Capítulo 10

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Saí da cama empurrando os lençóis para o fundo da mesma e os meus pés quentes colidiram com a alcatifa fria. A minha pele arrepiou-se com o contacto mas ainda assim não liguei já que estava mais preocupada com o cheiro horrível que invadia aquela casa. A casa do Liam.

Estava feliz por ele ter insistido para eu ficar, na verdade. Sentia-me especial pelo facto de ele não ter desistido mesmo depois de o ter tratado mal e mesmo sem me conhecer direito. Ele tinha todas as razões para me achar uma idiota, mal criada e má pessoa, mas ele preferiu ignorar tudo isso e foi atrás de mim. Estava furiosa comigo própria por estar a ceder a tudo isto, mas ao mesmo tempo estava cansada de contrariá-lo e eu não podia aguentar ficar na rua para sempre. E tal como ele disse, eu não pretendia ficar muito tempo, era só até encontrar um trabalho e onde ficar.

Dirigi-me ao andar inferior da casa e o cheiro intensificou-se. Era horrível e toda a fome que eu tinha desapareceu dando lugar a enjoos.

“O que é que se está a passar aqui afinal?” Entrei na cozinha esfregando os olhos para ter a certeza de que estava a ver bem.

Liam estava encostado ao balcão da cozinha, de braços cruzados e cabeça baixa. Estava de boxers pretos e apenas um avental. Tenho de admitir que era uma imagem bastante cativante e tive de me concentrar para não ficar a olhar o seu corpo todo definido.  À sua frente, na mesa, estava um bolo quase todo preto e uma forma verdadeiramente estranha.

Ele finalmente ergueu o olhar na minha direcção e sorriu embaraçado e surpreso ao mesmo tempo.

“Desculpa, não queria acordar-te.” Pediu retornando à sua posição anterior. Dei alguns passos no interior da divisão sentindo os azulejos frios sob os meus pés e aproximei-me da comida, ainda confusa com tudo aquilo. Ouvi-o suspirar atrás de mim e tive de me conter para não rir. “O que é isto?”

“Bem, como tu fizeste aquele almoço espectacular eu quis… bem, ahm… pois” Ele parecia bastante atrapalhado e depois de descruzar os braços gesticulava bastante.

Acho que ele não conseguiu terminar a frase pois ele próprio não sabia o que dizer nem o que é que tinha feito. Mordi o lábio tentando não rir da sua expressão totalmente corada e o meu olhar saltitava entre ele e o bolo.

Ele era muito engraçado atrapalhado,  as suas feições ficavam engraçadas e ele procurava qualquer canto da divisão para não ter de me encarar nos olhos. O topo das suas bochechas ficavam rosadas e o seu sorriso era adorável. Além de que era bastante querido ele ter tentado fazer aquilo para mim, fosse lá aquilo o que fosse.

“Deixaste-me ficar em tua casa, achas que já não chega de fazeres coisas por mim?” Enruguei a testa sorrindo-lhe ternamente e peguei numa faca para cortar uma fatia. Depois de ter a fatia nas mãos acabei por provar.

“Então?” Ele questionou depois de algum silencio, curioso.

Eu saboreava a comida e fiz os possíveis para impedir uma careta já que aquilo estava mesmo horrível. O sabor do queimado misturado com o excesso de farinha palpitava na minha boca e eu tive de inspirar antes de engolir. Tinha vontade de cuspir e beber um copo de água num só trago mas eu não podia fazê-lo, ele ia sentir-se pior do que já estava e eu não queria faze-lo sentir-se mal, de todo. Por isso obriguei-me a sorrir-lhe.

“Não está assim tão…” Queria mentir mas ele olhou-me reprovador não me permitindo terminar a frase. Suspirei e pousei a fatia de novo no prato. “É, está mesmo horrível” acabei por admitir e ele voltou a descruzar os braços bufando desiludido. Voltou-me as costas apoiando-se no balcão.

“Ah, sou horrível” Rabujou e eu aproximei-me dele colocando a mão sobre o seu ombro. Ele olhou-me repentinamente e os nossos olhares ficaram fixos por largos minutos.

O seu mar de chocolate brilhava bastante intensamente e isso estava a hipnotizar-me. Era difícil de desviar daqueles olhos tão perfeitos, queria poder ficar a olhá-los assim para sempre. Sentia toda uma gravidade que me impulsionava na sua direcção, uma vontade enorme de o abraçar e de o reconfortar, por muito idiota que fosse a tua tristeza. Quero acreditar que aquilo tudo fosse apenas por me sentir tão grata pela sua hospitalidade.

“Vá, eu ajudo-te a fazer outro” acabei por desviar o olhar do seu sentido o meu interior arder em embaraço. Aquilo não podia voltar a acontecer.

Afastamo-nos finalmente e ele pegou na amostra de comida deitando-a para o lixo. Senti uma enorme revolta ao vê-lo fazer aquilo porque havia tanta gente a passar fome e ele estava a deitar um bolo inteiro fora, mas na verdade ninguém merecia comer aquilo, por isso não disse nada.

Por instinto agarrei a sua mão quando ele pousou o prato vazio sobre a mesa de novo. Mas ele não deveria estar à espera do meu puxão pelo que se desequilibrou e embateu contra mim e quase caímos os dois. A sua mão agarrou-se ao balcão e o outro braço rodeou a minha cintura impedindo-me de embater no chão. De novo os nossos rostos ficaram muito próximos e os nossos olhares fixos. Era a segunda vez nos últimos cinco minutos e isso estava a assustar-me.

Desviei o meu olhar para os seus lábios humedecidos e sem que o pudesse impedir mordi o meu próprio lábio inferior para me impedir de os encostar aos seus. As borboletas no meu estômago esvoaçavam deixando-me bastante nervosa e os choques que percorriam o meu corpo desde a sua mão posicionada na minha cintura, todas estas emoções estavam a deixar-me doida, eu tenho de me afastar dele.

Comecei a rir para tentar disfarçar todas aquelas sensações e vi-o adquirir de novo um tom rosado no rosto. Eu devia estar igual a ele por isso ele também se começou a rir e por fim soltou-me para retomarmos posições normais.

“Eu vou buscar os ingredientes” Liam proferiu entre alguns engasgos e afastou-se na direcção da dispensa.

Tive de me apoiar no balcão de novo e fixei a sua figura de costas para mim. Mas que raio acabou de acontecer? O que raio me está a acontecer? Eu não devia sentir nada disto e muito menos achar piada a tudo o que ele faz, simplesmente não é suposto. É o que ganhas por aceitares esta estúpida ideia de ficares aqui. A minha consciência fez questão de me relembrar.

Decerto isto não seria nada não tinha razões para me preocupar pois eu nem o conheço, mas ainda assim habituei-me a desconfiar de tudo o que me seja estranho e isto é definitivamente estranho. Era estranho sentir-me tão bem perto dele, é estranho sentir-me única quando ele me toca, sentir-me feliz quando ele me olha quando o conheci à pouco mais de três dias. Que raio se passa comigo?

(Tal como eu disse vim postar hoje hihi

desculpem lá mas a minha inspiração hoje estava mesmo frouxa e este capítulo está uma porcaria mas pronto, prometo que o próximo é melhor! 

não se esqueçam de votar e comentar :D

xoxo)

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora