A seita dos marinheiros

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No dia seguinte Naala acordou com a voz de Lessandra conversando com o comandante Tácito. Eles estavam no quarto de Lessandra, mas ainda assim Naala podia ouvir. . Quando Naala começou a entender a conversa percebeu que Lessandra reclamava do escravo Arnion e seus dois amigos. O comandante Tácito não concordava com ela:

– Entendo Lessandra, que você tenha as tradições do seu povo. E, que não goste de ver homens ofendendo o seu povo. Mas, eu não tenho outros escravos para substituir o trabalho destes. Não posso lançá-los para fora do navio sem motivo. Isto deixaria os demais marinheiros revoltados, pois todos sabem que Arnion faz um bom trabalho.

Alguém mais entrou na conversa. Naala reconhecia a voz, era o marinheiro Eriobeu:

– Senhor, não é apenas as tradições de Lessandra que estão em perigo. É o seu próprio comando. Arnion realmente se acha um imortal. Ele logo vai juntar outros marinheiros e organizar uma revolta para tomar o controle do navio.

– Eriobeu –Tácitos respondeu – eu não vejo em Arnion nenhum sinal de um homem revoltoso.

– Mas, ele ensina, age mostrando superioridade, e alguns marinheiros acreditam completamente nele. Esta seita que eles seguem, esta do "poder oculto" deve ser uma fachada para a revolta.

– Vou investigar as informações que vocês estão me dizendo. Vou conversar com Demarcos. Talvez ele saiba alguma coisa a respeito desta revolta. Se de fato houver alguma revolta, tomarei uma atitude a respeito.

A conversa terminou. Naala ouviu passos saindo do quarto. Abriu de leve a porte e viu Lessandra subindo para proa com uma feição revoltada. Ela desejava conversa com Lessandra. Por isto lavou seu rosto e trocou suas roupas e subiu a proa do navio. Ela deveria esperar Tércio, que pela manhã sempre lhe trazia uma refeição para comer. Mas, aquela conversa toda havia a deixado sem fome. A ideia de uma revolta de escravos lhe trazia velhos sentimentos a tona.

Naala subiu a proa. Logo deu de cara com Arnion, mas se afastou dele e procurou puxar conversa com Lessandra. Ela estava no final da proa, logo após o leme.

Lessandra, ontem ouvi Eriobeu dizendo sobre uma revolta de escravos. E, sobre um líder chamado Arnion. Você já ouviu falar sobre isto?

– Sim.

– Acha que estamos em perigo?

– Não, não estamos em perigo minha jovem.

– Bem, mas somos as únicas mulheres neste navio e se houver uma revolta algo pode acontecer.

– Naala se aquiete. Não é este o caso. Estou apenas tentando, com o auxílio de Euriobeu, defender a sabedoria do meu povo.

– E, o que isto tem a ver com a revolta?

– Eu não preciso te explicar.

Lessandra olhou para Naala com um sorriso. Naala se sentiu inferior a Lessandra, se sentiu uma menina adiante de uma grande mulher. Mas, conseguiu entender o que aquele sorriso sarcástico significava. Arnion não estava planejando nenhuma revolta, aquela era apenas uma mentira para fazer mal ao escravo que Lessandra deixava claro que odiava.

Naala se arrependeu da forma espontânea com que tinha falado com Lessandra. Ela havia agido de uma maneira infantil, e não como uma rainha. E, agora Lessandra devia pensar que ela não passava de uma criança insana.

Lessandra se afastou de Naala, caminhou para o lado esquerdo do navio, onde o seu escravo, um eunuco, a esperava com pergaminhos e um banco pequeno, que tinhas pés, em formato de X, e era talhado com elegância . Naala olhava para o mar tranquilo, enquanto se agitava nos seus pensamentos com tudo. Ela desejava muito ter aquela postura de uma rainha. E, só conseguia agir como uma criança. O que podia fazer para reconquistar a confiança de Lessandra?

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora