesmo tendo uma boa aparência, Neoptoleno não podia ser comparado ao escravo que Hermíone tivera na noite anterior.
Hermíone ria para si mesma satisfeita com sua escolha. Como era mesmo o nome daquele escravo? Hermíone não se lembrava. Mas isto não era importante. O importante é que Hermíone tivera uma noite incrível. Ela desafiara sua mãe, seu futuro marido, desafiara o seu próprio povo. Ela se sentia grande. Além disso, o belo escravo lhe pertencia, e estava à mercê de seus desejos, ao contrario de um marido, a quem ela deveria servir.
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A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poder
Fantasi"... 4 homens, 4 mulheres, 4 caminhos para o poder: força, astúcia, sedução ..." Tróia está em ruínas e Páris morto, mas Helena encontra forças e relembra o que aprendeu com o amor. Ao voltar para casa ela enfrentará o rancor de sua filha Hermío...