Quem é você?

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Naala batia as roupas com força sobre as pedras. Estava na beira do Eurotas com uma trouxa de roupas ao seu lado. As duas frases, como de costume, continuavam se repetindo na sua mente. "Quem é você? Eu sou a herdeira de Tróia. " Naala não estranhava mais as duas frases que, quase como um presságio, surgiam na sua mente. Não duvidava delas. Apesar de no momento não ter forças suficientes para se agarrar ao que elas significavam.

Naala batia e batia com ódio as roupas nas pedras, e então olhava por entre a vegetação, para a direção do palácio. Lépida ainda não vinha. De certa forma ela desejava que Lépida nunca chegasse. Porque Lépida fez aquilo. Porque? Ela estava tão feliz, feliz mesmo sendo escrava. Era escrava, mas se sentia no palácio de Uranon. Porque Lépida foi estragar tudo aquilo? Porque? A vida como escrava seria muito mais fácil se Lépida não tivesse começado aquele assunto.

O assunto começou na segunda semana depois de sua chegada, quando Naala olhava o belo jardim da rainha Helena. Foi quando Lépida se aproximou e disse em voz baixa algo como "preciso lhe contar algumas coisas que não sabe sobre sua mãe" Lépida se afastou para sair. Mas, Naala não se conteve:

– Sobre minha mãe, a princesa Briseis?

– A princesa Briseis nunca foi sua mãe.

– Como não?

A frase de Lépida teve um impacto profundo em Naala. A princípio ela duvidava do que Lépida dizia. Mas, depois viu que ela não tinha motivo para mentir sobre aquilo. Se estivessem antes da revolta Naala imaginaria que Lépida queria negar seus sonhos e impedir a revolta. Mas, agora, justo agora, porque ela dizia aquilo com tanta certeza contra sua mãe?

Nisto Diône, que também lavava roupas a beira do rio, interrompeu os pensamentos de Naala , jazendo ela lembrar de que não estava sozinha.

– Porque você voltou Naala? Como sabia a hora de voltar? – Diône perguntava

– Encontrei com Arnion. Ele me disse para voltar, com a bacia.

– Arnion, o príncipe de Andrômeda?

– Sim.

– Então, acredita em todas as histórias que Andrômeda contava.

– Acredito.

Naala lembrava de Arnion. Nos primeiros dias em Helos ela se sentia satisfeita por ter sido enviada por Arnion para salvar os troianos. Porque aquele sentimento havia desaparecido desde que Lépida disse " Briseis nunca foi sua mãe"? Agora ela não se sentia uma princesa herdeira, se Briseis não era sua mãe, ela não tinha a dignidade de uma princesa, era apenas uma escrava.

Naala virou-se para Diône, continuando o assunto com a amiga que tentava ser agradável com ela.

– Você ouviu falar de Andrômeda?

– Você não sabe? A rainha Helena a afogou nos tanques.

– Eu sei, mas Tértulo a salvou e a prendeu. Eu encontrei com ela quando estive presa. Será que ainda está presa?

– Se estiver viva é melhor não mencionar esta possibilidade. Se a rainha souber que Andrômeda está viva, vai achar que você está conspirando com ela.

Naala, que quase não ouvia o que Diône dizia, olhava para as aguas do rio raso, que passava em meio às pedras e aquela areia grossa misturada com terra. Porque Lépida teve que dizer aquilo e daquela forma?

Naala olhou mais uma vez para frente do rio a procura de Lépida. Mas, ela não vinha. Ela queria acabar logo aquela conversa. Odiava Lépida por ter feito aquela conversa durar tanto. Então, se arrependia deste sentimento. Lépida fizera muito por ela. Muito mais do que qualquer um podia pedir de uma estranha. Ela arriscou sua vida por ela. Ela a criou como mãe. Agora, só queria garantir que Naala soubesse a verdade.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora