Terra de mentiras

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Aletha, que já tinha uma barriga saliente de 7 meses , fechou os olhos e recuperou o folego. Por alguns instante ficou no silêncio sem ouvir nada a não ser sua respiração. Então, olhou para sua frente e viu o longo caminho que havia percorrido.

Elas vieram desde o palácio ladeando o rio Eurotas. Logo após o planalto do palácio havia as vides, no lado esquerdo e direito do rio. Aletha se lembrava de que o terreno, apesar de parecer quase plano dali de cima, se elevava lentamente. No lado esquerdo do rio, numa pequena elevação, estava à casa de Hepomenes, responsável pelos chiqueiros e pelo pomar. Algumas árvores carregavam frutos, peras e romãs, outras flores que dali de cima Aletha não podia mais ver. Também havia algumas arvores frutíferas, esparsas, na margem do rio. Após os vinhedos, e o pomar estava o campo de cevada e de trigo. O trigo ainda não havia sido plantado. Mas, o campo, à direita e esquerda do rio já fora preparado. A terra estava fofa, fora revolvida pelo arado puxado casal de bois que o oikos possuía.

A voz das escravas interrompeu o olhar silencioso de Aletha. Galateá continuava o velho assunto:

– Meus tios e meu avo foram fortes quando eram jovens. Eles lutaram com os heráclitas.

– Galatea– agora era Calidora que respondia--- seus parentes não lutaram com Hercules, eles lutaram contra Hércules, que queria devolver o trono de Esparta ao seu verdadeiro rei. Meu povo é que descendem dos filhos de Hércules, não os heliotas.

Aletha não queria prestar atenção naquela conversa, tinha saído para do palácio com outros propósitos. Mas, agora era impossível não escutar o assunto polêmico que suas escravas conversavam. Calidora, como Aletha, pertencia ao povo grego, aos aqueus. Galatea era heliota.

Galatea argumentou:

– Os Heliotas, não são um povo covarde, são os primeiros aqueus que habitaram na região de Esparta.

– Eles podem ser aqueus, mas não lutaram do lado de Hércules, eles haviam se revoltado contra o rei, amigo de Hércules, por isto, foram derrotados.

Aletha já ouvira falar daquelas histórias. Ela se esforçava para lembrar um pouco mais daquele rei. Como era mesmo o nome deste rei amigo de Hercules? A única coisa que lembrava bem é de ver seu tio avó discutindo sobre isto. Seu avo tinha uma a origem dos heliotas e os espartanos, seu tio avo tinha outra. Seu avó havia afirmado que não dava para Hercules ter lutado numa guerra tão recente e ao mesmo tempo ter tantos descendentes quanto os espartanos. O argumento de seu avo fazia sentido.

Narce que não pertencia a nenhum dos dois povos, mas viera de uma região distante da Grécia tentava argumentar com um sorriso no canto da boca:

– Bem, eu acho que os espartanos e os heliotas são irmãos. Eles nasceram todos do mesmo ovo. O pai destes irmãos era um leão, a mãe um crocodilo. Por isto eles nasceram brigando, um quer a agua outro quer a terra. Mas, eles nunca se separam porque nasceram com a calda grudada um no outro.

Aletha deu risada. Calidora continuou argumentando e respondeu a Narce falando sobre o absurdo de sua história. " Afinal, Aletha pensava, a história de Narce não é tão absurda assim. Não se diz que Helena é filha de um cisne, e nasceu em um ovo?" Aletha se lembrou de que seu irmão mais novo, Olímpio, dizia que Leda, esposa do rei Tíndaro, era uma vadia que não se contentava com o marido e se deitava com animais, e assim se deitou com um cisne. Mas, não era o que todos acreditavam. Todos acreditavam que Helena era filha de Zeus, que tinha vindo até Leda no formado de um cisne. "Helena, filha de uma vadia"? " Aletha ria para si mesma " Como ela reagiria se ouvisse isto? Bem, eu nunca teria coragem de dizer a ela uma coisa dessas."

Enquanto isto Calidora continuava argumentando como os espartanos era um povo nobre que dominaria sobre os demais povos.

Galatea, não dizia mais nada, agora estava calada com uma expressão triste. Aletha, interviu.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora