Capítulo 33

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Os primeiros raios de sol eram ainda pouco visíveis sob o horizonte emaranhado em tristeza e conflito. Respirei fundo algumas vezes aquele ar fresco matinal e mirei o relógio algumas vezes antes de colocar a mochila às costas.

5.15h a.m.

“Tenham cuidado, os postos de vigia são de 2 em 2 quilómetros, vocês precisam de ter a certeza que é a altura das mudanças de turno.” A mulher, que dava pelo nome de Francisca e que fora amável o suficiente para nos dar abrigo durante aquela semana, avisou-nos com o seu sorriso caloroso que tanto apreciava.

“Nós vamos ter cuidado.” Pedro respondeu-lhe entrelaçando os nossos dedos. Depois de uma breve despedida, mais intimista do que deveria na verdade, acabámos por partir a pé em direção Este. Sentia o coração palpitar a cada passo e o estomago a embrenhar-se em nervos. Sei que estava preparada caso algo acontecesse, mas ainda assim não conseguia deixar de sentir a ansiedade escorrer nas veias e refletir-se no meu estado.

Finalmente encarámos o pequeno monte e o muro repleto de arame farpado.

“Como é que sabemos que não está eletrificado?” Interroguei enquanto olhava para a rapariga que nos acompanhava. Ela riu-se e apontou para o chão.

“Algumas das comunidades daqui fazem parte do movimento da resistência, criaram um dispositivo ligado a placas metálicas que anulam qualquer carga elétrica nos próximos 12 metros.” Respondeu-me com um trejeito indicando-me que também ela não entendia muito do assunto.

Quando bateram as 5.30h a.m. aproximámo-nos do muro e sugeriram que eu fosse a primeira a subir e passar o arame. Pedro deixou-me subir para as suas costas enquanto cortava as linhas e depois de o ter terminado sentei-me no muro para os puxar e ajudar a passar também.

O som das sirenes e os gritos dos homens do inferno fez a minha cabeça latejar e a força do meu corpo desapareceu dando lugar a tremeliques nervosos. Ainda havia muito pouca claridade e era difícil distinguir as caras dos militares que nos haviam cercado em redor do muro com as armas empunhas na nossa direção.

“Quietos” gritavam firmemente. E sem respostas ou sem me aperceber sequer disso, obedeci. O meu corpo estava paralisado e a única coisa que me limitei a fazer foi espreitar o outro lado da vedação, para onde caía a minha perna esquerda. Era um tanto alto, talvez demasiado, mas depenitivamente mais acolhedor do que as poses severas dos homens que nos ameaçavam.

“Salta, Maria, salta!” A voz estridente de Anita fez-me despertar de novo e olhei-a enquanto era agarrada pelo militar que lhe prendia os braços atrás das costas. Pedro também era agarrado e o meu instinto foi regressar para os ajudar, mas os protestos dos meus amigos não me deixaram fazê-lo.

“Saia imediatamente do muro,” um dos homens falou e ergueu a arma na direção da cabeça da minha melhor amiga. A respiração fugiu-me. “ou ela morre.” Terminou fazendo-me quase saltar para o lado português da vedação.

“Não! Vai embora, salta para o outro lado Maria!” A loura continuou a gritar com lágrimas gordas a escorrerem-lhe pela face.

Tinha nas minhas mãos a decisão da minha vida e qualquer umas das opções que fizesse, nenhum dos resultados me agradaria.

“Seu filho da puta!” Gritei sentindo o ódio entranhar-se nos meus sentimentos. Impulsivamente saltei na sua direção e se as correntes me tivessem permitido a minha mão estaria marcada dos dois lados da sua face. Mas os meus movimentos eram impedidos e a única coisa que pude fazer foi dar-lhe pequenos socos no peito e nos braços.

Depressa fui agarrada e afastada daquele ser hipócrita e horrível.

“Foste tu! Todo este tempo foste tu seu traidor! Ela morreu por tua causa, todas aquelas pessoas morreram por tua causa!” Berrei desesperada com a minha conclusão.

Ainda me custava a acreditar naquilo mas ele estava ali, depois de pensar que ele próprio também havia morrido, ele estava ali, de fato e gravata e ar brilhantemente apresentável com um pequeno sorriso presunçoso no rosto. “Eu pensava que tinhas morrido…” Os joelhos falharam e ao dobrarem-se deixaram o meu corpo cair no chão sobre si. As mãos nas minhas cochas e o rosto baixo. As bochechas eram marcadas pelo sal da água cristalina que me escorria dos olhos.

“Tarde de mais.” O som estridente e quebrante, como um estalar grave e abrupto, ecoou nos meus ouvidos e instintivamente gritei para que não o fizessem. Mas era tarde de mais.

O líquido encarnado escorria-lhe pela ferida e o corpo gelou com o desaparecimento da sua vida do mesmo. Perdi o sentindo das coisas pois o pânico tomou conta da minha consciência. Não sabia o que fazer, como agir ou como estar. Não sabia se haveria de ficar furiosa com aqueles seres, se triste pela morte dela, não sabia se haveria de saltar para Espanha ou voltar para tentar salvar Pedro ou simplesmente morrer com ele.

Tarde de mais.

A dor aguda atingiu o meu braço, de novo a seguir ao estalar crepitante. Perdi o equilibro, assim como a consciência. Mas uma coisa eu sabia: já não estava mais em Portugal.

“Dêem-nos uns minutos a sós por favor.” A sua voz soou pela primeira vez e, embora relutantes, os seguranças acabaram por concordar e abandonaram a sala deixando sozinha com aquele ser que poderia matar num piscar de olhos. A sede de o fazer queimava na minha cabeça e tive de cerrar os punhos com força para não me tornar numa assassina.

Surpreendi-me quando ele caiu de joelhos em frente a mim. “Não fui eu o informador.” Revelou-me calmamente e eu senti-me ficar confusa com a sua mudança de tom.

O sorriso presunçoso havia sido substituído pela expressão apaziguadora que sempre me cativou e admirei nele. A expressão que sempre amei.

 [Eu seiii está super pequeno, mas eu venho postar outro sexta-feira, prometo!

Obrigada pelos comentários princesas, a sério *-*

Espero que continuem a gostar e se não gostarem de algo digaaam <3

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xx)

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