Naala olhava para o amplo salão do banquete. Via o teto alto, as paredes pintadas, o local do trono a sua frente. Ela odiava estar ali, odiava tudo que se relacionava aquele salão.
– Naala, me escute você precisa prestar atenção.
A voz de Alexia falava com ela. Alexia estava bem a sua a frente, e assim como Naala, estava ajoelhada com uma esponja na mão.
– Você vê estes pequenos pontos? – Ela dizia apontando para a sujeira – você deve esfregar com a esponja e o vinagre, e depois puxar estes pontinhos com a esponja até o final do salão.
Naala olhava a passagem secreta, onde todos fugiram. O buraco ainda estava ali e as lembranças de Lena, de Alcestes, e de Stesha que não voltaria mais.
– Naala, você entendeu? Então tente fazer.
Naala experimentou esfregar o chão com a esponja e o vinagre. Com muito esforço, os pontos sobre os quais Alexia falava, realmente soltavam do chão.
– Isto mesmo, agora puxe a sujeira com a esponja.
Naala continuou seu serviço, enquanto um sentimento horrível surgia dentro dela. Ela queria fugir daquele lugar, odiava aquele lugar. Odiava ser quem era, ter feito tudo que fez.
– Não, Naala, você precisa prestar atenção. Se não a sujeira vai escapar da sua esponja.
" Prestar atenção? " Naala não queria prestar atenção nos pequenos pontos pretos. Isto parecia revoltante: Quem olharia para aqueles pequenos pontos pretos? Além disso, seus pensamentos queriam fugir, fugir para longe daquele salão e daquele coro de "derrota" que as paredes pareciam gritar para ela. Mas, ter que prestar atenção naqueles pontos pretos faziam ela lembrar que estava no salão do banquete.
Os olhos de Alexia esperavam uma resposta prática de Naala. Então, ela se dispôs. Prestou atenção nos pequenos pontos pretos enquanto caminhava com a esponja pelo chão.
– Isto mesmo, Naala. Continue assim.
Alexia se afastou, Naala se sentiu aliviada. Agora ela apenas esfregava o chão com força, sem prestar qualquer atenção no que estava fazendo.
Alexia era uma boa pessoa, Naala a admirava. Havia sido humilhada, e estuprada, por Tértulo, e ainda assim encontrou uma forma de se sentir digna, um sentimento relacionado ao seu trabalho. Ela comentava ser a escrava que limpava melhor o palácio, mais do que Nara, ou Sarabi. Ela também dizia ser a mais rápida. Naala admirava o prazer que Alexia sentia em deixar aquele palácio mais limpo e bonito. Mas, ela estava muito longe de ser como Alexia. Ela apenas odiava aquele palácio. Nada ali a interessava. Queria sonhar que um dia seria livre e viajaria de navio para longe, veria Philos, veria Cartago de novo.
Alexia se levantou.
– Precisamos de mais água.
– Pode deixar que eu vou buscar.
– Mas é pesado, Naala. Vai aguentar carregar sua bacia cheia de água?
– Vou, pode ficar tranquila.
Naala olhava para Alexia, ela era mais alta, tinha braços fortes. Já tinha varias marcas da idade no rosto, mas seus lábios ainda eram bonitos. Podia entender porque Tértulo a havia escolhido. Também percebia que Alexia, certamente, aguentava muito mais peso do que ela. Ainda, assim Naala faria qualquer coisa para escapar daquele salão e daqueles pontinhos pretos. Ela pegou sua bacia, a bacia de Cartago e foi buscar água.
Ao sair do salão encontrou uma escrava que devia ser hitita. A mulher olhava para ela com um olhar vigilante. Sabia o que ela tinha feito, e parecia interessada em investigar cada um dos seus passos. A hitita queria ver se a garota troiana que tinha organizada a revolta estava metida em mais alguma confusão. Naala então se esforçou para realizar o seu serviço corretamente, caminhava sem demorar para o rio Eurotas.
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A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poder
Fantasía"... 4 homens, 4 mulheres, 4 caminhos para o poder: força, astúcia, sedução ..." Tróia está em ruínas e Páris morto, mas Helena encontra forças e relembra o que aprendeu com o amor. Ao voltar para casa ela enfrentará o rancor de sua filha Hermío...