Finalmente consegui desprender-me do camião quando ele parou no sinal vermelho. Rebolei para o lado do passeio e sacudi a capa preta e as minhas calças sujas e gastas. Constatei que não haviam mais carros a passar ali àquela hora.
Olhei para os dois lados e percebi que estávamos numa zona de mato e afinal não era um sinal vermelho mas sim uma paragem numa estação de serviço. Vi o condutor sair da cabine e trancar o transporte antes de se dirigir ao balcão da estação. Era a minha única saída, caminhar por essa estrada fora só me faria perder tempo, energia e nem saberia para onde iria.
Aproximei-me da estação e esfreguei os olhos até os sentir arder começando a ficar vermelhos e inchados. Lágrimas acomulram-se nos mesmos e corri para perto do homem e da mulher que se encontravam junto ao homem atrás do balcão.
"Por favor" Chamei com uma voz de choro fingida. A mulher olhou-me assustada enquanto os outros dois me olharam de alto abaixo sem saber como reagir.
"O que te aconteceu rapariga?" A senhora de cabelos louros aproximou-se apoiando uma mão nas minhas costas tentando auxiliar-me.
"E-eu fui assaltada e não sei como voltar para casa, estou perdida." tentei pronunciar no meu melhor inglês possível. Eles os três entreolharam-se até que a figura feminina falou de novo.
"Explica-me melhor o que te aconteceu querida, temos de chamar a polícia e-"
"Não!" Quase gritei em pânico. A polícia era a última coisa que precisava naquele momento. Tinha de contornar a situação o mais rápido possível, antes de me meter em sarilhos piores. "Por favor, eu só quero ir para casa alguém pode ajudar-me?" Olhei-os em suplício e o homem do balcão desapareceu para o interior da loja enquanto o outro de aproximou de mim.
"Onde moras minha querida?" De novo a loura questionou num tom doce e eu sorri-lhe forçadamente.
"Wolverhampton" Respondi sem demoras. Os dois entreolharam-se de novo e depressa a terceira pessoa regressou com um copo de água na mão.
"Toma, vai fazer-te bem" Só ao olhar para o líquido transparente no interior do copo me dei conta do quão cedenta estava. A minha lingua colava-se ao céu da boca, seca e desesperada. Aceitei o copo com um sorriso fraco e bebi tudo num só trago.
"Isso é muito longe daqui, como é que vieste aqui parar?" O homem do meu lado, que deveria ser o condutor do camião questionou-me demasiado perto de mim. Era careca, moreno e com peso a mais. trajava uma T-shirt verde manchada pelo seu suor.
"Eu não quero falar disso, por favor" Fingi de novo um choro e a mulher agarrou a minha mão livre com força.
"Pronto, pronto, eu estou a caminho de Stoke-on-Trent, Wolverhampton fica pelo caminho, posso deixar-te lá" Ela sugeriu e eu olhei-a alegre e aliviada ao mesmo tempo. Tinha sido mais fácil do que eu esperava, nem queria acreditar que a minha sorte estava mesmo a mudar, finalmente.
"Eu agradecia-lhe imenso" Acabei por suspirar e ela assentiu. Retirou-me o copo das mãos entregando-o de novo ao homem e agradeceu por mim.
Apesar de eu dizer que não tinha fome ela comprou-me uma sandes e um sumo para eu comer e beber. Depois envolveu os meus ombros com o seu braço e guiou-me até ao seu carro, um audi A3 preto versão cabrio que eu apreciei bastante.
Entrei para o assento de pendura e ela no do condutor ligando o autmóvel e guiando de novo para a estrada.
"Tens a certeza que não queres ligar a ninguém? Nem à polícia querida?" Ela insistiu. "Não queres falar sobre o que aconteceu?"
"Não, obrigada, eu só preciso mesmo de voltar para casa" tornei a mentir pousando a comida sobre as minhas pernas e encostando a cabeça ao vidro, sentindo o peso do sono sobre os meus olhos ser cada vez maior.
« "Está um dia lindo, não é verdade?" A mlher de idade questionou olhando-me com um sorriso. Acenei afirmativamente também a sorrir. Estava feliz toda a minha vida estava bem e parecia que nada o poderia estragar."No entanto, maus tempos se avisinham" Ela acrescentou soltando um suspiro profundo, o que me fez olhá-la espantada.
"Porque diz isso?" Aproximei-me de Emília e também observei a janela encarando a parada militar. Fitei o céu em busca de qualquer nuvém que indicasse mau tempo, mas o céu estava limpido e claro, preenchido pelos raios de sol fortes do verão.
"Nada, minha querida" Ela disfarçou voltando a sorrir para mim. "Bom, vamos embora, o seu irmão não quer que se atrase." Indicou-me a saída do escritório com amabilidade. "Prometa-me apenas uma coisa." Ela parou a meio do caminho obrigando-me a fazer o mesmo.
Fitei o seu rosto envelhecido e gasto pelo tempo e pela experiência. Ela fitava-me de forma séria e um travo amargo escorria dos seus olhos claros, o que por momentos arrepiou-me. Nunca a vira olhar-me de tal forma.
"Claro Nana" chamei-lhe pelo apelido carinhoso tentando aliviar o ambiente, em vão.
"Isto não é uma brincadeira." Ela quase que gritou duramente fazendo-me retrair e recuar um pouco. "Olhe para mim" ordenou levando dois dedos ao meu queixo obrigando-me a olhá-la nos olhos. "Prometa-me que seguirá sempre o que sente aqui." Fez pressão com a outra mão sobre o lado esquerdo do meu peito indicando o meu coração e eu sorri mais aliviada.
"Prometo" Aceitei antes de prosseguirmos caminho em silêncio. »
"São duas horas de viagem, tens a certeza que não queres parar para comer algo melhor que uma sandes?" A mulher loura, cujo o nome ainda desconhecia tornou a comentar. A luz do sol já se avizinhava entre os arvoredos que passavam por nós a alta velocidade.
"Tenho, obrigada" Respondi mais uma vez, mas ela não pareceu muito convencida. Ainda assim permaneceu calada aumentando o volume do rádio deixando a música quebrar o silêncio que poderia existir.
"Said her name was Georgie Rose
And her daddy was a Dentist" A mulher cantarolou fazendo-me olhá-la de sobrolho erguido. Ela riu um pouco. "A minha filha é fã deles, então passa a vida a ouvir isto, acho que acabei por decorar a música"
"Hm, quem são?" Questionei levando outro pedaço de sande à boca enquanto ela me olhava espantada.
"Que idade tens?" Ela questionou ainda com ar surpreso.
"19. porquê?"
(N/A: hehehe aqui está le primer capitulo ! Espero que gostem ^^ O Li ainda não aparece, infelizmente, mas receio que irá aparecer já no próximo hehehehe
espero que tenham gostado :D
xoxo)
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The Runaway |l.p|
Fanfiction"O meu país não é longe, não é do Oriente, nem pobre. É bonito e as pessoas sorriam. Fazia sol e as pessoas dançavam alegres. No entanto isso acabou. As muralhas de ferro e arame ergueram-se em redor das nossas fronteiras. Fechou-se ao Mundo. Erguer...
