2:ACEITANDO A VIAGEM.

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Saphira

- Porque mãe? Como assim? Eu não posso mudar, eu fui promovida! Eu não quero mudar! Por que isso agora? Eu não suporto aquele lugar! E meu emprego? Minha amiga? Você só pode estar brincando!

- Não, filha, infelizmente eu não estou brincando - ela fez uma pausa dramática que me fez ficar com a bile na garganta. - Seu pai está com câncer. Câncer de intestino.

Se não estivesse sentada, cairia no chão de tanto horror. Mas mesmo assim sentia minhas pernas tremerem.

Ela continuou:

- Os médicos deram três meses de vida pra ele. Ele quer passar esses últimos meses de vida no país onde nasceu, e onde nos conhecemos - ela tentava se controlar, mas novamente caiu em um choro descontrolado.

Senti meu coração parar. Não acreditava que estava perdendo meu pai. E eu não poderia negar esse desejo para ele.

Eu odeio a Grécia. Estive apenas uma vez lá e a experiência foi tão traumatizante que desejo nunca mais ter que voltar.

Ainda estava paralisada e com as gotas salgadas deslizando em minha bochecha de modo anestesiado, mas falei:

- Quando vamos, mamãe? Tenho que falar com meu chefe.

- Nós iremos daqui a sete dias.

Enxuguei as lágrimas que rolavam em meu rosto e abracei minha mãe. Logo em seguida virei para meu pai, que me abraçou e disse que me amava muito, e queria que eu o acompanhasse para irmos juntos para a Grécia. Ele precisava de mim ao lado dele no país onde ele conheceu minha mãe e se apaixonou perdidamente, pois queria passar seus últimos dias onde sua felicidade começou.

Tentei me controlar para não chorar mais. Dei um beijo em sua testa e disse que tudo iria dar certo. Pelo menos queria que acontecesse. Pedia para que no final tudo desse certo.

- Sim, papai, eu irei para Grécia mesmo não suportando aquele lugar. O senhor sabe muito bem, mas eu irei se é isso que deseja, mas chegando lá iremos procurar um médico, eu não aceito esse diagnóstico, eu não aceito em te perder, eu não aceito...

Falei já não segurando mais minhas lagrimas. Larguei meu pai, e subi as escadas da casa correndo, me trancando em meu quarto onde deixei as lágrimas rolarem livremente. Não podia perder meu pai, não aceitava. Iria fazer de tudo para que ele se recuperasse, e caso fosse impossível, faria de tudo para realizar, tudo o que ele quisesse, mesmo que eu tivesse que aceitar essa viagem.

Liguei para minha amiga e contei tudo para ela. Em menos de uma hora Alice já estava na minha casa me consolando, dizendo que tudo iria ficar bem.

- Amiga, eu não posso ir agora para Grécia com você, mas assim que eu terminar o meu curso de moda, daqui um mês, estarei indo pra lá. Não vou te deixar sozinha.

- Serio, amiga?! Você faria isso por mim?

- Para, Shaphira! Até me ofendes com essa pergunta. Sabe que sou muito grata a você. Quando eu mais precisei você estava lá para me apoiar e me defender daquele crápula que tentou tirar toda a herança que meu pai deixou para mim. Nem que tivesse que ir para o pólo-norte, mas não vou deixá-la sozinha.

- Eu fiz aquilo porque te amo - Disse ainda entre lágrimas.

- Eu irei pra Grécia porque amo você.

Nos abraçamos e tivemos a certeza que poderíamos contar uma com a outra para sempre e que nada poderia abalar nossa amizade.

- E além do mais, Preciosa - era como Ali me chamava -, é uma ótima oportunidade para viajar e pega uns gregos gostosos e selvagens!

- Alice! Você não tem jeito, só pensa naquilo!

- Amiga, gosto de coisas boas e "aquilo" que tu diz, é muito bom.

Rimos muito e passamos o resto do dia no quarto comendo pipoca e vendo filme. O final de semana passou rápido e fui falar com meu chefe, que ficou muito triste por não aceitar o cargo, mas ele entendeu meus motivos e prometeu para mim que assim que voltasse para o Brasil teria meu emprego de volta. Agradeci imensamente e caminhei para minha sala. Retirei todas minhas coisas porque era meu último dia ali. Teria que ficar em casa para arrumar minhas coisas da viagem.

Assim foi todo o restante da semana. Me despedi dos colegas de trabalho, arrumei as malas e me preparei psicologicamente pra encarar mais uma vez aquilo que queria tanto esquecer.

A Grécia.

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- Boa viagem amiga! Tenha força que daqui um mês estarei indo ao seu encontro.

- Obrigada! Estarei te esperando para me ajudar a ficar naquele lugar horrível e de pessoas sem coração.

- Não fala assim, amiga! Seu pai é grego. Nem todos são iguais e já faz anos que aquilo aconteceu. Você era só uma menina, não deveria ficar com essa raiva toda... A pessoa provavelmente nem lembra mais que te xingou! E ele te visse hoje não falaria da mesma forma, está linda, gostosa, maravilhosa, e se eu fosse homem, eu te pegaria com toda certeza. Agora entra naquele avião junto com seus pais que já estão esperando, limpa sua mente, e se concentra no objetivo dessa viagem que é realizar os desejos do seu pai.

Nos abraçamos e entrei no avião. Alice ficou me olhando até eu entrar e desejou que essa viagem pudesse trazer felicidade a mim e a minha família. Que assim como um dia tinha-lhe devolvido a esperança de voltar a sorrir, ela iria fazer o mesmo por mim e logo estaria junto comigo para me apoiar nesse momento tão difícil. Acenei pela última vez para ela uma última vez e entrei rumo ao país que não me trouxe boas lembranças, mas que eu esperava que dessa vez fosse diferente.

Capitulo revisado por:MaitePott

UM GREGO EM MINHA VIDA.(Passando Por Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora