A cadela e a coroa

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Hermíone atravessava o corredor do palácio, vendo as paredes de pedra. Três de suas escravas a acompanhavam, mas ela não prestava nenhuma atenção a elas. Ela ainda estranhava aquelas paredes, ali, sem nenhum afresco. Mas, então, repetia para si mesmo " melhor assim, não quero nada que me lembre de Helena". Hermíone virou-se em direção do quarto quando viu Trífone a esperando na porta, e fazendo um sinal que ela conhecia. " É um amante . Será que Demostenes voltou com notícias, boas notícias sobre o santuário em Megali?" Hermíone se perguntava "Minha vingança está dando certo? Minha mãe está dominada? ".

– Graazi, vá ao mercado comprar linho verde, Docas e Tríades, quero comer bolos de flor de farinha. Vão até a cozinha e voltem quando eu mandar chamar.

Livre das escravas indesejadas, Hermíone entrou no amplo aposento e viu. Não era Demostenes, era seu primeiro amante, aquele que ela planejava procurar. Ele estava ali. Sentado com uma taça de vinho na mão. Falava com um riso sarcástico e sedutor.

– É muito bom encontra-la novamente, minha rainha.

Hermíone olhava sem acreditar no que via. Ela já havia esquecido o quanto ele era lindo. O rosto, os lábios, o corpo. Qual era mesmo o nome dele? Não podia deixar que soubesse que ela nem mesmo se lembrava do nome dele.

– Você será a nova rainha de Esparta. E terá um poder que sua mãe nunca teve. Reinara sobre Esparta, Epiro, Micenas. E terá seus desejos representados na Assembleia.

O jovem dizia tudo isto se inclinando diante dela. Apesar de continuar com seu sorriso sarcástico no rosto, e de falar com confiança.

Hermíone deixou de lado um pouco da surpresa e tentou adivinhar do que ele estava falando. Reinar sobre Esparta e Micenas? Ter meus desejos defendidos na Assembleia? Como isto era possível? Seu amante troiano continuava. Ele se punha de pé e dizia:

– A muito tempo Orestes, rei de Micenas, desprezou minha linda rainha. Ele temia se casar com a filha da mulher que transforma a vida no marido num inferno. Hoje vamos provar o quanto ele estava enganado a seu respeito. Você não é o tipo de mulher que inferniza o marido. Você prefere mandar o marido diretamente para o inferno.

Seu amante troiano ria, enquanto se sentava novamente. Ela olhava um pouco incrédula, ao mesmo tempo admirada ... tudo nele era atraente, seu sarcasmo, seu riso, o modo como ele movia seu corpo. E estava claro, que ele era astuto politicamente. Ela o desejava completamente, e ao mesmo tempo tinha aquele sentimento de que devia tomar cuidado para se portar de uma forma atraente para ele, o que a deixava com uma insegurança que ela tentava esconder.

– Você vai matar Orestes? – Hermíone perguntou.

– Não, nós vamos matar Neoptoleno. Eu prometi a você, não prometi? Falhei uma vez, não vou falhar de novo. Neoptoleno escapou das minhas flechas, não vai escapar do meu veneno.

Hermíone começava a recordar uma esperança que ela havia abandonada há muito tempo. Na noite em que Aletha "morria" seu amante troiano havia aparecido nos seus aposentos. O troiano lhe contou seu plano. Iria a Micenas, começaria negociações com seu primo Orestes. Ele mataria Neoptoleno e ela ficaria livre. Naquele dia, o plano do jovem aconsolou, mas então o escravo troiano desapareceu e ela nunca mais teve notícias dele. Não conseguia acreditar que agora ele estava ali oferecendo para ela a coroa espartana.

– Foi Orestes quem te enviou?

– Não, claro, que não. Eu não libertaria minha princesa de um tirano para entrega-la como prisioneira a outro. Eu tenho meus próprios aliados, meus próprios interesses.

Hermíone tentava entender: Como era possível que, de um momento para outro, ele havia se transformado de um escravo fujão em um manipulador político?

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora