Servir e Libertar

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O quarto comum das escravas: tudo estava ali. Naala não entendia como tudo no palácio de Helos parecia tão igual. O quarto escuro, as lâmpadas na parede que logo se apagariam, as escravas que se ajeitavam sobre as peles de carneiro para dormir.

Ela havia visto Philos, feito uma revolta, e simplesmente estava de volta? Ela não tinha nem lã, nem palha para se deitar. O que aconteceu? Ela não entendia. Agora a pouco a velha Nerine havia lhe dito, só com o mover dos lábios: "Obrigado". Outras escravas e escravos também pareciam muito gratos porque ela voltou.

Ainda assim, quando perguntava o que havia acontecido, ninguém queria falar com ela, ninguém respondia, ainda que parecessem gratos.

Estava confusa. Então procurava se lembrar daquele longo dia e encontrar alguma resposta.

Quando o dia começou ela estava no navio, sem nenhuma disposição de descer no porto de Helos, mas sabendo que isto era certo a fazer. Ela se queixava de si mesma, por não estar com mais disposição. Então, se lembrou da frase de Arnion "É fraqueza que traz o verdadeiro poder oculto". E com a frase se acalmou.

O navio se aproximava de Helos. Não era caminho de daquele navio passar por Helos. Mas, pagando um pouco mais o comandante se dispôs a deixar Naala em Helos. Apos 2 meses de viagem, Naala avistou o porto de Helos.

O que Naala viu no porto era difícil de entender. Havia várias pessoas reunidas no porto. Quando o navio se aproximou mais, Naala percebeu que havia soldados, escravos, talvez os troianos, e uma mulher, que devia ser Helena. Quando Naala podia ver melhor, percebeu que Urian estava ajoelhado, e havia um soldado ao lado dele. Os outros escravos troianos também estavam ali. Até os escravos que tinham fugido com Gálem: Urian, Nephele, Andere, Dione,... O que eles faziam ali? A rainha Helena parecia dizer alguma coisa aos escravos troianos, algo ameaçador. Nicostratos e Menelau estavam ao lado dela, mas não diziam nada.

Naala se assustou com o que via. Então se lembrou do palácio de Uranon. Aquela cena estava lá, estava entalhada no teto do belo salão. Naala não entendia nada do que estava acontecendo, mas agora tinha mais certeza do que devia fazer. Aquilo era um destino, previamente traçado, nos planos de Uranon.

Naala olhou para o navio, vendo que era o momento de se despedir. Procurou por Tércio, mas ele se afastou , descendo inconformado. Então Adrian, Agápios, e Glaucos se aproximaram dela. Ficaram ao redor dela, olhando sem dizer nada. Naquele momento ela sentiu de uma forma muito forte, Arnion, ali, com eles naquele pequeno círculo. Ela se sentiu acolhida, abraçada, confortada. Sentiu que aonde quer que seus amigos fossem eles iriam fazer coisas difíceis como ela estava fazendo. Então, se sentiu unida a eles e a Arnion de um forma mágica. Ela sentiu que o reino de Arnion, que agora ela via com apenas 4 pessoas era algo grande.

Então Naala deixou os seus pertences que estava num cesto que havia trazido para a proa do navio, segurou apenas a bacia de marfim que havia trazido de Cartago e desceu do navio. O navio parou próximo à foz do Eurotas, então ela aproveitou para encher a bacia de água doce, e caminhou até onde estava rainha Helena e os escravos troianos. Tércio não foi com ela.

Naala viu Helena olhando para ela. Helena havia visto o navio e que alguém havia descido dele. Ela interrompeu o que estava dizendo e caminhou para navio de Naala. O príncipe Nicostratos vinha do lado dela. Quando se encontraram com Naala, ela se abaixou diante da rainha e disse:

– Estou aqui para servi-la em nome de Arnion, príncipe de Uranon.

Helena estava sem palavras... Enquanto ela se abaixava e lavava os pês da rainha orgulhosa. Seu rosto era o mesmo, altivo e belo. Mas, ela não respondia nada.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora