O encontro

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Tércio estava no quarto de Naala. Ele escutava Naala enquanto dizia:

– Teve paz, Teve paz qualquer nobre que recusou auxílio a um nobre, descendente de Zeus? Eu pertenço à nobreza troiana, sou filha de Briseis. – Então, mudando um pouco o tom de voz perguntou – O que achou Tércio ?

– Está perfeito Naala, perfeito. Sua tática é muito boa. Você começa imitando Hermíone e termina com a firmeza de Helena. E sua entonação combina com o discurso. Só precisa falar mais alto.

– Não gosto de falar alto porque os marinheiros do lado vão ouvir. Estas paredes de madeira são finas, e todo som passa.

– Fale sem se importar com eles. Logo vamos estar em Cartago e nunca mais você vai ver estes marinheiros.

Tércio saiu do quarto. Naala abriu um cesto de vime que Tércio havia lhe dado à procura de um vestido nobre. Vestiu um vestido azul todo bordado, e colocou em cima dele um cinto de cor dourada. O cinto combinava com a estampa do vestido. Embora, o tom do bordado não tivesse o mesmo brilho do cinto. Então Naala olhando o espelho tentou reproduzir o penteado que as meninas fizeram. Ela demorou bastante. Ela fez e desfez o penteado várias vezes até que ele ficou quase semelhante ao que Nephele tinha feito nela no dia da assembléia. O brinco que ela usava era ainda mais belo do que o usado na Eklesia. Sim, sua aparência estava adequada, apesar de precisar treinar um pouco melhor o penteado. No dia em que chegassem a Cartago , não podia haver erros: precisava fazer o penteado corretamente.

Naala olhou para o seu pequeno espelho falou:

– Teve paz... – Ela tentou aumentar a voz e repetiu – Teve paz?

Ela ficou um pouco envergonhada de que os marinheiros a escutassem, mas lembrou-se de Tércio e continuou.

– Teve paz qualquer mortal que se recusou a prestar auxílio a um nobre, descendente dos imortais?

Sua voz saiu bem mais alta do que as anteriores, e também com muita segurança. Só faltava aquela indignação, a mesma que ela usou com Tércio na última vez que apresentara para ele.

– Teve paz...

Naala treinou aquela manhã. A tarde saiu do quarto para procurar Lessandra, queria treinar sua nova postura conversando com ela. Mas, Naala não a encontrou, nem no quarto, nem na proa. Aquilo era muito estranho. Fazia dias que não via Lessandra. Onde ela estaria? Então, Naala acabou desistindo, e resolveu treinar imitando apenas Helena e Hermíone. Embora Tércio dissesse que Lessandra tinha sua dignidade, Naala preferia muito mais a postura e o poder de Helena ou Hermíone.

Naala voltou para o quarto, mais um pouco de treino. Perto da noite Tércio voltou e Naala mais uma vez se apresentou para ele. Ele só tinha elogios. E Naala ficou satisfeita lembrando-se do quanto, no início, ele havia sido crítico com ela.

No começo Naala só conseguia interpretar suas falas se fechava os olhos e se concentrava. Pois era mais fácil se imaginar como Hermíone com os olhos fechados. Mas, Tércio disse que devia abandonar esta forma de treinar. Naala insistiu dizendo que era apenas um treino. Mas, Tércio disse que não. Então Naala acabou apreendendo ter postura mesmo com os olhos abertos. Naala estava satisfeita com seus avanços. Antes de sair do quarto Tércio comentou sobre Lessandra.

– Você não imagina onde está Lessandra? Ela esta no porão do navio ajudando Arnion organizar os mantimentos.

– O que? Ela odeia Arnion, e é uma mulher nobre! O que está fazendo com outros escravos?

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora