A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poder

Vingança de Irmão

 Tércio olhava a lebre que havia colocado num espeto improvisado, na própria flecha com a qual havia caçado o jantar. Era uma das flechas que Gálem trouxe de Esparta, e não tinha a qualidade que Tércio imaginava, por isto ele não importou de usar uma como espeto. Enquanto a lebre assava numa fogueira seu irmão contava empolgado sobre as oportunidades em Epiro. Ele explicava que a cidade de Epiro deveria estar agitada com a perspectiva de Neoptoleno se tornar rei de todo o Peloponeso

–Tercio, você precisa aprender a ver as oportunidades que existem para além da escravidão. Em Micenas eu consegui um emprego e um salário para gastar conforme eu queria. Eu acredito que em Epiro as oportunidades serão ainda maiores. Você tentou se vingar, mas não conseguiu nada, agora deve esquecer o passado e partir para uma nova etapa da vida.

Galem falava com a mesma confiança de sempre, uma confiança que atraía a atenção de qualquer um que ouvisse, até mesmo dele que era seu irmão. Era muito bom se reencontrar com seu irmão, se dar conta de que os dois eram livres. Sim, talvez fizesse algum sentido tentar seguir a vida dali em diante e esquecer todo o seu passado.

Os dois irmãos estavam sentados no interior da caverna. Por trás do seu irmão, Tércio via as paredes de rochas não talhadas, que apesar de tão irregulares deixavam um espaço amplo para os dois. O espaço era iluminado pela entrada ampla da caverna, onde Tércio via uma vegetação quase rasteira balançando com o vento.

Era bom estar ali com seu irmão, mas seria muito melhor, se não fossem as dúvidas e a insegurança que de vez em quando surgiam na mente Tercio. Ele se lembrava do seu último encontro com Andrômeda.

Andrômeda havia se encontrado com ele há poucos dias. Dissera várias coisas sobre o Príncipe de Uranon, e sobre seu reino que não lhe fazia sentido algum. Mas, algumas palavras dela o perturbavam. " Tercio você prosseguiria com a sua vingança se tivesse que lutar contra seu próprio irmão? Você e Nicostratos são como irmãos para mim. Ele me salvo de Nemanas, ele me salvou da rainha Helena. Os dois se preocupam com minha vida. Eu não quero ver um contra o outro. Eu sonho com um mundo onde grego e troiano, podem se perdoar e viver como irmãos. "

"Você continuaria com a sua vingança se tivesse que lutar contra seu irmão?" A pergunta se repetia na mente de Tercio enquanto ele ouvia Galem explicar o caminho para Epiro. Ele nunca havia ido para aquela região, mas falava com segurança sobre a viagem e os lugares onde fariam paradas. 

– Você vê? Não é tão longe...

Gálem se levantou e se dirigiu para fora, de onde voltou com mais alguns galhos para a fogueira. Tércio finalmente abriu a boca, e desabafou uma pergunta que o incomodava.

– Gálem. você era amante de Hermíone?

– Porque pergunta isto?

– Pensei nisto hoje cedo. Nephele disse que Hermíone tinha um amante troiano. Bem, ninguém entre os troianos era tão bonito quanto você para atrair a atenção da princesa.

– Sim, eu me deitei com ela uma vez.

– Porque nunca me contou que era amante de Hermíone?

–Tércio, não tive oportunidade, e não queria deixar você preocupado. Você também não me contou que era apaixonado por Stesha. E lembra que sempre tivemos o acordo, de não ficarmos muito tempo juntos para não atrairmos a atenção de Tértulo? Já não fazíamos isto antes da revolta, quanto mais nela. – A voz de Galem soava tranquila, mas o movimento das suas mãos era agitado.

– Porque eu ficaria preocupado? Trífone seduzia Nicostratos, Dione, Tértulo, não me importaria de você seduzisse a princesa, a menos que você estivesse apaixonado por ela.