Capítulo 35

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Nem queria acreditar que ele havia recuperado o colar para mim. Coloquei-o de imediato ao pescoço sob o olhar atento dos homens à minha volta mas não me importei. A única recordação de uma das pessoas mais importantes da minha vida estava de volta para as minhas mãos e eu morreria com ela junto a mim. Os meus olhos encontraram os seus e um sorriso miudinho apareceu nos seus lábios, mas embora a minha felicidade pelo retorno daquele pequeno colar, não fui capaz de lhe responder com um sorriso igual. Continuava magoada com ele, continuava a não crer na sua história na totalmente e, mais que tudo, continuava a não conseguir acreditar na sua cobardia. A sua conversa só demonstrara a pessoa que ele é na realidade e isso era demasiado para mim. Como é que eu pude amar alguém que afinal nem sequer conheço? Uma pessoa tão desprezível que se deixou domar por seres ainda piores do que ele. É horrendo, é… nojento. Dei por mim a pensar se Liam acabaria por ser essa deplorável surpresa caso continuássemos as nossas vidas juntos. Mas depressa desfiz essa teoria e insultei-me a mim própria por sequer colocar isso, por muito pouco que fosse, na minha vida. Liam não era nada como Pedro. Tudo neles era diferente tanto por fora como por dentro. O inglês era carinhoso, divertido, espontâneo e a melhor pessoa que cruzou o meu caminho. Era fácil de ver a forma apaixonada em que me encontrava só por estes meus pensamentos, mas eles não se tornam menos verdade por isso.

Acabámos por sair da sala e a escolta levou-me até à zona dos embarques. As pessoas olhavam-nos pasmadas e curiosas. Alguns estavam furiosos por eu estar no mesmo voo que eles e outros tentavam chegar-se para fazer algumas perguntas. Mas eu estava mais preocupada em repensar, como uma pequena masoquista, neste último ano. Os seus lábios dispostos num sorriso meigo, o seu olhar de forma doce que me fazia derreter. Ele conseguiu derreter, na verdade, todo o gelo que existia em mim. Fez-me prometer aquilo que eu nunca prometeria a ninguém e fez-me ver que eu não estava tão só como pensava. Fez-me feliz.

“As coisas mais importantes nem sempre são aquelas que pensamos” Ele pronunciou fixando o pôr do sol para lá do vidro da janela. Os seus braços vieram ao redor do meu corpo e o seu queixo pousou no meu ombro levemente. Senti o seu calor inundar o meu e o conforto refletir-se nos meus músculos e sentimentos.

“Não?” Questionei padecendo de sabedoria suficiente para saber o que ia na sua cabeça. Ele deu um pequeno riso e entrelaçou a mão direita na minha.

“Não, às vezes estamos tão preocupados com uma carreira e assim que nem nos damos conta do quão felizes somos com uma simples pessoa.” Os seus lábios macios e aveludados foram de encontro à pele da minha face e foi a minha vez de rir com os arrepios que a respiração me provocou. Não deixava de concordar com ele, era impossível não o fazer quando eu estava a passar por isso naquele exato momento. Estava feliz e parecia um eterno sentimento. Talvez até perigoso demais pois parecia estar a aprofundar-se cada vez mais, chegando aos confins da minha sensibilidade e destruindo todos os rastos de frieza que haverá construído nos últimos anos.

As portas foram abertas para a entrada no avião e as pessoas começaram a tomar o seu lugar na fila. Eu seria a última pois teria um maior aparato e iria separada dos outros passageiros. Pareciam horas lentas e indecifráveis à espera que as pessoas finalmente subissem as pequenas escadas e entrassem no enorme transporte aéreo.

Alguns gritos e uma concentração de seguranças captaram a minha atenção. Olhei para o local de onde a agitação provinha e, instintivamente, senti o coração acelerar, como se aquilo tivesse possibilidade de ser dirigido a mim. Mas não eram protestantes frustrados, era algo que estavam a tentar ocultar de mim e quando dei conta estava a caminhar nessa direção.

Os guardas vieram logo no meu encalço e agarraram os meus braços obrigando-me a parar. Os gritos tornaram-se mais altos e vi toda a algazarra tornar-se cada vez maior fazendo com que os meus próprios sentidos reagissem à situação. Queria continuar a correr e descobrir o que se passava, ter a certeza de que nada estava errado ou que não era nada comigo. Mas de alguma forma sentia que o era e isso estava a tornar impossível ficar quieta no meu lugar. Apenas os homens com as suas severas e refinadas fardas me impediam de prosseguir o caminho, agarrando os meus braços e cintura de forma a levar-me para as escadas que estavam agora vazias.

“Vamos embora Maria, está na nossa hora.” Pedro gritou-me, ele próprio enlaçando a sua mão no meu braço fazendo os seguranças distanciarem-se um pouco. Olhei-o surpreendida e confusa ao mesmo tempo. Não estaria ele curioso? Ou será que ele sabia o que se passava?

À medida que a confusão ia crescendo a minha curiosidade crescia com ela e dei um safanão na mão do português desviando-me dos seguranças que voltavam a tentar segurar-me.

“Melanie!” O sotaque acentuado berrou por entre o alvoroço que eu queria decifrar. O coração parou e as veias gelaram no seu sítio quando a sua voz encontrou a minha audição e preencheu a minha mente com a sua imagem, a sua esbelta figura que tornava o meu mundo num lugar com sentido.

“Vamos embora!” Pedro interrompeu de novo a minha marcha puxando-me na direção do avião. Os meus pulmões perderam o ar quando reparei no que ele estava a tentar fazer e o pânico de entrar naquele avião tomou conta das minhas ações. A adrenalina propagou-se pelo meu sangue e os músculos enrijeceram criando uma força que nunca haveria tido antes.

Ergui o cotovelo procurando acertar-lhe na cara. As suas mãos soltaram-me mas fui impedida por uma barreira de seguranças que me impediram de novo.

“Vocês têm de me deixar ver o que se passa!” Gritei-lhes desesperada por encontrar o dono daquela voz e retornar para os seus braços. Sentir de novo o seu corpo proteger o meu e os seus lábios envolverem a minha alma num beijo emotivo que me levaria daqui para fora, de novo para a felicidade que tanto ansiava e desejava.

“Não estamos autorizados a deixá-la abandonar o espaço de embarque.” Um deles respondeu-me e nenhum se afastou a posição em que estava. Tentei passar por entre os seus braços mas de nada servia, eram demasiado fortes para mim, demasiado grandes para o meu pequeno corpo.

“Maria,” Pedro chamou-me de novo obrigando-me a encará-lo. Sentia o ardor estabelecer-se nos meus olhos e as pálpebras doerem. Semicerrei os olhos sem saber se estava irritada ou confusa com tudo aquilo, se estava ansiosa ou tenebrosa por todo aquele aparato. “tu não pertences aqui, este não é o teu mundo! Olha à tua volta, ninguém te quer aqui!” Apontou para os olhares desprezíveis que as pessoas colocavam nos seus rostos britânicos e estrangeiros quando se dirigiam a mim. “E só vais fazê-lo sofrer, se ele ficar contigo meio mundo vai odiá-lo, é isso que queres?” Agarrou ambos os meus ombros fazendo-me olhá-lo no fundo dos seus olhos. E foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça quando olhei, com olhos de ver, para o meu futuro com Liam.

Um futuro impossível e tenebroso onde só ele iria sofrer.

[Já tenho o último capitulo e o Epílogo escritos mas ainda faltam alguns capitulos... e lamento eu vou ter mesmo de apressar isto porque já percebi que a fic está a ficar uma seca. 

Obrigada pelos comentários princesas, e pelos votos claro <3

votem e comentem pls <3

xx]

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora