Aletha, do terraço frontal, olhava para a praia da Lacônia quando percebeu que o marido subia as escadas apavorado. Nenhum pai deveria se preocupar em saber que a filha está nos braços da mãe. Mas, Nicostratos tinha seus motivos, e Aletha entendia isto.
Nicostratos havia experimentado o que nenhum homem havia passado. Em várias ocasiões Aletha havia tentado se matar, ou matar o bebê. Por muitas vezes, enquanto vivia aquela situação, Nicostratos dizia que preferia a morte de Aletha ao ver sua esposa naquela situação. A morte levaria sua linda esposa, mas deixaria as lindas memórias que ele tinha dela. Mas, ver ela naquela situação, era levar tudo que Nicostratos amava nela e colocar um monstro no lugar, um monstro que colocava em perigo a vida de sua própria filha.
Aletha olhou para sua filha. A pequenina tinha quase um ano. Ela parecia estar curiosa sobre a mãe e não estava assustada. A menina puxava os cabelos da mãe, e depois seus colares. Aletha sorriu:
– Nicostratos, hoje cedo a pequena Aletha quase deu o seu primeiro passo. Amanhã, depois do banquete, estou pensando em levar nossa filha para ver o mar, e talvez até o rio.
– Ouvir a tonalidade da sua voz é um presente. Posso ver que é você, minha Aletha, minha verdadeira Aletha.
Aletha sorriu:
– Se você gostou da minha voz, vai gostar ainda mais do meu segundo presente. Vai me ver beijar nossa filha pela primeira vez
Aletha aproximou os lábios da testa de sua filha e a beijou. Nicostratos cercou Aletha com seu abraço, enquanto ela continuava dando pequenos beijos leves no rosto da menina.
Há um ano, quando a menina nasceu, Aletha estava muito fraca. Para se esconder de Helena, ela foi morar numa pequena cabana que ficava na região de Gneteus. Ali Aletha adoeceu, e sentimentos horríveis começaram a surgir no seu coração.
Aletha não conseguia olhar para a filha. Ela a odiava, e ao mesmo tempo tinha medo do bebê. O bebê era uma menina. Uma menina como Hermíone. Um dia o bebê cresceria e a odiaria, como Hermíone fazia com a mãe. Aletha também tinha pesadelos horríveis com o bebê. Por vezes em sonhos ela via as deusas falando com ela. Hera dizia: Mate o bebê, ou ele vai te matar. Atenas surgia segurando o seu cetro de coruja e apontando para o mar: "Seja sábia, e jogue o bebê no mar. Jogue o bebê para a serpente marinha. " Aletha sabia que a mensagem dos deuses era urgente. E, que os reis que falharam ouvir presságios como este pagaram um alto preço. Os reis de Tróia não foram diligentes em matar o príncipe Páris, quando era bebê. E, por isto, como os presságios diziam, Páris trouxe a destruição de toda uma cidade. Aletha não queria ser rebelde aos presságios divinos, por isto tentou matar o bebê várias vezes.
Surpreendentemente, quando tentava matar o bebe, Andrômeda, sempre aparecia, e salvava a criança. Então, quando via o bebê chorando no colo de Andrômeda, um sentimento terrível tomava conta dela. Ela sentia o pior ser do mundo e tentava se matar.
Mas, foi à voz de Andrômeda que começou a acalmar Aletha Com sua voz ela cantava e conversava com a jovem mãe sobre a menina. Ela chamou o bebê de "pequena Aletha", para fazer Aletha entender que sua filha não seria como Hermíone. Então, as deusas deixaram de aparecer nos sonhos de Aletha.
Vagarosamente o medo de Aletha começou a diminuir. Um dia ela conseguiu dar de mamar para o bebê. Ela ainda chorava de medo quando a amamentou pela primeira vez. Mas, Andrômeda a ajudou, e ela não soltou o bebê. Um dia ela conseguiu cantar para o bebê: era uma canção que Andrômeda havia lhe ensinado. E, hoje, depois de um ano, ela já conseguia beijar com alegria sua filha. Ela não sentia mais medo ou amargura. E estava feliz.
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A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poder
Fantasi"... 4 homens, 4 mulheres, 4 caminhos para o poder: força, astúcia, sedução ..." Tróia está em ruínas e Páris morto, mas Helena encontra forças e relembra o que aprendeu com o amor. Ao voltar para casa ela enfrentará o rancor de sua filha Hermío...