Um jardim com muros

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Andrômeda estava no terraço, bem no meio do jardim. A sua esquerda havia o primeiro tanque, com as árvores ao fundo. A sua direita, não havia mais o tanque, mas um espaço com três oliveiras, vasos, estátua de Apolo. Depois o segundo tanque, com as plantas aromáticas ao centro. E, então, ao final, o santuário de Afrodite, com o altar. Toda esta imagem se escondia por traz das copas das árvores. A copa das árvores escondia o início do primeiro tanque a sua direita, mas ela podia ver as ervas que estavam ao meio dele, então as novas copas, escondiam parte das estátuas. Então podia ver o segundo tanque, maior que o primeiro, com as águas tranquilas ao meio, e ao fundo, haviam uma erva florida que subia pela parede. Como transformar tudo aquilo num bordado? Era difícil, mas já havia feito coisas mais difíceis.

Andrômeda se lembrou do dia em que tinha que trazer para Helena 6 cântaros de águas quentes para o banho de Helena. Trazer agua para o banho de Helena era sempre um desafio. A água sempre estava, ou muito quente, ou muito fria. Mas, trazer 6 cântaros era o tipo de tarefa que Helena dera simplesmente para arranjar um motivo para castiga-la. Pois, enquanto ela trazia um cântaro, a água dos demais se esfriaria. Porem algo aconteceu. Algo que Andrômeda não contava para ninguém, pois os outros não acreditariam nela. Mas, ela sabia o que tinha visto. Enquanto ela derramava àgua no primeiro balde no, as águas se multiplicavam. Com apenas um jarro ela encheu a banheira de Helena, e surpreendentemente a água não se esfriava. Não importa o quanto Helena demorava em vir tomar o banho...

Andrômeda segurou o pendente mágico que tinha no pescoço. Era uma pequena lâmpada de barro. Ela esfregou o pendente esperando que alguma mágica de Uranon viesse ao seu encontro: "Você é meu jardim com muros"Ela ouviu voz masculina que ela amava, falando em sua mente. "Não sou, sou um jardim seco e sem vida..."Andrômeda respondia. "Todos estão se levantando contra seu muro, como se ele fosse uma parede fendida, e como se ele estivesse prestes a cair. Mas, eu não vou entregar você aos dentes deles. Farei de você um muro de bronze..."Andrômeda pensava no que significava aquelas palavras.

O fato dos jardins gregos serem interno propiciava uma beleza que ela nunca havia visto em Tróia. A construção ao redor funcionava como muros que protegiam o jardim dos animais do campo, e até de algumas pragas. Um jardim com muros? Ela pensava...

O muro é pelos muros que devo começar meu bordado. "As árvores e as estátuas podem fazer Helena argumentar " Você bordou um jardim de Esparta, não o meu jardim". Já que em Esparta muitos estavam construindo jardins com tanques. Mas os "muros", ou seja, os detalhes específicos do palácio que cercavam o jardim, mostraria a especificidade do jardim de Helena.

Andrômeda desceu as escadas, e sem demora começou a bordar o contorno dos muros. Após o contorno era só preencher a construção. Um trabalho bem mais simples do que bordar o jardim a partir da copa das árvores.

Nisto Helena apareceu. Tomou o bordado da sua mão e olhou desconfiada.

Está ficando bom. Surpreendentemente, naquele dia a rainha tinha uma palavra de aprovação.

Andrômeda prosseguia o bordado satisfeito. Tinha que admitir que Helena era sincera. Era uma sinceridade louca e cruel, mas era sinceridade. Helena a odiava, isto era muito claro. Não importa o que ela fizesse, Helena sempre desejaria vê-la sofrendo, ou mesmo morta. Mas, Helena não mandava castiga-la "sem motivo". Não inventava uma mentira completa e dizia: Ela fez isto, vai receber açoites. Helena sempre partia de um ponto, um ponto em certo sentido real, e criava tudo em volta dele. Então se Andrômeda movimentasse demais sua mão esquerda durante as tarefas, Helena podia interpretar isto como sendo uma afronta, ela seria castigada. Mas, uma vez que ela aprendeu controlar seus sorrisos, seus olhares, o modo como cantava, e muitos outros detalhes como estes, sua convivência com Helena ficou mais fácil. E, saber disso dava a ela esperança para fazer daquele bordado uma verdade obra de arte.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora