Por trás da pira funerária

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Nicostratos olhava para a alta pira de fogo que estava a sua frente. A pira devia ter uns 7 metros de altura e o fogo já começava a apagar. O vento lançava as cinzas e o cheiro de queimado para todo lado. Ainda assim, a pira parecia pequena para Nicostratos, considerando o fato de que era dedicada a sua querida Aletha.

O som do choro da carpideira chegava ao seu ouvido. Era o choro de uma velha. A mulher pobre havia sido trazida de uma cidade próxima, já que eles não tiveram tempo de ir a Esparta. O choro da mulher era tocante. Nicostratos também queria chorar, sim, como queria chorar. Mas, não conseguia. Os últimos dias foram agitados demais de modo que Nicostratos não conseguia nem mesmo pensar no que significava a morte de Aletha. Nicostratos viu alguns escravos chorando, Adelfa e uma jovem, que ele não sabia quem era, choravam. Ah, ele sentia incomodado por não chorar.

Então ele se ajoelhou no chão e jogou terra bagunçando o cabelo. Afinal se sentiu ridículo imitando o gesto que era sinal de luto entre as mulheres, por isto e se levantou. Foi quando Helena se aproximou do filho. Ela o abraçou e disse com uma voz terna:

– Meu filho, eu sinto muito por sua causa de Aletha, e principalmente por sua filha. – A voz de Helena parecia sinceramente triste. Mas, Nicostratos se perguntava se aquilo era real ou havia algo por traz daquela dor. "Era algum interesse, ou alguma loucura?" – Eu realmente acreditava que sua filha seria uma grande princesa...

Nicostratos concluía sobre a mãe: " Era loucura". Tudo estava ligado ao bebê e aos planos místicos de Helena. Nicostratos procurou se segurar e não se comover com o sentimentalismo que aparecia na voz da mãe. Ele se sentia satisfeito por tudo que fizera com Aletha e a menina. Ao mesmo tempo queria parecer triste e não conseguia .

– Mas, fico feliz que você esta bem ... Achei que você se abalaria muito mais com a morte de Aletha. Agora vejo o quanto você já está mais maduro. Como admiro seu desenvolvimento meu filho. Você é muito mais maduro do que Hermíone, apesar de ser mais novo que ela.

Nicostratos sempre se incomodava de ver a mãe o tratando como criança, ou desprezando Hermíone. Mas, por outro lado se sentia satisfeito, pois sua mãe comprara sua mentira. Helena havia acreditado que Aletha estava morta.

– Você verá meu filho, os deuses recompensarão a sua maturidade. Você vai ter mais dez filhos, e uma esposa muito mais bonita que Aletha.

Neste ponto Helena olhou para ele como que esperando uma resposta. Mas, ele não sabia o que responder. Sua mãe havia dito outra de suas pérolas:. "Que tipo de pessoa consola dizendo: Você vai ter " uma esposa mais bonita." Com tudo isto ela deixa a claro que realmente não se importava muito nem com Aletha, nem com o bebê.

Sua mãe o abraçou bem forte. Tinha que admitir que seu abraço era terno, diferente das suas últimas palavras, mas Nicostratos ainda se sentia frio. Ele inspirou fundo, e lembrou os acontecimentos dos últimos dias, enquanto via o vento balançar as cinzas da pira na sua direção.

Tudo havia começado na noite seguinte ao casamento de Hermíone. Adelfa, a velha escrava de Aletha foi até ele, falando um assunto estranho:

– Eu conversei com Atara ela vai guardar o corpo de Lena, a escrava troiana, para salvar Aletha.

Nicostratos não entendeu nada. A princípio achou que Adelfa, a velha escrava magra, falava de algum ritual para salvar o bebê do ritual de Helena. Então, acabou entendendo. Atara era uma escrava vinda do Egito, ela sabia como conservar corpos com boa aparência por algum tempo. O plano de Adelfa era ao mesmo tempo absurdo ao mesmo tempo convincente. Atara conservaria o corpo de Lena até o parto de Aletha. Então diriam a todos que Aletha morreu no parto, antes de dar a luz ao bebê. Esconderiam Aletha e o bebê, e assim que Helena acreditasse na mentira, Aletha estaria livre para cuidar do filho. O plano não era totalmente positivo, por estar escondida Aletha, ficaria em certa medida separada de Nicostratos. Mas, o plano de Adelfa era melhor do que o de Galatea, a jovem escrava hilota. Galatea havia proposto que trocassem o bebe por outro, e conservasse o bebê de Aletha escondido. Mas, a viúva que havia prometido seu bebê a Aletha, por fim acabou se recusando a entregar , e , agora a ideia de Adelfa era única opção que Nicostratos tinha.

A Herdeira de Tróia: a dimensão oculta do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora