Capítulo 19

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O som do relógio no seu tic tac infernal. A minha perna tremelicava em resposta ao meu pé palpitante que criava outro som irritante, mas que ainda assim parecia a única forma de me acalmar. Aquilo era errado, muito errado, mas era a única Solução para os meus planos. A sala onde me encontrava sentada era requintadamente decorada com toda a ilícita riqueza  criada por aquele homem. Em frente à uma estante, mesmo no centro da parede norte da divisão estava uma secretária, ocupada por uma mulher de cabelos louros caídos em cachos arianos pelos seus ombros. Possuía uns óculos discretos protegendo os seus olhos claros, enquanto tamborilava no seu computador. Na parede este, em frente ao sofá onde me encontrava, estava pendurado o relógio sonoramente azucrinante, assim como uma janela, tapada por uns estores castanhos (combinados com o soalho, devidamente protegido pelo tapete vermelho) impedindo a visão para o escritório do outro lado, e cujo a entrada ladeava a própria janela.

Já haviam passados 35 minutos desde que ali esperava (im)pacientemente. Não gostava de esperar, principalmente quando não sabia o destino dessa espera. O som das teclas pressionadas por 《Grace》 (segundo a placa alfinetada na sua camisa) também era uma boa fonte de alimentação a minha impaciência.

O meu coração palpitou contra o meu peito quando a porta foi finalmente destrancada mostrando duas figuras saírem do escritório. Uma engravatada, de olhar sério e sorriso estranho, outra mais jovem que eu tão bem conhecia.

"Já está tudo tratado Mel, já tens os teus documentos e amanhã podes assinar o contrato com o Simon." Liam imformou-me quando eu saltei do sofá e me aproximei deles. O homem abriu mais o seu sorriso e não pude deixar de reparar no seu olhar viajante para o meu peito. Quis gritar-lhe ou esbofetea-lo mas sabia que não o podia fazer, pelo que me limitei a erguer a mão para que ele a apertasse e assim ele fez.

Depois de Liam me entregar o envelope amarelo com todos os documentos contidos no seu interior despedimo-nos e saímos regressando a casa. Onde fiz o jantar e deixei algumas coisas prontas para o pequeno almoço de Liam no dia seguinte.

"Não estás feliz? " A sua voz irrompeu pela cozinha arrasando o pouco silencio que existia (quebrado apenas pelo bater dos talheres no prato). Um arrepio percorreu a minha espinha com a tonalidade preocupada que existia na sua pergunta. Ou talvez fosse apenas a sua voz que me criava estas sensações, ou talvez apenas o seu olhar posto em mim bastava para o meu corpo reagir de uma forma estranha.

"P-porquê essa pergunta? " fitei o comer no meu prato. Eu sabia que era incorrecto não olhar alguém  nos olhos quando falamos com essa pessoa, mas eu não me sentia pronta para o encarar dessa forma. Não que eu fosse mentir, porque de facto se eu respondesse que sim seria verdade, porque eu estou feliz. Não sei bem como, mas estou. Sempre que estou com Liam e vejo o seu sorriso meigo, a forma como ri desmazelado de piadas sem sentido, sempre que ele está feliz, eu sinto-me feliz. Mas por outro lado, uma parte de mim continua a puxar-me para a realidade e a mostrar-me que uma porção da minha vida não me deixa estar totalmente feliz . Mesmo que me esqueça dela, todos os dias antes de adormecer recordo-me dela, todos as noites esses pesadelos perseguem-me.

《Está tudo bem?》 Liam pergunta-me ao entrar no quarto e só quando sinto a garganta arranhada pelos meus gritos, eu entendo a sua pergunta.

"Não sei bem, acho que tenho um pouco de medo que te sintas infeliz aqui comigo." A sua resposta fez-me olha-lo de relance, surpresa. Puda ver o vermelho florir no seu rosto enquanto desta vez foi ele a fitar a comida, tentando disfarçar.

"Tens de parar de te preocupar tanto comigo Li, eu estou feliz aqui contigo." Afirmei com o tom mais carinhoso que consegui. Mais uma vez, não sei bem porque o fiz, mas sentia alguma necessidade em conforta-lo.

Pousei a minha mão sobre a sua, sentindo uma corrente eléctrica, escaldante mas ao mesmo tempo aconchegante, percorrer o meu corpo a partir do nosso toque. De imediato os seus olhos chocaram com os meus e eu senti-me obrigada a,morder o lábio para conter o desejo enorme que me estava a impulsionar para o beijar.

"Talvez me odeies por dizer isto, mas eu até estou feliz que tenhas fugido de casa, sabes?" A sua citação despertou-me do transe que me tinha prendido nos seus lábios carnudos e tão apetecíveis. Voltei de novo a minha atenção para o seu mar achocolatado.

"E-eu também estou." Foi a única que consegui balbuciar sentido o meu corpo incapaz de responder ou a minha mente capaz de criar um pensamento racional que fosse.

"Tu... não queres falar sobre isso?"

"Isso o que?" Questionei confusa com a sua pergunta. Embora suspeitasse da sua referência, continuava a desejar interiormente que ele não puxasse aquele assunto.

"Porque é que fugiste?" O meu coração apertou quando vi  confirmadas as minhas suspeitas. De novo Liam deixava-me a beira de uma decisão a tomar. Por um lado queria contar-lhe, dizer-lhe toda a verdade porque queria confiar nele, mas por outro (aquele que me parece sempre o mais realista) dizia-me que ele passaria a odiar-me e não hesitaria em entregar-me.

Soltei a sua mão e fixei o meu jantar sentindo o apetite fugir de repente.

" A minha família... e complicada." Queria contar-te mais, mas não posso.

"Tudo bem, não precisas de falar se não quiseres. Eu acredito que seja complicado." O rapaz pronunciou inclinando-se sobre a mesa para me poder beijar a face. Ri-me um pouco do seu gesto, ouvindo-o fazer o gesto, e encarei-o, vendo o seu rosto a alguns centímetros de distância do meu.

Todo o meu interior gritava em êxtase por aquele momento, sentia os nervos florirem na minha pele enquanto um enjoo percorria o meu estômago, mas não um mau enjoo, acho que são aquelas borboletas que tanto se fala. As minhas mãos tremelicavam e tive de agarrar a bainha do vestido com força para não as sentir dormentes. A respiração de Liam embatia na minha face e os meus olhos fugiram de novo para o rosa dos seus lábios entreabertos. De novo aquele fogo de desejo incendiou a minha linha de pensamento deixando-me apta apenas para o instinto, para o desejo.

As correntes eléctricas formaram-se e eu senti-me no céu quando os seus lábios, finalmente, chocaram com os meus. Uma parte de mim, aquela que ainda tentava dizer-me que aquilo era o maior erro dos meus erros, apagou-se por completo quando o moreno, sem desgrudar a sua boca da minha, contornou a mesa e apoiou as suas mãos na minha anca obrigando-me a levantar.

Senti adrenalina fervilhar no meu sangue aquecendo o meu intimo. Não havia mais dúvidas, este rapaz controlava-me da forma que eu mais tentei evitar. E pior de tudo e que eu gostava desse conta controle. Eu queria-o.

(okay princesas, a fic vai ficar mais curta do que aquilo que eu esperava, sorry. OU SEJA, a parte mais importante esta a chegar hihi.

desculpem a demora mas é que eu tive um bloqueio e este capítulo custou um bocado a sair. lamento x)

espero que consiga postar mais rápido agora porque não quero prolongar muito esta fic, sim? 

OBRIGADA POR TUDO, VOCÊS SÃO TIPO AWESOMES

xx)

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora