Capítulo 3

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"Fã? De quem?" Tentei questionar notando que os meus sentidos estavam cada vez mais alterados e instáveis. Tinha de sair dali o mais rápido possível, se eu desmaiasse à sua frente provavelmente ele chamaria a polícia e eu estaria completamente tramada. 

Respirei fundo fechando os olhos e tentando recompor-me, abrindo-os logo de seguida para encarar a face curiosa do rapaz à minha frente. O que é que eu estava a fazer? Eu tinha de sair dali, não era normal entrar numa mansão às escondidas e ficar a conversar com o morador certo? Porque é que ele ainda não me expulsou daqui? Será que planeia alguma coisa? E eu tenho de parar de fazer perguntas ou o meu cérebro vai explodir com tanta pressão.

Senti o meu corpo gelar e a visão a ficar distorcida. Não, eu tinha de sair dali. Como ele não disse mais nada voltei a virar-me para as traseiras. No entanto, perdi o equilibro e o meu corpo balançou para trás começando a cair. Por favor, não caias! Pedi para mim própria tentando agarrar-me a algo que estivesse próximo, mas sem sucesso. 

Quando esperava sentir o soalho frio por baixo das minhas costas uns braços firmes seguraram os meus e o meu peito colidiu contra algo forte mas aconchegador. Fui erguida novamente e o meu braço envolveu o que percebi ser o seu pescoço, enquanto o seu outro braço envolvia a minha anca mantendo-me em pé. Mas que raio? Ele é doido? Eu podia ser uma assassina, ou uma assaltante!

O rapaz misterioso encaminhou-nos para outra divisão com uma luz bastante mais forte que a anterior fazendo-me quase encadear. Fui sentada numa cadeira de madeira e suspirei de alívio por já não ter de fazer mais força sobre as minhas pernas. 

"Toma" a sua voz doce sussurrou bem perto de mim e senti algo quente na pele do meu rosto fazendo-me abrir a boca. Tentei concentrar-me naquilo que ele me estava a dar. Era algo fofo e macio, era bolo... de chocolate!

Demorou alguns minutos até que a minha consciência retornasse ao normal, além de terem sido precisas algumas dentadas na fatia de bolo para os níveis de açúcar serem repostos no meu organismo. 

"Há quanto tempo não comes?" Ele questionou no seu sotaque tipicamente britânico. Era tão acentuada, mas sabia tão bem ouvir, era amável e adocicado. Voltei os olhos das minhas pernas para os seus olhos castanhos. Eram bonitos e tinham um brilho intenso e contagiante. Ele entregou-me outra fatia, a qual comi com agrado e ele riu das minhas figuras. Que vergonha.

"D-desculpa" Pedi atrapalhada e senti as minhas bochechas arderem, deveria estar a corar bastante.

"Está tudo bem." Ele sibilou incentivando-me a continuar. Acabei de comer e limpei os lábios tentando erguer-me. Contudo as suas mãos pousaram no meu ombro obrigando-me a sentar de novo.

"Ainda estás muito fraca, espera um pouco." Sibilou calmamente com um sorriso fofo. Ele só poderia ser doido da cabeça, como é que ele trata uma estranha desta maneira? Alguém que invadiu a sua casa sem mais nem menos! 

O seu tom de voz calmo e sereno era fascinante, transmitia tanta paz e alegria que por momentos pensei ser feliz se a ouvisse todos dias. Senti as minhas bochechas corarem de novo ao ter estes pensamentos e ouvi uma cadeira ser arrastada. Quando olhei ele sentara-se à minha frente. 

"Estás muito pálida, há quanto tempo não comias nada?" Os seus cotovelos caíram sobre os seus joelhos empoleirando-se nos mesmos para me olhar mais de perto. Ponderei na sua questão e recordei que a última coisa que comera fora, de facto a sandes que a gentil mulher me dera para a viagem, há dois dias atrás.

"B-bem... dois dias, talvez?" Tentei recordar se assim o era de facto, mas provavelmente estaria correcta. O seu maxilar caiu demonstrando a sua expressão de espanto.

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora