Capítulo 4

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"Ótimo" Ele acabou por atirar mais feliz do que aquilo que eu esperava. "Então até amanhã, eu só devo chegar por volta do almoço e vou sair muito cedo mas não te preocupes, vou pedir a alguém que te deixe o pequeno-almoço." Preparou-se para sair do quarto.

"Mas-" Tentei protestar mas ele interrompeu-me.

"Até amanhã" Gritou já do corredor. Eu não respondi mais nada mas de certo não passaria o dia seguinte ali. Tinha de ir embora o mais rápido possível, nem sequer devia ter entrado aqui para começar, mas estava demasiado cansada e o meu corpo suplicava por uma boa noite de sono que não tenho à muito tempo. 

Acabei por retirar as roupas sujas e vestir a sua blusa que me ficava bastante larga. O meu corpo era muito pequeno em relação ao dele, dei por mim a pensar em como seria se eu estivesse nos seus braços, com ele a envolver-me protetoramente enquanto eu me deixava ficar encostada no seu peito que por sinal deveria ser bastante musculado e definido.

Decidi afastar esses pensamentos da minha mente pensando em tudo o que tem acontecido nos últimos anos. A minha vida tinha virado completamente e estou num ponto em que nunca me imaginei anteriormente. Pela primeira vez em todo este tempo estava deitada numa verdadeira cama, confortável e aconchegada. Isto fez-me pensar que este tal Liam pudesse ser o meu anjo da guarda e este pensamento fez-me rir de mim própria antes de cair no sono profundo. 

 «Deixei-me cair sobre o colchão e enterrei o rosto nas almofadas decorativas. A minha cabeça andava à roda com questões a sobrevoar a minha mente massacrando-a sem pudor. O que é que se estava a passar? Aquela simples situação estava a pôr em causa tudo aquilo em que acreditei até agora, não era possível aquilo ter mesmo acontecido. Porquê? Talvez o César tenha agido sem pensar, talvez tenha sido um mal entendido. Aquela não podia ser a verdadeira natureza do meu irmão, ele era rigoroso, severo e às vezes até um pouco duro demais com as pessoas, mas ele não seria capaz de fazer aquilo com a mulher que o criou, não podia.

Um batuque na porta fez-me despertar mas eu não respondi, deixando-me ficar exatamente na mesma posição. Não estava com humor para falar com ninguém, muito menos com os amigos emperuados do meu irmão. Mas ainda assim a porta foi aberta e de novo fechada com gentileza. Ouvi os passos dirigirem-se na minha direcção mas eu não liguei, talvez pensassem que estou a dormir e fossem embora. 

"Eu sei que estás acordada" A voz suave e masculina surgiu ao mesmo tempo que o colchão se moveu devido ao seu peso. Ageitei a cabeça sobre a almofada, colocando os braços por baixo da mesma, de forma a que ele pudesse ver o meu rosto e eu o seu. Fixei a sua figura esbelta a olhar-me com ternura e não consegui evitar sorrir. "Então pequena, que se passa? O Marcelo disse-me que chegaste muito transtornada." Ele colocou a mão sobre a minha perna e eu dei de ombros.

Pedro é um rapaz bastante bonito, de olhos claros e cabelos castanhos chocolate. Era alto de figura definida e sorriso encantador. Era o meu melhor amigo desde que me lembro e sempre me apoiou em tudo. O seu pai era um dos generais que trabalha diariamente com o meu irmão por isso praticamente ele vive connosco. Lembro-me de em crianças percorrermos os corredores do palácio de Belém com aviões de brincar nas mãos, de quando nos escondiamos na cozinha para roubar os chocolates para as cerimónias e eramos repreendidos pelas cozinheiras sempre que eramos apanhados. 

Mas desta vez a situação era diferente, eu não tinha a certeza do que vira e toda a minha cabeça estava um caos, não conseguia pensar direito e isso poderia distrocer factos sem necessidade.

"Nada de especial, estou só cansada, os meus treinos hoje foram muito cansativos e precisava de descansar" Menti sem o fitar. Detestava mentir, embora diariamente me ensinassem a fazê-lo de forma a parecer bastante convincente. 

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora